ALERTA: texto contém SPOILERS

Com o lançamento da quinta e última temporada de “Gotham”, a DC Comics rapidamente escalou uma atração para direcionar seus fãs órfãos. Afinal, se em “Gotham” todo desenvolvimento do Batman e seus inimigos é mostrado, em “Titãs”, ele é uma breve memória para o Robin, compartilhando universos semelhantes. Com a proposta de relembrar as aventuras dos jovens heróis, o seriado abraçou o mundo sombrio da DC com uma temporada controversa, variando entre a promessa de boas histórias e uma equipe que não conseguiu ser protagonista de sua própria série.

“Titãs” inicia a partir de Rachel Roth/Ravena (Teagan Croft), a qual começa a apresentar estranhos comportamentos. Na busca por sua identidade e domínio dos poderes, a personagem encontra o detetive Dick Grayson/Robin (Brenton Thwaines), Kori Andrews/Estelar (Anna Diop) e Gar Logan/Mutano (Ryan Potter), todos com habilidades especiais, dividindo com Rachel os mesmo inimigos, os quais procuram a jovem na tentativa de trazer seu pai de volta à Terra para que ele cumpra o desejo de acabar com todo o Universo.

O enredo batido não fica apenas limitado à descrição acima. A própria produção assume a falta de originalidade e comete diversos erros na tentativa de esconder essa falha. Isto ocorre principalmente na criação da narrativa em que diversas histórias e personagens são inseridos com novas problemáticas sem nenhuma relação com o objetivo inicial dos Titãs, interrompendo a saga dos personagens principais toda vez que apresentava sinais positivos de avanço.

A sensação é de que a série passa mais tempo tentando encaixar os heróis no universo da DC do que apresentando suas aventuras ao público. Sem explorar os Titãs exatamente, várias histórias ligadas à figura do Batman seguem constantes até o final da temporada. Ninguém supera isso quanto o personagem sem rosto ou falas, principalmente, no último episódio no qual a narrativa passa 95% de seu tempo encaixando o Homem-Morcego na trama.

E isso é muito complicado porque as inserções são boas, mas não justificam a falta dos Titãs na série. Por exemplo, dentre as diferentes aparições, a de Jason Todd, o segundo Robin e substituto de Dick é incrível. Ver os dois personagens em ação, ambos como Robin e conseguir diferenciar suas personalidades foi um feito e tanto. Além disso, Hank e Dwan também foram ótimas aparições no início da série, porém, ficaram esquecidos por vários episódios até ganharem um envolvendo a origem de seus personagens e relacionamento, inclusive um dos melhores da temporada, que consegue mostrar muito sobre a construção de super-heróis e o paralelo com suas vidas pessoais.

A aparição de novos personagens passa a incomodar quando lembramos sobre em quem a série deveria focar. Mesmo cada um apresentando uma construção pessoal razoável, o visual dos quatro protagonistas destoa totalmente: enquanto Rachel e Dick usam roupas mais sóbrias e comuns, Kory e Gar esbanjam cores fortes, criando contrastes que tornam difícil encontrar uma harmonia no grupo. Falando em visual, os efeitos da série também não são seu ponto forte: para os poderes e visões de Rachel são utilizados recursos de forma mal feita, deixando várias cenas de ação boas com um ar tosco.

Voltando à problemática narrativa da série, algumas histórias paralelas conseguem ajudar a desenvolver seus personagens, principalmente no caso de Dick, mas devido à falta de espaço da saga principal, ela acaba parecendo um desperdício de tempo. Essa contrariedade dificultou também o ritmo da produção que ora apresenta episódios com três ou mais histórias diferentes ora se estende em duas linhas temporais. Talvez isto também seja o resultado da grande quantidade de pessoas envolvidas na concepção dos episódios (mesmo para seriados nos quais é comum possuir vários roteiristas e diretores), “Titãs” conta com três showrunners, 14 roteiristas e 10 diretores apenas para os primeiros 11 episódios, o que fica claro na diferença narrativa entre alguns capítulos.

No lado positivo, “Titãs” apresenta uma trilha sonora bem intuitiva. Para não deixar alguns momentos muito óbvios com falas, a música é aproveitada como recurso: exemplo disto é a cena em que o Chefe (Bruno Bichir) “perde” Rachel e vemos o personagem pensativo embalado pela letra “We’ll meet again, don’t know where, don’t know when”. Um trabalho muito bem realizado também é o da direção de fotografia, devido aos cenários e filtro escuros da série, a fotografia consegue trabalhar de forma excelente com a pouca iluminação, sempre aproveitando feixes de luz que reincidem sobre os personagens para ressaltar expressões faciais ou algum detalhe em evidência.

Outra boa surpresa vem da definição sombria utilizada pela DC na produção – a qual possui indicação de faixa etária para maiores de 16 anos – esse conceito sempre é muito utilizado para descrever a DC, tanto pela complexa criação de personagens quando pela estética vista em grande parte de suas produções na TV e Cinema. Entretanto, no caso de “Titãs” esta foi uma maneira de reformular a visão sobre seus personagens que anteriormente possuíam como referências as animações “Jovens Titãs” e “Os Jovens Titãs em Ação”, ambas visando um público mais novo.

As próprias cenas de ação são a verdadeira tradução desse universo sombrio. Com grande quantidade de sangue e violência gráfica, em nenhum momento os personagens são poupados de lidar com a consequência de seus atos, um bom exemplo disto é ataque sangrento que Mutano realiza na forma de tigre. Este personagem inclusive, sempre definido como o piadista do grupo é quem mais perde com esta sobriedade da série, que mesmo com sua presença para alívio cômico em cena, não deixa o lado sério de lado. Para além das sequências de luta, vemos também cenas de tortura e suicídio explícitos apenas para reforçar seu conceito.

Após uma reação tão negativa do público às fotos da série, acredito que “Titãs” não obteve um desempenho tão ruim quanto o esperado, entretanto, existem muitos aspectos falhos os quais definitivamente devem ser revistos para sua próxima temporada. Uma simples condensação e redirecionamento narrativo já ajudariam muito a resolver certas falhas, pois mesmo com apenas 11 episódios, os roteiros encheram a série de personagens e situações aleatórias, que além de desnecessárias também levam o foco da história para caminhos longe de seus protagonistas e do que o público realmente gostaria de ver.

Dica: Para quem está acostumado a pular os créditos na Netflix, o último episódio apresenta uma cena pós-crédito MUITO legal.