Logo no início de “Bar Doce Lar”, título horroroso no Brasil para o filme disponível no Amazon Prime, JR diz gostar de viver na casa do avô ao contrário da mãe. O motivo: a presença de muita gente no local. Tal fala, entretanto, ganha um contorno maior para além da ingenuidade infantil, pois, somos informados mais adiante que o nosso protagonista cursa Direito, trabalha com jornalismo e tem o sonho de virar um escritor, profissões em que as relações humanas são peças fundamentais. 

Curioso, porém, como George Clooney, diretor do longa, não chega a compreender totalmente esta premissa. Em mais um passo em falso de uma carreira outrora promissora (“Boa Noite, Boa Sorte” e “Tudo Pelo Poder”) e, agora, em claro viés de baixa (“Suburbicon”, “Caçadores de Obras-Primas” e “O Céu da Meia-Noite”), o astro se mostra sem o cuidado e a paciência suficiente para compreender quem são aquelas pessoas, as relações entre elas e o universo da trama em sua essência, gerando uma frieza onde o intuito era exatamente o oposto. 

Apesar dos inúmeros personagens de fácil identificação com o público pela familiaridade dos tipos apresentados, “Bar Doce Lar” fica na superfície de todos os principais relacionamentos de JR com desenvolvimentos pela metade. A importante relação com a mãe (Lily Rabe) vai e vem na história sem grandes pontos de impacto nem mesmo quando se revela um grave problema de saúde dela, assunto, aliás, que some a partir de um determinado momento. Se o romance já na fase adulta não possui charme ou encanto, perdido em uma tensão de classe social mal desenvolvido pelo fraco roteiro de William Monahan (“Os Infiltrados” realmente parece ter sido um acidente), dá pena ver Christopher Lloyd, após um belo momento que poderia tê-lo alavancado, praticamente sumir de cena. 

Ponto central das motivações de “Bar Doce Lar”, o complicado relacionamento frustrante de JR com o pai (Max Martini) não traz absolutamente nada de diferente do que já fora visto tantas e tantas vezes em outros e melhores filmes do gênero. Para piorar, o filme nunca parece compreender ou tentar se esforçar em nos aproximar do protagonista, agravado pela escalação de Tye Sheridan, ator que pode ser tudo menos carismático. Somente Ben Affleck como o simpático tio consegue tirar o longa do marasmo ao se contrapor ao pai de JR e ser o elo entre todos ali na trama. 

Clooney tenta disfarçar esta frieza com uma trilha sonora roqueira desfilando a cada cinco minutos, uma direção de fotografia elegante de Martin Ruhe e a direção de arte charmosa dos anos 1970 e 1980 conduzida por Kalina Ivanov. Tudo isso, porém, insuficiente para a falta de emoção, fatal para um longa como “Bar Doce Bar”. 

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