Cada dia mais presente na pauta mundial, a preservação do meio ambiente passa inevitavelmente pela Amazônia. O maior bioma do planeta, entretanto, acaba sendo rotineiramente retratado ou debatido de fora para dentro, dando pouca visibilidade e voz para quem mora na região. 

A animação amazonense “Cíclico” busca este espaço na luta para conscientizar a população local de forma lúdica e educativa. A produção traz como protagonista uma tampinha de refrigerante. Ao cair no igarapé, ela é levada pela correnteza a vários ambientes nativos da região. Desta forma, a tampinha se depara com outros lixos, evidenciando o impacto gerado por onde passa destes materiais descartados incorretamente. 

Selecionado no edital de patrocínio 2023 do Banco da Amazônia e do Governo Federal, o projeto da produtora local Curumim Filmes conta com direção de Ronald Oliveira e James Bentes, roteiro de Cris Dorneles, e a ilustração em Motion Graphics por Zetty Torres. “A ideia de fazer “Cíclico” surgiu da vontade de produzir uma animação com forte cunho socioeducativo que pretende trazer à tona a importância da preservação dos rios, matas e igarapés, ao mesmo tempo, em que evoca como nossas ações impactam diretamente o meio ambiente”, disse James. 

DA TURMA DA MÔNICA A TOTORO

Cíclico” deve estrear no segundo semestre de 2023.

“Estética orgânica, linhas fluidas, cores vibrantes, movimentos suaves e naturais”. Estas são as características principais previstas para a animação do curta-metragem, segundo James Bentes. Para tanto, duas lendas adoradas pelo público são referências em “Cíclico”: Maurício de Souza e Hayao Miyazaki

Do criador da Turma da Mônica, virá as cores vivas com o intuito de “captar a atenção de todo o público, sejam crianças ou adultos”, diz James. Porém, à medida que a história avança e a poluição começa a afetar o meio ambiente, cores mais escuras como marrom e cinza ganham vez para dar a sensação de um ambiente degradado. Já do mestre japonês do Studio Ghibli, “Cíclico” se inspira na relação entre a humanidade e a natureza, tão presente em obras como “Princesa Mononoke” e “Meu Vizinho Totoro”. 

A grande novidade mesmo ficará pela técnica escolhida para a animação, o Infinite Zoom. “É uma técnica que cria a impressão de inserção do observador no próprio lugar da “câmera”. É uma linguagem vanguardista, presumindo-se que o espectador tenha a impressão das suas próprias fronteiras de espaço, direção e sentido”. 

Confira abaixo um vídeo feito com Infinite Zoom: 

“O grande empenho da animação é correlacionar atitudes individuais e coletivas, trazendo um momento de reflexão junto ao público. É um trabalho pertinente, sobretudo quando as atenções do mundo estão voltadas para a preservação da região amazônica, o “pulmão do mundo”. As ilustrações remetem à realidade local, elementos que conversam intimamente não só com o ambiente em si, como também atinge uma ampla conscientização”, afirma o diretor Ronald Oliveira. 

LEVEZA E SIMPLICIDADE

Com direção de Ronald Oliveira e James Bentes, “Cíclico” traz roteiro de Cris Dorneles.

Foi no meio da pandemia, em 2020, e após cinco anos no teatro que James Bentes, ao lado da mãe Rosana Monteiro em parceria com Cris Dorneles e Ronald Oliveira, criou a Curumim Filmes. O minidocumentário “Vozes da Arte” com entrevistas de artistas de Iranduba sobre as dificuldades destes profissionais por conta do isolamento social e as estratégias usadas para se reinventar foi um dos primeiros trabalhos do grupo. 

Atualmente, a Curumim Filmes é parceiro do “Fafa Leva Cinema Pra Comunidade”, coordenado pela professora Fátima Neves. “Levamos a experiência do cinema para comunidades ribeirinhas mais isoladas. A partir desse trabalho, vendo a realidade, vendo as crianças, nos inspiramos a fazer “Cíclico” um produto com regionalidade, cuja educação ambiental atingisse os pequenos e impactasse o coletivo. Não temos trabalhos ligados à identidade e pertencimento assim por aqui”, revelou James. 

“Pretendemos consolidar a proposta do filme em um patamar interessante e com linguagem narrativa atual dentro do fluxo cultural, mantendo um público crescente e com acesso amplo junto à sociedade ribeirinha. Até por isso, a ideia do roteiro é ser leve, simples, claro, envolvente e criado de forma que não seja enjoativo, mas capaz de fazer pensar e mudar paradigmas”, disse Cris Dorneles. 

Em processo de finalização, “Cíclico” será lançado no segundo semestre deste ano.