Regra básica de filme de ação: coloque frases de efeito sobre coragem, determinação, história e superação a cada brecha possível. Isso permite ao diretor planejar o close de baixo para cima (o clássico contra-plongé) antes da cena de batalha, o compositor da trilha sonora poderá estourar os tímpanos do espectador com acordes em tons máximos e os atores terão a oportunidade de ter o momento de imortalidade. “Hércules” não foge à regra e distribui esses momentos sem economia. Nada surpreendente para uma produção repleta de clichês a cada instante de projeção.

No segundo filme do herói somente em 2014 (haja criatividade!), Hércules e o grupo de amigos mercenários terão que livrar os pobres coitados do reino da Trácia, na Grécia Antiga, dos malvados centauros. Paralelo a isso, o filho de Zeus com uma humana vai precisar lidar com um trauma referente ao passado familiar ocorrido após conseguir os 12 trabalhos clássicos da mitologia grega.

Baseado na história em quadrinhos de Steven Moore, o roteiro escrito pela dupla Evan Spiliotopoulos e Ryan Condal não faz a menor questão de ser uma colcha de retalhos de situações semelhantes de filmes épicos bem-sucedidos. Personagens como a princesa indefesa e amorosa com o povo ao lado do filho pequeno e futuro rei, além de Hércules como herói misericordioso com passado mal resolvido lembra demais “Gladiador”. A virada final da trama deixa ainda mais claro a ligação com o filme de Ridley Scott.

A falta de criatividade fica mais evidente ainda com a direção sonolenta de Brett Ratner. Conhecido por trabalhos razoáveis como a trilogia “A Hora do Rush”, “Ladrões de Diamantes” e o ótimo “X-Men – O Confronto Final”, o cineasta não consegue imprimir qualquer estilo narrativo ou visual à obra, limitando-se a fazer sequências semelhantes a blockbusters antigos como “Tróia” e “O Senhor dos Anéis”. Enquanto o figurino parece ser o que sobrou de épicos recentes, os efeitos especiais são pouco convincentes e a opção pela fotografia mais escura prejudica o 3D. Dentro desse cenário, chega a ser absurdo exigir dos atores alguma coisa além do medíocre, pois, com o protagonista sendo Dwanye “The Rock” Johnson, sujeito que se mantém em Hollywood muito mais pelo carisma e a impressionante força física do que por qualquer capacidade dramática, o negócio fica feio. Pobre John Hurt.

“Hércules”, entretanto, não chega a ser um filme dispensável como um todo. Se não funciona sendo ação, o longa, pelo menos, gera boas risadas. Frases como “quero ser marido e pai” vindo da boca do protagonista com as veias saltando para fora da tela ou “pessoas precisam de alguém para admirar, alguém que seja herói” clichê ambulante de filmes mitológicos distraem o marasmo. Isso sem contar o discurso sobre a parede de escudos, cobertor e saborear vitórias ditas por Hércules a milhares de soldados como estímulo pelo brilhante plano dele para derrotar os vilões. O resultado aparece minutos depois com mais da metade daquela gente morta e ele ainda brigando com o rei como se tivesse razão pelo fracasso estratégico. Genial!

Pena 2014 estar próximo do fim, pois, não teremos a oportunidade de conferir um novo “Hércules”.

Quem sabe 2015?

NOTA: 5,0