Um casal descendente de japoneses se vê obrigado a rumar para o Japão em busca de estabilidade financeira. Eles deixam no Brasil três filhos adolescentes. O plano inicial de passar dois anos fora se transforma em um longo período de 13 anos. Pela direção de Marcos Yoshi, um dos filhos do casal, acompanhamos o reencontro da família.

O documentário que parte de experiências familiares não é exatamente uma novidade no cinema brasileiro nos últimos anos. A utilização de uma narração mais cadenciada e poética, somada a fotos e vídeos da família são algumas das características que também se repetem em “Bem-vindos de volta”. O ponto de maior destaque para o filme, então, constrói-se a partir do distanciamento. O reencontro entre pais e filhos ressalta uma estranheza que existe entre as partes, desconhecidos uns para os outros.

A sensação paradoxal – um filme familiar e, ao mesmo tempo, longínquo – é o fio condutor da narrativa e afasta o excesso de segurança que o tema poderia trazer para o diretor. Além disso, por mais que seja inevitável para as personagens olharem para trás em buscas de respostas, o presente é o ponto de partida. Não há de início uma certeza de para onde os caminhos seguirão.

Essa dúvida é sempre bem trabalhada por Yoshi. Seus planos são quase sempre fechados ou médios, tentando extrair mais de seus pais a partir de suas expressões e hesitações, destinando a sua narração mais um caráter explicativo do que literário. Não somos introduzidos a grandes momentos de reflexão ou qualquer tentativa que poderia soar piegas, no sentido de tentar emocionar a audiência apenas apelando para o drama “real” daquela família.

Os comentários sobre as crises financeiras que afetaram o país durante a década de 90 e consequentemente o casal, ajudam a produzir uma narrativa que evoca um romance, concentrando-se no par Roberto e Yayoko para além das demandas dos filhos, apresentando-os como mais um de inúmeros brasileiros que tem sua estrutura abalada pelas dificuldades sistematicamente atravessadas pelo país.

As entrevistas com as irmãs de Marcos também retratam um ponto interessante para a obra. Ao relembrarem alguns momentos da separação com os pais, o diretor sempre parece ir em um caminho contrário ao das mulheres. Se ele lembra de um fato de um jeito, elas recordam de outra maneira e vice-versa.

Essa situação se constitui quase como um exercício de metalinguagem. A função de Marcos como diretor é retratar uma história a partir de sua sensibilidade e, por mais que os fatos apresentados sejam verídicos e o autor um personagem na obra, suas escolhas refletem apenas o seu desejo de produzir um bom filme.

Seguindo seu método, o diretor reserva o momento mais emocionante do filme para uma cena simples, sem grandes revelações ou desabafos. Em uma família reservada, de estranhos um para os outros, a decisão parece completamente acertada. Marcos pede para colocar a mão na cabeça do pai, a acaricia enquanto o senhor se sente em paz pela primeira vez no filme. A busca por esse equilíbrio concebe um grande filme.

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