Era uma vez uma terra mágica aonde sonhos se tornavam realidade. Essa terra ficava na costa oeste dos Estados Unidos e era chamada de Hollywood. Lá, um senhor se especializava em transformar imaginação em obra de arte. Primeiro veio um camundongo engraçadinho chamado Mickey. O sucesso fez o senhor – vamos chamá-lo de Walt Disney – sonhar alto. Não demorou muito e chegou a Branca de Neve.

Com ela, vieram não só os sete anões, como a Bela Adormecida, a Cinderela, a Alice e seu país das maravilhas, o Timão, o Pumba e toda uma diversidade de pessoas, animais, plantas e objetos que fomos aprendendo a amar e…

Ok, vou parar com a palhaçada porque o negócio é sério. De uns tempos para cá, não tem sido difícil abrir um site de cinema (incluindo o Cine Set, claro) e ver alguma notícia do tipo “ator x vai protagonizar versão live-action de desenho y”. Algumas combinações são curiosas, outras estapafúrdias. Mas não é de casting que eu quero falar, e sim da indústria.

Vejam bem, não sou xiita a ponto de rejeitar todo e qualquer remake. Alguns funcionam e funcionam muito bem – ó o “Scarface”, que é tão diferente do original e tão bom quanto, só para citar um exemplo. No mundo dos clássicos Disney, é a mesma coisa. Contudo, a história aqui é diferente, já que Hollywood ainda engatinha para produzir uma grande adaptação – para cada “Cinderela”, existe um enfadonho “Alice no País das Maravilhas”, um forçado “Malévola” e um apenas OK “101 Dálmatas”. A mesma coisa para os filmes que não têm a batuta da Disney, mas que acabam sendo relacionados aos clássicos do estúdio – e isso envolve de “Hook – A Volta do Capitão Gancho”* a “Branca de Neve e o Caçador”.

Assim como os filmes de super-heróis nos dias de hoje e o terror slasher dos anos 90, é claro que o sucesso dessas produções faz com que outras saiam do papel. Nesse meio tempo, já foram anunciadas versões de “Pinóquio”, “Dumbo” e “Mulan”. O “A Bela e a Fera” estrelado por Emma Watson, Kevin Kline e grande elenco já parece tomar forma, e, ao que tudo indica, vamos ver uma princesa Ariel mais introspectiva com a leitura de Sofia Coppola para “A Pequena Sereia”.

Cate Blanchett como Lady Tremaine em "Cinderela"O lado bom

Assistir a uma Cate Blanchett é sempre maravilhoso, não importa o filme (ok, talvez ela tenha pesado a mão em ‘Indiana Jones’). Uma grande atriz dramática, Cate também é maravilhosa quando nos diverte, seja com a desgraça de “Blue Jasmine” ou as desventuras de “Vida Bandida”. Pensando nisso, que delicioso não é vê-la debruçada sobre a loucura e a maldade de Lady Tremaine (pois é, ela tem nome e não é ‘madrasta da Cinderela’!)? A mesma coisa vale para Glenn Close, que ainda tem a minha atuação preferida em um filme live-action da Disney com a sua Cruela DeVille. Talvez essa preferência venha do fato de que a Cruela era a vilã que mais me botava medo quando criança, mas não importa. Glenn é sempre maravilhosa quando louca, e a falta de limites da personagem lhe deu a chance de brilhar mais uma vez.

Se “Malévola” não é um grande filme, Angelina Jolie pode dizer que saiu ilesa, já que dá à fada/bruxa/vilã/mocinha a dose certa de ironia e vulnerabilidade e faz aquela história toda parecer crível. O mesmo vale para Charlize Theron em “Branca de Neve e o Caçador”. A outra bruxa da Branca de Neve, Julia Roberts, entrega uma atuação nível Faye Dunaway em “Mamãezinha Querida” – leia-se: tão ruim que é boa – e torna “Espelho, Espelho Meu” uma experiência um pouquinho inho inho inho menos dolorosa.

Conclusão: as vilãs da Disney são um ótimo passatempo para as atrizes, mas nos divertem e muito!

Once Upon a TimeO lado ruim

O problema é a saturação. Pergunto a vocês, meus amigos. Agora está tudo muito bom, está tudo muito bem, mas e daqui a alguns anos? Porque ó, todo mundo adorava o Johnny Depp e hoje ninguém mais aguenta. “Glee” começou cheia dos Globos de Ouro e terminou quase expulsa pelo público e o sonho de todo mundo é apagar “Homem-Aranha 3” da cabeça (sim, sou aleatória e dou exemplos completamente desconexos).

Ainda no tema das séries, sabem “Once Upon a Time”? Começou simpática, traz releituras de contos de fadas, as histórias se cruzam bem, mas e depois? Tem que meter a Mulan, tem que meter o crocodilo do Peter Pan, tem que meter a Bruxa Má do Oeste do Mágico de Oz e, claro, tem que capitalizar em “Frozen” e meter as irmãs mais fofinhas e adoráveis dos últimos tempos (a propósito, vamos fazer um bolão para saber quando ‘Frozen’ vira live-action?). Vira um samba do criolo doido, ninguém entende mais nada e fica por isso mesmo (e ainda teve spin-off no ‘País das Maravilhas’ e sabe…).

E viveram felizes para sempre…

Claro que não dá para saber como um filme vai sair até o momento que ele vai para a tela, e é por isso que eu sou a favor da produção dessas adaptações. Pura curiosidade, talvez mórbida!

Mas, tudo o que é demais enjoa. Quantos filmes tão ou mais legais não poderiam estar sendo produzidos com a verba que vão destinar para, sei lá, o Zac Efron viver o Pinóquio? A Sofia Coppola poderia produzir um filme bem mais interessante do que “A Pequena Sereia”? Por outro lado, vai que sai uma obra-prima? Tantas dúvidas, tantos nós nessa cabeça que nem sei mais o que digo.

Tudo isso é um retrato do oportunismo hollywoodiano em transformar a memória afetiva das pessoas em dinheiro – se bem que, que produto vindo de L.A. não é isso?

No final das contas, o que importa é o filme ser bom. Pode ser um terceiro “Scarface”, mais uma parceria de Johnny Depp e Tim Burton ou até um “Rei Leão” live-action (ok, acho que isso é uma má ideia). Se ele faz você ficar grudado na cadeira, te deixa com lágrimas nos olhos – seja de rir ou de chorar – e te proporciona toda a experiência que só um bom filme traz, dane-se o que a indústria faz ou deixa de fazer.

Peter Pan (2003)

*para quem quer conferir uma boa adaptação – sem o dedo da Disney – de um clássico que também foi sucesso em desenho animado, sugiro o bonitinho “Peter Pan”, de PJ Hogan, lançado em 2003.