Muito antes dos multiplexs dos shoppings centers, os cinemas de rua do Centro de Manaus foram referências de cultura e entretimento durante décadas – atualmente restou apenas o resiliente Casarão de Ideias. Durante os anos 1970 ao início do século XXI, as salas de propriedade de Joaquim Marinho levaram milhares de pessoas a conferirem o melhor da produção de Hollywood, brasileira e, sempre que possível, alguma obra do circuito de arte. Sempre, claro, acompanhada das inesquecíveis artes de Marius Bell. 

Esta história será relembrada na websérie “Sol, Pipoca e Magia”, do coletivo Planos em Sequência. Serão entre 10 a 11 episódios dirigidos por Rod Castro e Emerson Medina, dupla premiada no Amazonas Film Festival 2012 com o curta-metragem “Et Set Era”. A história de cada um dos cinemas – Chaplin, Oscarito, Grande Otelo, Carmen Miranda, Cantinflas (Cinema 2), Renato Aragão e Cinema Novo – será apresentada em cada capítulo.  

Haverá também episódios sobre a trajetória de Joaquim Marinho, como ele adquiriu os cinemas, a relação do público com as salas e outro focado em Marius Bell e suas artes. A expectativa é que as gravações possam ser nos locais dos antigos cinemas, mas, tudo depende, claro, da situação da pandemia da COVID-19 em Manaus.  

Contemplado no Edital Feliciano Lana, do Governo do Amazonas, através de recursos da Lei Aldir Blanc, “Sol, Pipoca e Magia” surgiu de um projeto de telefilme não realizado pelo coletivo. “Boa parte do material de pesquisa de 2016 estava focado nos cinemas do Marinho. Tivemos que readaptar a proposta, diminuir o escopo do original. Foi um raio que caiu duas vezes”, disse Rod Castro em entrevista ao Cine Set. 

QUEM FOI JOAQUIM MARINHO? 

Falar de cinema em Manaus é citar Joaquim Marinho. Nome importante da geração cineclubista dos anos 1960, o agitador cultural foi um dos principais nomes à frente do I Festival Norte de Cinema Brasileiro. Na época, ele estava à frente do Departamento de Turismo e Promoção do governo estadual.  

O surgimento da Zona Franca de Manaus despertou em Marinho a vontade de tornar a capital amazonense um polo cinematográfico. Se o sonho não chegou a ir para frente, pelo menos, a vontade de possibilitar a realização de filmes no Amazonas não terminou. Superintendente da Fundação Cultural estadual, ele apoiou filmes locais como “Ajuricaba – O Rebelde da Amazônia”, de Oswaldo Caldeira, e “Mater Dolorosa”, de Roberto Evangelista. 

A maior contribuição, sem dúvida, de Marinho para a cultura amazonense ligada à Sétima Arte acabou sendo as salas geridas por ele no Centro de Manaus. Com homenagens a grandes nomes da produção brasileira e mundial, os cinemas se tornaram febre nos anos 1980 e 1990 com lotações máximas e filas quilométricas durante o período do projeto ‘Eu Quero a Nota’, resistindo, inclusive, ao surgimento dos cinemas do Severiano Ribeiro no Amazonas Shopping. Porém, nos anos 2000, com mais multiplexs na cidade – Cinemark, Cinemais – a perda de espaço e público levou ao fim de uma era. 

INSPIRAÇÃO DO ‘CHEFE’ 

rod castro cinema amazonense

Rod Castro integra o coletivo Planos em Sequência.

 

Com passagem marcada na publicidade amazonense por importantes trabalhos e filmes premiados no AFF como “Et Set Era” e “A Lista”, Rod Castro viu a paixão pelo audiovisual surgir nos cinemas do Centro. “Cheguei em Manaus em 1981 e a minha primeira lembrança foi uma sessão de “E.T” no Cinema Novo. Assisti ao filme sentado no chão da sala lotada no colo de alguém. Sem dúvida, o Marinho foi o grande formador de cinema que minha geração teve”, disse.  

Durante a adolescência, Rod percorria as ruas do Centro – Joaquim Nabuco, Ramos Ferreira, Getúlio Vargas – para uma maratona cinematográfica de três filmes. Quisera o destino, o futuro diretor de curtas-metragens tivesse Marinho como mentor no início de carreira. “Por 10 anos, quase diariamente trabalhamos juntos em um programa de rádio. Escrevi colunas em jornais da cidade por indicação dele, o ‘chefe’, como o chamava. Nunca esqueci o que ele me dizia: ‘tenha sempre responsabilidade sobre aquilo que está falando’”, recordou. 

RESGATE DAS MEMÓRIAS MANAUARAS

Cine Chaplin foi inaugurado em 21 de abril de 1980 com “Bye, Bye Brasil”.

 

Além da homenagem a Marinho, “Sol, Pipoca e Magia” parte de outra inquietação de Rod: a memória sobre a história de Manaus. “O lance de se debruçar sobre a cidade vem mexendo comigo desde 2014 quando passei na frente da casa do meu avô, próximo à Santa Casa de Misericórdia de Manaus. Mandei um beijo em direção a ela e, quem passava pelo local, estranhou. Não faziam ideia de que ali antes era uma residência. Isso me fez despertar para o fato de que, ao chegar ao fim determina coisa, parece que ela nunca mais existiu”, declarou, salientando se sentir assim em relação à falta de conhecimento das pessoas sobre os clássicos cinemas do Centro de Manaus. 

“Temos que relembrar esta história de um cara que saiu de Manaus para conseguir contratos de exclusividade para trazer filmes na época em que estreavam. Quem era ele? Como conseguiu isso? Será que as pessoas sabem? Como eram pensados os projetos dos cinemas? Como trouxe esta tecnologia para cá? Como pensava cinema? É uma história recente que jogaram uma pá de cal. Planejo relembrar esta época”, completou Rod. 

PUBLICIDADE EM FOCO 

“Sol, Pipoca e Magia”, entretanto, não é o único projeto do coletivo Planos em Sequência. O grupo lançou, na última quarta-feira (17), a websérie “É Criativo”. A produção com 10 episódios retrata a trajetória do publicitário e ex-proprietário da Oana Publicidade, Edmar Costa. 

Com o apoio da Prefeitura de Manaus e do governo federal, por meio do Edital Prêmio Manaus de Conexões Culturais 2020 – Lei Aldir Blanc, a websérie conta a história de Costa a partir dos depoimentos de familiares, clientes, funcionários e amigos. A partida do interior de São Paulo para o início da carreira como radialista em Manaus, a aquisição da Oana Publicidade, as campanhas inesquecíveis e prêmios como o do Festival de Cannes são lembrados por quem viu esses acontecimentos de dentro. 

“Fazer a direção do ‘É de Criativo’ foi desafiador. Como é que eu vou conseguir retratar um cara que tinha várias camadas em áreas diversificadas e todas elas bem-sucedidas? Foi um grande prazer descobrir um personagem que era um ser humano bem querido, um ser humano sem igual”, destacou um dos diretores do projeto, Antônio Carlos Júnior. 

O codiretor, Emerson Medina, reforça o lado humano de Edmar Costa, que “se confunde com o profissional”. “Creio que Edmar obtinha essas conquistas porque ele tinha um genuíno interesse pelas pessoas, clientes ou não. Qualidade rara em liderança nos dias atuais”, afirmou. 

A direção da websérie é de Antônio Carlos Júnior e Emerson Medina, com direção de fotografia de Ricardo Hossoe, produção e entrevistas de Marco Antônio Ribeiro, Mônica Dias, Emerson Medina e Antônio Carlos Júnior, edição de David Wilkerson e Pablo Rotter, com finalização da Samambaia.me, trilha sonora de Diego Nogueira e direção de arte de Beto Coelho. Entre os entrevistados, estão os irmãos de Edmar – Edward, Edson e Ernesto Costa –, o músico Paulo Marinho, o cineasta Roberto Kahane, o empresário Jaime Benchimol e o piloto Antônio Pizzonia, entre outros. 

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