Todo filme precisa de um roteiro para conduzir como as coisas vão se desenvolver. Embora o roteirista não seja tão aclamado e prestigiado pelo público, ele é uma figura de extrema importância para a realização de boas produções.

Um roteiro bem trabalhado e preciso é fundamental para o andamento das atividades no set, já que ao mesmo tempo em que consegue auxiliar na parte financeira – alcançando financiamentos e enxugando gastos desnecessários na produção –, como arte, ele é essencial para o desenvolvimento dos outros elementos cinematográficos e, consequentemente, o sucesso do filme.

O roteirista é um contador de histórias e responsável por criar universos críveis e personagens que provocam reações emocionais e reflexões.  Os comportamentos provocados são ainda mais latentes quando o público consegue se identificar com a narrativa apresentada e é por isso que este artigo tem como foco apresentar e enaltecer 10 roteiristas de destaque da atualidade.

Elas têm colocado em discussão questões de gênero e raciais, que para além da representatividade, se calcam na veracidade. Dessa forma, quebram padrões estabelecidos e noções equivocadas do universo feminino.

1. Greta Gerwig

Greta encantou o mundo com “Lady Bird“. Mas antes de contar a história da menina que queria alçar voo para longe de Sacramento, ela já escrevia roteiros divertidos e honestos sobre a mulher contemporânea. Suas histórias mesclam a ficção e a realidade, afinal ela traz dramas do cotidiano – que muitas vezes nem chegam a essa categoria – com diálogos simples e calcados nas reações dos atores. Um exemplo disso é a primeira cena entre Christine Lady Bird (Saoirse Ronan) e sua mãe (Laurie Metcalf). Algo que chama atenção em seus roteiros é a maneira como as mulheres se relacionam umas com as outras. Gerwig costuma apresentar personagens que estão tentando se encontrar, entender seu lugar no mundo e assim compreender suas relações. Mas dentro dessa abordagem, há sempre mulheres que servem como guia e motivação no processo de amadurecimento, mesmo elas tendo suas falhas e imperfeições expostas durante a película. E isso já é suficiente para causar identificação e seus roteiros conquistarem espaço junto ao público e a crítica. Gerwig é alguém a sempre está atento as novas produções.

2. Anna Muylaert

Entrevista com Anna Muylaert

Olhar esse nome é relembrar Regina Casé dentro da piscina vazia comemorando uma vitória que seus patrões não experimentariam em “Que Horas Ela Volta?“. Val (Regina Casé) e Jessica (Camila Márdila) confirmaram o olhar narrativo de Muylaert e sua atenção especial para a política-social do Brasil. Em suas histórias, a roteirista gosta de remodelar a visão já estabelecida da temática, este é um dos motivos que a destacam quando se pensa em filmes sobre maternidade. As mães de Muylaert buscam a valorização como genitoras e também a desmistificação social sobre suas escolhas e o amor por seus filhos. Muylart também escreveu grandes sucessos da TV Infantil Brasileira como “Mundo da Lua”, “Castelo Rá-Tim-Bum” e “Menino Maluquinho”. Reforçando as peripécias da passagem da infância para a adolescência com retratos lúdicos e verídicos do coming-age brasileiro.

3. Gabriela Amaral Almeida

Pensar em cinema nacional de horror tem um nome: Gabriela Amaral. Com dois curtas premiados em vários festivais e dois longas-metragens interessantíssimos e viscerais (para dizer o mínimo!), a baiana usa o terror para evidenciar a gravidade do conflito social e da violência que permeiam o país. Em suas narrativas, a perda e o medo provocado pela ausência são talhados para causar tensão e nervosismo ao expectador. A roteirista realiza uma fusão entre os filmes trash das décadas de 80 e 90 com o cinema de arte, produzindo uma sensação desconfortável, mas que instiga a ansiar os próximos passos da trama. Amaral tem tudo para escrever mais páginas que marquem o cinema nacional.

4. Alice Rohrwacher

Cannes parece se agradar bastante de Rohrwacher. A roteirista italiana conquistou na edição de 2018 o prêmio de melhor argumento por “Lazzaro Felice” – produção disponível na Netflix – quatro anos após ter vencido o Grand Prix com “As Maravilhas”. Rohrwacher traz em suas páginas muito do realismo pelo qual o cinema italiano se tornou conhecido, acompanhado da mágica. Seus personagens têm um ar inocente e bucólico, por conta disso sofrem a brutalidade que o cotidiano lhes impõe. Enquanto ela se preocupa em mostrar a Itália campestre, longe dos grandes centros urbanos e históricos, há um discurso político latente sobre a situação do seu país. Sem dúvida, é um dos grandes nomes do cinema italiano contemporâneo.

5. Gina Prince-Bythewood

O estilo de Prince-Bythewood é leve e importantíssimo para discutir o feminismo negro. Seus roteiros possuem um tom um pouco sessão da tarde e isso os tornam acessíveis para compreensão e aceitação do público. A roteirista aborda questões ligadas a sororidade e a determinação da mulher negra. Atualmente, trabalha em “Silver and Black”, derivado de Homem-Aranha, tornando-a a primeira mulher negra a dirigir e roteirizar um filme de super-herói. A torcida é que seja tão incrível quanto “Pantera Negra”.

6. Lucia Puenzo

A roteirista argentina traz a discussão mudanças de gêneros, conflitos afetivos familiares e culturais. Puenzo costuma colocar as personagens femininas em situações de tensão e de segredos. Elas estão fragilizadas, mas necessitam ser fortes para protegerem a si e aos homens que supostamente deveriam ser sua fortaleza. O último projeto da roteirista é “Los Ultimos”, em que traz um mundo pós-apocalíptico em que a guerra pela água na América do Sul se instaura. O filme conta com a peruana Juana Burga como protagonista.

7. Adriana Falcão

Sabe aquelas comédias Globo Filmes dos anos 2000? Aquelas que realmente arrancavam risadas? Então, por trás de muitas delas está o nome de Adriana Falcão e se isso não te convence, ela é a responsável por adaptar o já clássico “O Auto da Compadecida”. A roteirista da TV Globo tem como principal característica a linguagem leve e carregada de sentimentalidade, que pode ser comprovada em suas contribuições em “A Mulher Invisível” e “Se Eu Fosse Você”.

8. Naomi Kawase

A escrita de Kawase trabalha com os conceitos de ausência e de perda. A diretora/roteirista japonesa traz para a produção suas experiências de vida, as quais são discutidas no roteiro como um aprendizado para lidar com o processo da dor. Seu último filme em Cannes, “Esplendor”, traduz bem essas sensações de perda.

9. Meg LeFauve

Seria injusto falar das roteiristas desta década sem citar LeFauve. A norte-americana é responsável por um dos filmes mais surpreendente, envolvente e emocionante dos últimos anos. Talvez as palavras certas para descrevê-lo sejam insano e surreal.  LeFauve é uma das grandes mentes a pilotar o roteiro de “Divertida Mente“. Esta é uma história difícil de esquecer e que consegue trabalhar de forma lúdica e inteligente a psique humana, sem precisar de recursos datados, apelativos e forçados. A roteirista também assina o roteiro de “Capitã Marvel”, a primeira super-heroína com filme solo na Marvel. Certamente, um nome a se acompanhar.

10. Ava DuVernay

Não incluí-la nessa categoria ao lado de tantas mulheres que também dirigem filmes, seria impróprio. DuVernay é uma roteirista essencial para a compreensão de questões raciais. Se Prince-Bythewood discute o assunto em seus filmes de maneira leve e comedida, ela mete o dedo na ferida. Não a toa que foi a primeira mulher negra a ser indicada ao Oscar por “Selma”, longa que também escreveu, mas não reivindicou crédito pelo roteiro. Seus trabalhos são indispensáveis para discutir o racismo estrutural.