Caio Pimenta analisa como fica a corrida do Oscar 2022 com os resultados do Globo de Ouro, as indicações ao SAG e a revelação das pré-listas do Bafta.

GLOBO DE OURO 

O prêmio da Associação de Imprensa Estrangeira em Hollywood nunca foi uma prévia do Oscar e, em 2022, o evento tem menos peso ainda por conta dos escândalos que todo mundo sabia, mas, que somente resolveu despertar no ano passado. 

Sobre a cerimônia deste ano, o Globo de Ouro foi previsível em grande parte. 

“Ataque dos Cães” superou “Belfast” e levou Filme de Drama e Direção com a Jane Campion. O Kenneth Branagh só levou para casa o prêmio de Roteiro. “Amor, Sublime Amor” dominou nas comédias/musicais vencendo Filme, Atriz com Rachel Zegler e Coadjuvante com Ariana DeBose.

Se o Will Smith, o Andrew Garfield e o Kodi Smit-McPhee confirmaram o favoritismo, a Nicole Kidman foi a grande surpresa em Melhor Atriz de Drama. De resto, tudo conforme o esperado: “Encanto” em Animação, “Drive my Car” em Filme Internacional, “No Time to Die” em Canção Original e “Duna” em Trilha Sonora.

Destes resultados todos, é possível constatar que “Ataque dos Cães” se consolidou de uma vez por todas na corrida de Melhor Filme. Teve um período em novembro, dezembro que o western da Jane Campion ficou por baixo, vendo “Belfast” avançar bastante, porém, este início de 2022 tem sido ótimo para o longa.  

O mesmo dá para dizer de “Amor Sublime Amor”: a produção do Spielberg driblou todas as desconfianças e tomou a dianteira para ser o musical da temporada, superando o Lin-Manuel Miranda com o seu “Tick Tick Boom”. Apresenta tendência de alta e pode chegar como líder de indicações no dia 8 de fevereiro. 

A única grande novidade veio mesmo com a Nicole Kidman. E aqui pode simbolizar um grande ponto de virada nesta temporada, afinal, sabia-se que a atriz de “Apresentando os Ricardos” seria indicada, porém, imaginá-la vencendo soava improvável até pelo fato do filme não ter sido tão bem recebido assim pela crítica e pelo próprio público.  

Se a vitória no Globo de Ouro poderia ser apenas mais um ponto da curva da premiação como ocorrera com a Andra Day em 2021, o SAG, porém, acabou clareando mais o panorama da corrida. 

SAG 2022 

Afinal, em Melhor Atriz, o sindicato dos atores dos EUA reservou a maior surpresa das indicações. 

A Nicole Kidman, Olivia Colman, Jessica Chastain e a Lady Gaga confirmaram a presença delas, sendo indicadas conforme o esperado. A novidade ficou pela inclusão da Jennifer Hudson, por “Respect”, e a ausência da então favorita Kristen Stewart, de “Spencer”.

Aqui, a gente pode tirar quatro conclusões: 

A primeira: nunca, em hipótese alguma, jamais descarte atuações vindas de cinebiografias. Podem ser filmes esquecíveis, mais do mesmo, ruins até, mas, temporadas de premiações são sempre simpáticas a elas. Isso explica a presença da Jennifer Hudson, por “Respect”. 

Segunda: sinal praticamente vermelho para Alana Haim, Penélope Cruz, Tessa Thompson e Emilia Jones. Somente a Rachel Zegler pode ainda bagunçar essa corrida.

 

Terceira: Kristen Stewart está em apuros. De candidata favorita à estatueta, agora, ela aparece até mesmo com a vaga ameaçada entre as cinco finalistas.

É verdade que, nos últimos quatro anos, sempre houve um nome diferente da lista do SAG para o Oscar, porém, nunca uma atriz não indicada no sindicato ganhou o prêmio da Academia, incluindo, aqui aquela confusão toda da Kate Winslet, em 2009.

Logo, esta esnobada sepultou a chance da Princesa Diana de “Spencer” em ganhar a estatueta dourada no dia 27 de março. 

Quarta: com a Kristen Stewart murchando, a vaga de favorita passa, neste momento, para as mãos da Nicole Kidman.

Ela é uma atriz admirada pela indústria com uma carreira sólida, admirada pela crítica e público, sem um Oscar há mais de 20 anos e fazendo um ícone da televisão norte-americana, algo amado por Hollywood.

Lógico que até o Oscar esse panorama pode mudar, mas, que a semana dela foi perfeita, isso não dá para negar. 

Mas, Melhor Atriz não foi a única bagunça que o SAG fez na temporada de premiações não. 

Em Melhor Ator, Andrew Garfield, Denzel Washington, Will Smith e Benedict Cumberbatch ganharam a companhia inesperada do Javier Bardem, de “Apresentando os Ricardos”, enquanto a dupla de “Belfast”, Ciáran Hinds e Jamie Dornan, dançaram em ator coadjuvante – melhor sorte para Ben Affleck, o Bradley Cooper e, infelizmente, Jared Leto. Já em Atriz Coadjuvante, a Aunjanue Ellis foi preterida pela Cate Blanchett, de “O Beco do Pesadelo”.

Vamos por partes: a presença do Javier Bardem só comprova como “Apresentando os Ricardos” caiu no gosto do sindicato dos atores, o que é até previsível pelo assunto do filme.

Hoje, ele passa o Peter Dinklage, de “Cyrano”, para esta quinta vaga aproveitando o embalo da produção do Aaron Sorkin e da parceria dele de cena, Nicole Kidman. Porém, ainda não o cravo entre os indicados. 

Ator coadjuvante segue um mistério: ok, temos Troy Kotsur, Kodi Smit-McPhee e o Jared Leto garantidos – foram nomeados tanto no SAG como no Critics Choice e na pré-lista do Bafta.

Como venho apontando há algum tempo, Bradley Cooper é queridíssimo na indústria e, mesmo com um pequeno considerado muito pequeno, acho que chega sim indicado a este Oscar até como uma forma de reconhecer o elenco de “Licorice Pizza”.  

Por fim, tem a última vaga que deve ficar entre os atores de “Belfast” e o Ben Affleck: Hinds e Dornan podem dividir votos e ajudar o namorado da Jennifer Lopez, porém, “Bar, Doce Bar” está mais do que apagado nesta temporada, enquanto todo mundo viu o longa do Branagh.

Cabe à Focus Features ajustar a campanha e decidir em quem focar nesta reta final para as indicações ou correr o risco de repetir o que houve no SAG. 

Em Atriz Coadjuvante, a Cate Blanchett achou esta vaga de última hora, tirando a tranquilidade da Aunjanue Ellis. Ainda assim, pela consistência desde o início da temporada, vejo a atriz de “King Richard” com mais chances de se recuperar. Para mim, a Blanchett duela com a Ruth Negga por esta indicação. 

E chegamos à categoria de Melhor Elenco, onde o SAG fez besteiras épicas. 

Como previsto, “Belfast”, “Coda” e “Não Olhe Para Cima” foram nomeados, enquanto “Ataque dos Cães” e “Amor, Sublime Amor” ficaram de fora para dar lugar aos questionáveis “King Richard” e “Casa Gucci”.

Sobre a ausência do musical do Spielberg, a imprensa americana aponta que houve problemas com screeners enviados pela 20th Century Studios para os votantes e isso atrapalhou a campanha do filme, porém, não sei se isso coloca muito por conta da indicação da Ariana DeBose. 

A esnobada, entretanto, não me parece alterar a força de “Amor, Sublime Amor” ao Oscar assim como “Ataque dos Cães”. Vale lembrar que vencedores recentes – “A Forma da Água”, “Green Book” e “Nomadland” – também não foram nomeados em Melhor Elenco no SAG. 

Porém, o longa da Jane Campion fora da categoria com os três protagonistas nomeados individualmente – Benedict Cumberbatch em Ator, Kirsten Dunst e Kodi Smit-McPhee em coadjuvante – não faz o menor sentido. Deixa uma impressão que vale mais você ter elencos numerosos como é o caso de “Casa Gucci” do que ter um elenco enxuto, mas, em nível altíssimo. 

Nesta confusão, quem se deu bem foi “Belfast”: a produção do Kenneth Branagh chega como favorita para levar a categoria, vencendo um dos prêmios chaves rumo ao Oscar. Também aposto nele para o PGA, prêmio do Sindicato dos Produtores, entidade que adora produções capazes de agradar todo o público.  

Porém, o feitiço pode virar contra o feiticeiro: se perder, por exemplo, para “Coda”, “Belfast” rui e deixa a disputa para “Ataque dos Cães” e “Amor, Sublime Amor”. 

“Casa Gucci” cresceu bastante com o bom desempenho no SAG e também nas listas prévias do Bafta, onde pode disputar 14 categorias. Pode ser o décimo indicado de Melhor Filme do Oscar 2022. 

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