“Presságios de um Crime” representa uma experiência divertida, mas, ao mesmo tempo, frustrante. Por um lado, temos um thriller de ação que funciona como um bom passatempo descompromissado mas, por outro, vemos uma história com grande potencial que não foi plenamente desenvolvida.

O filme conta a história dos agentes do FBI Joe e Katherine, os quais estão na busca de um assassino serial. Ao perceber que o criminoso parece estar sempre dois passos à frente da polícia, Joe resolve pedir ajuda do seu antigo parceiro, o médico John Clancy, o qual trabalhava juntamente com o FBI até a morte da sua filha, uma tragédia que o levou a se isolar de tudo e de todos. A ajuda de John, como vamos perceber, será de extrema valia, afinal ele possui dons psíquicos e consegue visualizar o passado e o futuro daqueles ao seu redor.

O elenco é praticamente o aspecto mais forte do filme, não fosse por um elo mais frágil. Jeffrey Dean Morgan (que mais parece o irmão perdido de Javier Bardem) e Abbie Cornish como os agentes do FBI exalam determinação e força, mas sempre com pitadas de vulnerabilidade que tornam seus personagens bastante humanos. Aliás, é um prazer especial ver Cornish com um papel central e entregando mais uma bela atuação. Essa menina foi roubada de uma indicação ao Oscar em 2009 por “Brilho de Uma Paixão” e ainda tenho esperanças de que Hollywood vai descobrir o seu talento e carisma (a premiação de Brie Larson este ano no Oscar mostra que a indústria pode sim valorizar rostos desconhecidos).

Mas, infelizmente, nem todo o elenco é perfeito, e que dor dizer que o elemento mais fraco é ninguém menos que Sir Anthony Hopkins. Aquele que, pra mim, já foi um dos maiores atores em atividade (a década de 90 que o diga), hoje simplesmente não consegue mais sair do piloto automático. Em sua defesa, acho que o britânico até tenta trazer alguma dignidade ao médico com dons psíquicos, mas a verdade é que ele se mostra inexpressivo até mesmo nos momentos mais dramáticos do personagem. Aqui, sem dúvida, o filme se beneficiaria de ter escalado um ator veterano menos conhecido, pois toda vez que Hopkins aparece em cena, ou seja, em 90% da projeção, somos distraídos pela atuação enferrujada e pelo corte de cabelo esquisito do eterno Hannibal Lecter.

A direção do filme fica por conta do brasileiro Afonso Poyart, responsável por “2 Coelhos”, no seu primeiro projeto internacional. Entretanto, o ritmo frenético e imagens alucinógenas adotadas por ele não exploram o potencial da história, a qual pedia um tratamento mais focado na atmosfera de suspense. Além disso, o roteiro nunca estabelece com coerência a forma como as visões do médico acontecem, alternando entre flashes desordenados e sequências exatas sobre o futuro da forma que for mais conveniente para a história, por mais absurda que seja. Quando finalmente descobrimos quem é o assassino e suas motivações, o qual é revelado sem grande alarde, o roteiro se esforça mas não consegue explorar com contundência temas como culpa, justiça e compaixão.

Como passatempo divertido que você pode assistir num dia chuvoso em casa na Tela Quente ou no Supercine, “Presságios de Um Crime” atende às expectativas e não é nenhum desperdício. Para os cinéfilos mais exigentes, porém, fica a vontade de revisitar clássicos do gênero como “Seven”, “O Silêncio dos Inocentes” e até mesmo esforços mais competentes como “Dragão Vermelho” e “Por Um Fio”.