Em 25 anos, o inglês Christopher Nolan se tornou um dos grandes nomes do cinema moderno, produzindo obras – junto com a esposa, Emma Thomas, e às vezes com o irmão Jonathan – que aliam narrativas complexas, manipulação do tempo fílmico, conceitos de ficção-científica ou fantasia, e um tom épico que a indústria hoje busca, para atrair o público para as salas escuras. Goste-se ou não dele – e eu confesso que gosto bastante – Nolan é um diretor que pensa grande, numa era em que o cinema arrisca ficar pequeno e insignificante na mente das pessoas. Só por isso, tem meu respeito.

Agora que nos preparamos para receber seu novo longa, o 12º., o aguardado Oppenheimer, baseado na história real do cientista que idealizou a bomba atômica, é um bom momento para revisitar sua obra e relembrar alguns momentos especiais que Nolan deixou gravados nas mentes dos espectadores. Sem mais delongas, este é o meu ranking dos filmes de Christopher Nolan, do pior para o melhor.

12. Tenet (2020)

Até imagino como o diretor tirou a ideia para este filme: por rodar seus filmes em película e mexer na moviola, ele consegue ver seus atores fazendo movimentos de trás para diante e esse deve ter sido o estalo. Aqui, Nolan tentou combinar os conceitos de viagem no tempo com longa de espionagem. Tenet tem um conceito intrigante e uma execução grandiosa, mas nada além disso: o conceito não tem força para carregar a narrativa, que fica bastante confusa – vi duas vezes, e ainda não consigo entender a trama do meio para frente, confesso. E os personagens e o tom da obra são muito frios, limitando muito o envolvimento. Quando Nolan nos diz em Tenet “não tente entender, apenas sinta”, ele acaba traindo a essência do seu próprio cinema, e prova que só um bom conceito não faz um bom filme.

11. Following (1998)

O longa de estreia do diretor é cinema de guerrilha total: feito com orçamento de uma pizza calabresa, e durante vários fins de semana em Londres com amigos, Following é um exercício um pouco limitado. Mas já demonstra ter ideias interessantes, e elas o conduzem: a ideia de um cara que começa a seguir as pessoas e se mete numa trama de suspense noir é um gancho irresistível que é bem explorado pelo diretor/roteirista. E a narrativa já é um pouco mais intrincada do que precisava ser, mas Nolan a domina. Se não está entre seus melhores trabalhos, ao menos indica a presença de um cineasta promissor e interessante.

10. Dunkirk (2017)

Este, eu mais admiro do que realmente gosto. Acho que sofre, em menor grau, de um problema que também aflige Tenet: como espectador, não me importo com ninguém ali. Reconheço que esse é o objetivo, é um filme no qual envolvimento fica em segundo plano. O que importa é a recriação grandiosa de um evento importante da Segunda Guerra Mundial, a retirada de Dunkirk e a interessante convergência temporal de três linhas narrativas que o filme executa com destreza. É um filme espetacular que não chega a ser uma grande obra, em minha opinião: um paradoxo, mas, sem dúvida, interessante e capaz de despertar assombro pela simples ambição narrativa que exibe.

9. Interestelar (2014)

Crítica: Interestelar, de Christopher Nolan

Em outros filmes, Nolan flertou com a ficção-científica; aqui, ele a abraçou, tendo como modelo ninguém menos que Stanley Kubrick e seu 2001: Uma Odisseia no Espaço (1968). O cara realmente é ambicioso… E não é que se sai bem? Interestelar pode não ter a complexidade ou o assombro de 2001, mas executa seu próprio fascínio nos mostrando grandes imagens postas na tela com um misto de inventividade prática e um pouco de computação gráfica. É uma ótima aventura com outro uso criativo do tempo no cinema, e quem dera mais filmes do cinemão comercial hoje em dia tivessem um pouco da sua ambição e criatividade.

8. Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge (2012)

O terceiro capítulo da bat-trilogia do diretor não fica à altura dos anteriores principalmente por ser muito inchado, mas é um filme de grandes momentos – a cena de abertura, toda a sequência do retorno de Batman, a saída do poço, a batalha final. Depois da apoteose sombria do anterior, seria muito difícil que Nolan superasse a si mesmo. Mas ele tenta, caramba, tenta MESMO, e embora segmentos específicos do filme não funcionem direito, é difícil não sentir o impacto da obra, que tenta dar um fechamento a um dos personagens mais queridos da cultura pop.

7. Insônia (2002)

Este aqui representou um grande passo para Nolan, e ele não decepcionou: neste remake do longa norueguês homônimo de 1997, ele dirigiu astros do grande time de Hollywood – Al Pacino, Hilary Swank e Robin Williams – e já demonstrou uma visão grandiosa – algumas das cenas das paisagens geladas de Insônia parecem antecipar cenas de Batman Begins. Temos aqui um jogo psicológico interessantíssimo, e muito bem conduzido pelos atores, e uma trama de suspense com camadas que aborda culpa e psicopatia. Bem que depois de Oppenheimer, ele poderia voltar a um suspense menor – em tamanho – como este, mas sem perder a ambição narrativa, claro.

6. Batman Begins (2005)

O primeiro filme da bat-trilogia de Nolan às vezes parece ser meio subestimado, mas é um filmaço – o primeiro a tratar o personagem com absoluta reverência, e ao mesmo tempo equilibrando isso com um tom grandioso como os dos antigos filmes de James Bond. Com uma atuação matadora de Christian Bale dando-lhe foco, esse foi o primeiro passo na respeitabilidade do subgênero super-herói em muito tempo, e sua influência ainda hoje é sentida em Hollywood.

5. A Origem (2010)

A Origem, com Leonardo DiCaprio

Com A Origem, Nolan impressionou o mundo – em muito tempo, tínhamos um filme original, não baseado em nada pré-existente, com um grande conceito, cenas impressionantes e que não tratava seu espectador como criança, ou idiota, ou os dois. Claro, o didatismo em alguns momentos aborrece, mas não consegue tirar o impacto de um filme que intencionou, e conseguiu, mostrar coisas ao seu público que ele nunca tinha visto antes, não exatamente daquele modo. Ainda hoje, A Origem exerce um fascínio próprio e talvez seja o filme mais “Nolan” de toda a sua carreira, para o bem e para o mal. Felizmente, o “bem” triunfa.

4. OPPENHEIMER

O filme sobre o criador da bomba atômica, e o físico que mudou o curso da humanidade, é Nolan num modo paradoxal: é um filme ao mesmo tempo épico, com momentos grandiosos, e outros íntimos, ambientados dentro de pequenas salas ou na mente do seu protagonista, um fantástico Cillian Murphy com uma apropriada cara de caveira. É um filme que exige um pouco do espectador, com uma montagem desconcertante e um poder inegável, mas que também exige igualmente do seu realizador, que habilmente alterna entre linearidades de memórias e tempos cronológicos. E o faz, entretendo o público e fazendo suas 3 horas passarem bem rápido. Sem dúvida, um dos seus melhores trabalhos, que pode até crescer em revisões.

3. Amnésia (2000)

O longa que revelou o diretor é um exercício noir fascinante, que não perdeu nada da sua força – ou do seu charme de bom filme independente de baixo orçamento – desde o lançamento. Em meio à uma trama de suspense que recompensa várias revisitadas – sério, rever Amnésia é praticamente requisito da experiência, nem tanto para entender a trama, mas para pegar os detalhes que teimam em aparecer a cada revisão – temos uma disposição de examinar o quanto as memórias são importantes para os seres humanos, e o quanto precisamos de fotos, objetos e às vezes algumas tatuagens, para nos lembrar quem somos todos os dias. Vê-lo no cinema no lançamento foi uma experiência marcante; revisitá-lo só comprova que Nolan é um diretor que merece atenção e respeito, e às vezes é injustamente desprezado só porque resolveu fazer trabalhos mais comerciais a partir daqui.

2. Batman: O Cavaleiro das Trevas (2008)

Há 15 anos este filme mudou Hollywood, e é o caso raro de produção que faz jus às suas expectativas e aos adjetivos que recebeu e continua recebendo. Aqui, Nolan filmou pela primeira vez em Imax, mostrando para o pessoal que endeusava 3D o que uma grande produção realmente significa. Ele também redefiniu o que blockbusters podiam ser – e no processo criou um que merece ser mencionado no mesmo tom que um Star Wars: O Império Contra-Ataca (1980) ou um Tubarão (1975), no sentido de que é uma sessão-pipoca perfeita. E de quebra, introduziu no imaginário um dos maiores – talvez o maior – vilões da história do cinema, e é de se lamentar que o destino não quis que Nolan e Heath Ledger voltassem a trabalhar juntos de novo. A perda, incalculável, é nossa.

1. O Grande Truque (2006)

Este, para mim, é o melhor longa do diretor até hoje. Uma narrativa intrincada – e que também é repleta de detalhes que surgem em novas assistidas – sobre obsessão, e que acaba servindo como uma declaração artística do seu narrador. No duelo entre os mágicos vividos por Hugh Jackman e Christian Bale, surgem no subtexto considerações a respeito de obsessão e sobre o que é mais importante, a vida ou a arte. Fala também sobre a ilusão da magia, das histórias e do próprio cinema. E o faz de forma envolvente, com grandes atores, um excepcional trabalho de fotografia, e também colocando o público para participar da experiência. Ou seja, é uma combinação exemplar de arte e entretenimento, do jeito que muitos grandes filmes são.