A eleição do Conselho Municipal de Cultura de Manaus acontece no próximo dia 14 de julho. A cadeira do audiovisual é disputada por cinco profissionais do setor:  Liliane Maia, Michelle Andrews, Walter Fernandes Jr, Zê Leão e Zeudi Souza.

O Cine Set segue a série de entrevistas com os candidatos, em ordem alfabética, nesta quarta-feira (12) com Walter Fernandes Jr:

Cine Set – Como tem sido a sua atuação no audiovisual amazonense nos últimos anos?

Walter Fernandes Jr. – Trabalho com audiovisual profissionalmente desde 1997 quando entrei para a primeira turma de cinema da Faculdade Estácio de Sá, no Rio de Janeiro, e, logo em seguida, comecei a exercer a profissão. Trabalhei em quase todos os setores de um filme: fui assistente de câmera, som direto, assistente de direção, diretor, produtor e roteirista, ou seja, fui passando da área técnica até a criação. Durante 12 anos, trabalhei na Indiana Produções, onde fiz o programa Revista do Cinema Brasileiro exibido na TV Cultura, TV Brasil.

Muitos dos projetos em que atuei foram aprovados nas leis de incentivo públicos. Nisso, você vivencia problemas naturais quanto a captação destes recursos, a apresentação do projeto, questões orçamentárias. Esse foi um dos motivos para me candidatar por ter esta noção de avaliar projetos, algo que será importante para o futuro conselheiro.

Atualmente, estou trabalhando como roteirista na série sobre as músicas do Aldir Blanc intitulada “Imagem & Vinil”, sou instrutor de linguagem do audiovisual do projeto “Pipoca em Cena”, onde trabalho com crianças e adolescentes, e, por fim, coordeno o cineclube do Casarão de Ideias.

Cine Set – Como você avalia o trabalho do Concultura nos últimos anos?

Walter Fernandes Jr. –  O que poderia ser melhor é ter uma comunicação maior com a sociedade. Falta o Conselho se reunir um pouco mais com os profissionais que trabalham na área, os produtores locais. Precisa ter uma abertura. O conselheiro não pode ser eleito e as pessoas que o elegem não o veem mais. Você não sabe mais o que está se falando, o que está se discutindo. E isso em um momento que muito se fala em transparência no país é necessário.

Outra coisa que o conselho pode fazer, principalmente, agora, com a aprovação da Lei Municipal de Incentivo à Cultura, é uma listagem de empresas que serão possíveis patrocinadoras de projetos. Isso ajuda os artistas a saber vender suas propostas.

Cine Set – Para você, quais os maiores problemas enfrentados pelo audiovisual aqui em Manaus?

Walter Fernandes Jr. – Temos dois principais: formação de mercado de trabalho e formação de público. Como um conselheiro pode ajudar nisso? Normalmente, os editais pedem uma contrapartida. Geralmente, o artista escolhe uma oficina para pessoas da área, o que muitas vezes, acaba sendo um fardo.

Eu penso um pouco diferente: essa contrapartida pode ser o pontapé do filme, ou seja, você começa com a oficina e preenche as vagas de assistentes com os participantes desta aula. Daria, por exemplo, para delimitar o público da oficina apenas com jovens de diferentes zonas de Manaus, dando uma perspectiva profissional a estas pessoas com remuneração. Isso permite a formação tanto de público quanto do profissional, sanando um problema de investimento na área.

O Pipoca em Cena me faz acreditar nisso porque vejo garotos com muito potencial na periferia da cidade, mas, que acabam não passando daquela experiência rápida.

Cine Set – Quais são seus planos caso seja eleito conselheiro do audiovisual no Concultura?

Walter Fernandes Jr. – Defendo uma maior comunicação com a classe. Por exemplo, uma ou duas semanas depois da reunião do Concultura, deveria se fazer um encontro público com pessoas da área cultural e estabelecer um diálogo para apresentar as propostas.

O outro ponto é uma maior discussão dos editais para que se abranja mais a cidade. Estou aqui há três anos e, muitas vezes, vejo que a pessoa ganha o edital e chama gente de fora para trabalhar no projeto daqui. Isso quebra o que seria a formação profissional.

Algumas vezes, eu ouço: ‘não tem roteirista em Manaus’. Porém, como vai ter se você não dá chance? É preciso estabelecer um critério: os editais precisam ser mais fiéis a cidade, estabelecendo uma porcentagem maior de gente da cidade fazendo o projeto. Cinema também se aprende com a mão na massa. O edital não pode ser apenas fazer um filme: ele precisa ter o papel de formação profissional também.

Cine Set – Como você pretende manter um canal de comunicação com a classe caso seja eleito?

Walter Fernandes Jr. – Pelos meios virtuais, redes sociais são um bom caminho. O único problema das redes sociais é que o diálogo fica interrompido, ou seja, você pergunta um negócio hoje, o cara responde amanhã. De qualquer maneira, é inegável ter Facebook, Twitter, Whatsapp de apoio, mas, o encontro pessoal é fundamental. Muitas vezes, essa presença física contribui para evitar brigas ou discussões, as pessoas mediriam mais as palavras e a comunicação seria mais eficiente.

Da mesma maneira que o Concultura se reúne a cada 15 dias ou um mês, acho que seria possível manter o mesmo tipo de periodicidade com a classe.