“Captain Faggotron Saves the Universe” é um filme que faz toda a controvérsia sobre a minúscula representatividade LGBTQ em filmes de super-herói parecer uma piada. O longa de estreia do diretor Harvey Rabbit é subversivo, sem vergonha e abertamente queer. Exibido no Festival Internacional de Cinema de Karlovy Vary após sua estreia em Roterdã, a produção atualiza a estética trash do cineasta John Waters para uma nova geração, mesmo que o roteiro deixe algo a desejar.

Nela, o “Captain Faggotron” (algo como “Capitão Bichona”) do título (Tchivett) é um super-herói para lá de gay se envolve em um plano para transformar a Terra em um reino homossexual. Contrariando expectativas, ele não está colaborando com este plano, mas, sim ajudando a detê-lo com o apoio de velho amigo, o Padre Gaylord (Rodrigo Garcia Alves). Juntos, a dupla tem de encarar o vilão Queen Bitch (Bishop Black), um alienígena com o poder de liberar uma horda de gays no planeta. 

estética kitsch e ultrassexualizada 

 
Rabbit, que também escreve o roteiro, imagina aqui uma produção extremamente autoconsciente que subverte os filmes de super-herói, usando uma estética kitsch e ultrassexualizada que tem tudo para assustar plateias conservadoras.

No mundo desses personagens, a vida sexual está intimamente ligada com as suas decisões e isso justifica o foco narrativo. Padre Gaylord é um gay enrustido que não acredita na homossexualidade forçada proposta por Queen Bitch. De sua parte, o vilão quer tornar a Terra uma utopia queer para acabar com o preconceito heteronormativo – um objetivo até certo ponto nobre para um vilão.

Nesses termos, bem e mal estão longe de estarem definidos aqui. Apesar do grande clímax apocalíptico – tradição dos filmes de herói – a real batalha do longa acontece na cabeça do Captain Faggotron, que precisa decidir qual dos lados rivais merece ajuda. 

BATALHA DAS SALSICHAS

Filmes como este raramente são sobre o enredo e essa produção pode se beneficiar de públicos que não estão realmente preocupados com isso. Durante os enxutos 75 minutos de projeção, há simplesmente muita coisa acontecendo e, entre todos os flashbacks, sequências de delírio e cenas aparentemente desconexas, nem todas as piadas vingam e algumas partes se arrastam.

Dito isso, o longa brilha em pequenas doses, principalmente quando se trata de entregar momentos icônicos. A hilária história de origem de Captain Faggotron e a competição de chupar salsichas entre ele e Queen Bitch – encenada como um duelo de vida ou morte – já nasceram  clássicas.

De maneira geral, “Captain Faggotron Saves the Universe” é um filme de baixo orçamento e humor delirante que nasceu para os festivais de cinema queer. Ele é uma lembrança de que gays afeminados também podem ser heróis e que, talvez, um alienígena tarado saiba mais sobre a humanidade do que possa parecer.