Também conhecida como uma das melhores séries brasileiras da Netflix, ‘Coisa Mais Linda’ voltou para uma segunda temporada tão satisfatória quanto a anterior. Apesar das grandes qualidades serem mantidas, desta vez, a narrativa corrida atrapalha a conexão do público com suas personagens, as quais passam por demasiadas situações e reviravoltas nos seis episódios da temporada. Porém, mesmo com seu lado disfuncional, a série continua sendo uma ótima experiência para seu público.
Após o término dramático da primeira fase, o grupo de amigas liderado por Malu (Maria Casadevall) passa a lidar com as mudanças de cada uma. A própria protagonista precisa se recuperar fisicamente ao mesmo tempo em que seu marido volta para tomar seu clube de música. Por outro lado, Adélia (Pathy Dejesus) marca a data de seu casamento com Capitão (Ícaro Silva) enquanto sua irmã, Ivone (Larissa Nunes), permeia entre o sonho como cantora e a realidade como mulher negra independente na década de 1960. Já Thereza (Mel Lisboa) mantém a posição de mulher liberal com sua volta para o mercado de trabalho.
Mesmo com um elenco extenso, os maiores destaques de ‘Coisa Mais Linda’ seguem sendo Adélia e Malu, as quais passam por muitas reviravoltas. Na intenção de deixar a história interessante, algumas subtramas são desenvolvidas e encerradas em questão de poucas cenas, algo que poderia ser desenvolvido com maior atenção. Exemplo disso é a doença de Adélia, a qual torna-se uma solução fácil para uma problemática pessoal e o surgimento de um vereador na vida de Malu, o que serve apenas para ser mais um obstáculo em sua trajetória.
Assim, de maneira geral, a temporada abraça muitas histórias para suas personagens, o que é positivo para o ritmo incansável, mas nada eficaz quando pensamos na falta de densidade dessas narrativas. Os consecutivos plots twists não são capazes de animar tanto quanto o ineditismo da primeira temporada, entretanto, ainda existem outras facetas de suas personagens que ganham o destaque merecido e marcam positivamente a nova fase.
Personagens e sonhos
Se, por um lado, as novas narrativas das personagens não possuem densidade, por outro, a constante busca por independência e sonhos se mantém mais forte que nunca. Antes, o grupo de amigas descobria muito mais do que beleza nas mulheres, agora, a intenção é ter sonhos maiores para si mesmas, tudo bem delineado em grandes e certeiros diálogos.
Com pequenas alterações no elenco principal, Ivone é a grande beneficiada e se destaca positivamente. Apesar de sua construção ser muito parecida com a de Lígia (Fernanda Vasconcellos), Ivone apresenta novas temáticas para a série e aprofunda o debate sobre racismo já levantado por Adélia.
Assim como a determinação de Malu, Adélia e Thereza, o amor pela bossa nova e pelo Rio de Janeiro voltam como ótimos cenários de suas histórias. Apesar da trilha sonora ser geralmente voltada para momentos mais românticos, ela também surpreende ao marcar presença em cenas dramáticas, beneficiando bastante a construção dos momentos mais densos. Da mesma forma, o design de produção continua como grande aliado da série sendo notório nas transformações de seus personagens.
No geral, a segunda temporada de ‘Coisa Mais Linda’ consegue consolidar a série de forma bem sucedida apesar de seus erros pontuais. O gancho para a terceira temporada, mesmos se tratando de um clichê previsível, aponta para a grande possibilidade de uma boa trama e, quem sabe, um ótimo desfecho para a produção antes que seja altamente saturada. Afinal, como eu disse lá em cima, ‘Coisa Mais Linda’ é uma ótima produção da Netflix, um elogio que já vale muitíssimo ultimamente.