De Bette Davis a “Assim Caminha a Humanidade”, Caio Pimenta traz os 10 resultados mais injustos do Oscar nos anos 1950.

10. GEORGE STEVENS EM MELHOR DIREÇÃO

Este TOP 10 começa com uma vitória que nem chega a ser absurda, porém, dois dos perdedores deixaram o resultado amargo.  

O George Stevens venceu Melhor Direção com “Um Lugar ao Sol”, noir muito bem conduzido em seu tom trágico e com um elenco repleto de estrelas fazendo grandes trabalhos.

Porém, a Academia tinha a oportunidade de premiar Vincente Minelli e toda a magia dos musicais no belíssimo “Sinfonia de Paris” como a ousadia do Elia Kazan ao trazer o universo amoral criado pelo Tennessee Williams para as telas e dar fluidez ao choque das atuações de Vivien Leigh e Marlon Brando.  

Se o Minelli chegou a vencer o Oscar de Direção pelo fraco “Gigi”, enquanto o Kazan ganhou por “Sindicato de Ladrões”. Já o George Stevens foi premiado novamente anos depois com “Assim Caminha a Humanidade”.

9. DAVID NIVEN EM MELHOR ATOR

O David Niven tinha uma ótima relação com a Academia tanto que apresentou o Oscar por três vezes. Justo em uma delas, em 1959, o britânico ganhou Melhor Ator.  

Em “Vidas Separadas”, chama a atenção que o Niven aparece por apenas 23 minutos de uma produção com 1h40.

Apesar do ótimo desempenho como um major decadente tentando esconder um segredo que manchou a reputação dele, a vitória no Oscar soou como um exagero.

A Academia poderia muito bem ter premiado o Paul Newman, excelente ao lado da Elizabeth Taylor em “Gata em Teto de Zinco Quente”.  

Isso teria poupado o Newman de esperar mais de três décadas para ganhar a estatueta. Mas, o que esperar de um ano horroroso como foi 1959 no Oscar? 

8. “A PONTE DO RIO KWAI” EM ROTEIRO ADAPTADO

“A Ponte do Rio Kwai” dominou a cerimônia de 1958 com méritos. Levou Melhor Filme, Direção com o David Lean e Ator com o Alec Guiness.

Teve uma categoria, porém, que o drama de guerra poderia ter sido menos “fominha”.  

O Michael Wilson e Carl Foreman levaram o Oscar de Melhor Roteiro Adaptado no filme baseado no livro homônimo escrito pelo Pierre Boulle.

A Academia, entretanto, deveria ter dado o prêmio para o Reginald Rose, de “12 Homens e uma Sentença”.

Seria uma forma de reconhecer uma obra-prima do cinema e que mostra a importância do contraditório em uma sociedade.

7. WILLIAM HOLDEN EM MELHOR ATOR

Ainda que não fosse o intérprete mais brilhante do mundo, o William Holden acumulou uma série de grandes projetos nos anos 1950.

Crepúsculo dos Deuses” e “Suplício de uma Saudade” foram os maiores destaques. O Oscar, porém, forçou a barra ao premiá-lo em 1954.  

Não que ele esteja mal em “Inferno Número 17”, mas, também passa longe de ser brilhante nesta bagunçada dramédia de guerra do Billy Wilder.

A estatueta poderia ter ido muito bem parar nas mãos ou do Burt Lancaster colocando seu lado galã para jogo em “A um Passo da Eternidade” ou até o Montgomery Clift, ator que estava no auge da carreira e havia perdido a categoria no ano anterior por “Um Lugar ao Sol”.  

Aqui, a divisão de votos entre atores do mesmo filme contribui para a vitória até surpreendente do William Holden.

6. “A VOLTA AO MUNDO EM 80 DIAS” VENCE MELHOR FILME

O Oscar 1957 foi sofrível e o resultado de Melhor Filme ilustra isso perfeitamente. 

Tentativa desesperada de Hollywood em manter atratividade do cinema na disputa contra a televisão, “A Volta ao Mundo em 80 Dias” era mais um espetáculo megalomaníaco do Cecil B. DeMille sem personalidade, jogando tudo sob os ombros dos atores para manter o interesse do espectador.

Mesmo sem ser o épico que insinua tentar ser, “Assim Caminha a Humanidade” está anos-luz na frente e deveria ter vencido tranquilamente.  

Chama a atenção que o George Stevens venceu Melhor Direção, superando o pobre do Michael Anderson que apenas cumpria as funções do De Mille. Porém, o lendário produtor deu jeito dele de ganhar a categoria máxima. 

5. HUMPHREY BOGART EM MELHOR ATOR

O problema de demorar a premiar lendas do cinema no Oscar é que, quando elas ganham, acabam vencendo pelo trabalho errado e tirando a estatueta de atuações marcantes. Isso aconteceu em 1952.  

O Humphrey Bogart já era uma instituição do cinema norte-americano com clássicos como “Casablanca” e “O Tesouro de Sierra Madre” no currículo, porém, a Academia ainda não havia dado o Oscar a ele.

A oportunidade veio com “Uma Aventura na África”, divertida parceria dele com a Katharine Hepburn em um filme bem despretensioso.  

Tudo muito lindo se não fosse ter entre os indicados Montgomery Clift, brilhante em “Um Lugar ao Sol”, e, claro, Marlon Brando, perfeito e redefinindo as atuações para o cinema em “Uma Rua Chamada Pecado”. Erro grosseiro do Oscar.

4. “AMA-ME OU ESQUEÇA-ME” VENCE MELHOR HISTÓRIA PARA CINEMA

Esse resultado aqui dói na alma de qualquer apaixonado por cinema. 

No Oscar 1956, a Academia premiou o insípido musical “Ama-me ou Esqueça-Me”, cinebiografia da cantora de jazz Ruth Etting e protagonizado pelo James Cagney e Doris Day, como Melhor História e Roteiro.

O filme superou o inesquecível “Juventude Transviada”, retrato atemporal de jovens na transição para a vida adulta enfrentando os pais e o sistema social que os aprisiona.  

A história do mestre Nicholas Ray pode ter ficado sem Oscar, mas, na boa, não fez a menor falta esta estatueta.

3. GRACE KELLY VENCE MELHOR ATRIZ

Em 1955, a Academia parecia estar diante de uma escolha de Sofia entre duas lendas de Hollywood ainda sem Oscar. E, infelizmente, ficou com o pior caminho.  

Mesmo que esteja bem como a sofrida esposa em luto pela perda do filho e lidando com o alcoolismo do marido, a Grace Kelly não chega a brilhar no mesmo nível da Judy Garland em “Nasce uma Estrela”.

Somente a canção em que desabafa no camarim era suficiente para a aguardada vitória. 

Era a primeira indicação da Judy Garland ao Oscar concorrendo nas categorias máximas – por “O Mágico de Oz”, a estrela venceu um prêmio para intérpretes juvenis, algo como revelação do ano.

Ela chegou a ser nomeada posteriormente em Atriz Coadjuvante por “O Julgamento de Nuremberg”, porém, novamente saiu de mãos vazias.

2. “O MAIOR ESPETÁCULO DA TERRA” VENCE MELHOR FILME 

Cecil B. De Mille e sua megalomania atacam novamente e vêm parar na segunda posição do TOP 10. 

 “O Maior Espetáculo da Terra” tenta fazer jus ao nome ao reunir um grande elenco, cenários gigantescos, centenas de figurantes.

Tudo a serviço de uma história monótona e pouco interessante.

A superprodução, infelizmente, levou Melhor Filme, superando o clássico “Matar ou Morrer”, tenso western do Fred Zinnemann com uma atuação brilhante do Gary Cooper e um roteiro precioso com um subtexto ligado ao maccarthismo.  

1. JUDY HOLLIDAY VENCE MELHOR ATRIZ 

O resultado mais injusto do Oscar nos anos 1950 também pode ser considerado um dos mais inexplicáveis.  

Em qualquer edição da cerimônia, a conquista da Judy Holliday seria questionável, pois, ainda que esteja bem, não é nada marcante.

Isso, porém, se agrava ao vermos as concorrentes, entre elas, a dupla de “A Malvada”, Anne Baxter e Bette Davis, esta no melhor desempenho da fantástica carreira, e Gloria Swanson, inesquecível em “Crepúsculo dos Deuses”.  

Adaptando Norma Desmond, elas são gigantes; o Oscar é que, muitas vezes, é pequeno.