Dirigido por Peter Kerekes, “A Censora” aborda o dia a dia de uma penitenciária feminina em Odessa, cidade ucraniana. Misturando documentário e ficção, o filme tem como personagem principal Lesya (Maryna Klimova), jovem que recentemente deu à luz ao primeiro filho, tornando-se mais uma dentre as várias mães em reclusão.

Ao longo da obra, conforme vamos acompanhando a trajetória de Lesya, também somos apresentados a relatos reais de prisioneiras do local. A parte fictícia de “A Censora” parece reunir um compilado destas histórias descritas pelas mulheres. As entrevistas acontecem na sala de Iryna (Iryna Kiryazeva), agente de segurança responsável pelas detentas, a censora a quem o título relaciona.

Nesse emaranhado de relatos, alternando entrevistas e o desenrolar narrativo de Lesya, a obra tece comentários sobre maternidade, machismo, e violência. Chama a atenção a frontalidade em que são colocadas as presidiárias em relação à câmera, como se tomássemos, enquanto espectadores, o lugar da censora que faz as perguntas.

Esse efeito busca uma aproximação daquelas mulheres. Seus filhos podem ser visitados duas vezes por semana, sempre com a presença de uma agente. As cenas de interação entre as mães e as crianças são sempre emotivas. É na possibilidade de rompimento desse laço já abalado que o sobrevive a tensão do filme. 

E é nessas brechas que a relação de Iryna e Lesya vai se construindo. Uma mulher presa, sem relações com familiares e uma agente carrasca, embora leal, sem perspectivas de constituir família. Iryna observa de longe a vida de Lesya. Ouve, secretamente, as conversas com as visitas que a detenta recebe. Assumindo uma posição de vigilância quase prazerosa.

O maior problema de “A Censora” é sua falta de clímax. A partir do momento em que o filme abraça mais essa abordagem emotiva e busca um desfecho tradicional, a falta de cuidado em potencializar os momentos de ruptura da obra, arrefece um pouco seu impacto final.

Texto publicado na cobertura do Festival Olhar de Cinema 2022.