A Pandemia do Covid-19 foi/está sendo e sempre será um assunto delicado para todo mundo. Voltar à rotina de antes é difícil, pois o medo ainda impera e os protocolos de segurança, embora afrouxados, ainda estão em vigor e se fazem necessários. Bom, para a indústria do cinema foi uma questão delicada produzir filmes e levar entretenimento para o público sedento de alguma novidade que os tirasse do caos que estavam vivendo. Mas não devemos esquecer que, além de artistas (frisando a produção como um todo, desde os atores até os demais funcionários que fizeram a mágica acontecer nesse período) eles são humanos e trabalhar com pessoas em meio a protocolos drásticos, emoções afloradas, prazos e afins, certamente, não foi uma das melhores experiências possíveis.

É nessa pegada que “A Bolha”, nova aposta da Netflix dirigida por Judd Apatow (“O Virgem de 40 Anos”, “Ligeiramente Grávidos”, etc.) se enquadra. O diretor é famoso por suas comédias irônicas, absurdas e com alguma alfinetada social aqui e acolá. Aqui não é diferente. Entretanto, nunca foi tão difícil abraçar um absurdo. “A Bolha” é apenas um filme ruim com boa temática, alguns momentos interessantes e só.

Em meio à pandemia, a atriz Lacey (Karen Gillan) é recrutada por seu agente para reprisar o papel que lhe fez famosa na sexta parte de uma franquia de sucesso. Ela aceita e chegando ao set de filmagens, reencontra o elenco nada amistoso por não ter participado do quinto longa. Entre os novos atores, está Krystal Kris (Iris Apatow, filha do diretor e da atriz Leslie Mann), uma TikToker que não faz a mínima ideia do que está fazendo ali, mas sabe que sua participação no filme é importante, pois tem 120 milhões de seguidores. Sabe as famosas e irritantes dancinhas virais? Pois bem, estão lá! E, entre uma gravação de dinossauros voadores, tiros e muito desespero, “A Bolha” se encaminha do nada para lugar algum.

 ALFINETADAS DE CURTO ALCANCE

A alfinetada acerca das franquias intermináveis que não precisam de roteiro, apenas explosões para levar multidões ao cinema é persistente, talvez seja por isso que o filme peque pela falta de um bom roteiro. Ou até mesmo a invasão desses influencers que não são atores e estão ali para atrair o seu público com zero profundamente senão o entretenimento pelo entretenimento. E a convivência por meses no set de filmagens que, nem sempre, pode ser saudável. São questões que até causam certa reflexão, mas “A Bolha” apenas joga a ideia. E não há compromisso algum com credibilidade, complexidade e consistência. Apatow coloca todas estas questões em jogo e só. A alfinetada da alfinetada que, no fim, não deu certo.

Para piorar a situação, a produção tem um elenco muito bom que, possivelmente, está em seus piores momentos da carreira beirando a vergonha alheia: a já citada Karen Gillan (a Nebula de “Guardiões da Galáxia”), Kate McKinnon (“As Caça-Fantasmas”), Leslie Mann (esposa do diretor e velha parceira de guerra dele como em “Tá Rindo do Quê?”), Peter Serafinowicz (“Guardiões da Galáxia”) e três atores que precisam urgentemente de um novo agente: Maria Bakalova (“Borat: Fita de Cinema Seguinte”), David Duchovny (“Arquivo X”, embora ele tenha alguns trabalhos duvidosos, como “Evolução”) e Pedro Pascal (“Game of Thrones”). Justamente do chileno que provém os momentos mais embaraçosos da película; uma pena vê-lo tão deslocado desse jeito. Boletos devem ser pagos, não?

As participações do cantor Beck e dos atores Benedict Cumberbacth e James McAvoy arrancam umas risadinhas, porém você esquece na cena seguinte dos longos 126 minutos de uma comédia nonsense totalmente esquecível.

A impressão é que Judd Apatow se reuniu com amigos e propôs fazer esse filme e saiu “A Bolha”. Deveria ter assistido “É o Fim” do Seth Rogen e Evan Goldberg para, pelo menos, entregar um absurdo com certa como qualidade como o filme de 2013.

Fuja da bolha!

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