“Em Casa com os Gil”, nova aposta da Amazon Prime, é um convite para adentrar a casa de um dos maiores artistas da história da música e cultura brasileira, Gilberto Gil. Ali, naquele casarão em Araras (RJ), com o seu clã todo reunido, Gil abre a suas portas e intimidade, te chama para participar dessa celebração familiar.

Em certo momento de um dos cinco episódios, ele diz que a canção “Palco” é sua “música talismã”. E não há como discordar. O palco, a arte, corre pelo sangue e DNA dos Gil. Seus filhos, netos e bisnetos têm o talento nato para a musicalidade. Todos com suas personalidades e que estão ali para um bem comum: celebrar a vida e obra de Gilberto Gil.

Como já dito no texto anterior na coletiva de imprensa, o documentário reality só aconteceu por uma ideia de Preta Gil: uma turnê pela Europa com os filhos e netos. Todos toparam no que promete ser uma grande aventura em família.

O grande barato de “Em Casa com os Gil” é a espécie de assembleia, quando todos se reúnem para escolher e justificar a música que deveria estar nesta turnê. Entre sorrisos e lágrimas, percebemos que há muita cumplicidade, amor e carinho entre eles. Um carinho simbiótico. Um dos momentos mais emocionantes é a apresentação da árvore genealógica para a família, uma surpresa de Gil e da esposa, Flora, esta a grande matriarca dos Gil.

Claro, há os momentos de tensão, afinal, família reunida há atritos. O caso do banheiro entupido, o jovem Bento (filho de Bem Gil), naquela fase aborrecente ou a questão do sobrenome completo, aqui, Gil esbraveja: “as pessoas têm o direito de colocar os versos da música que eles quiserem”, dão o tom desses atritos saudáveis.

PONTOS PROBLEMÁTICOS

Apesar da naturalidade de como as coisas se desenrolam, fica muito explícita a necessidade de um roteiro (o que é natural nesse tipo de produção) para tocar em certos assuntos. Não houve naturalidade alguma no momento em que eles conversam sobre racismo; tudo muito esquematizado, todos em sua maioria de branco (tirem as suas próprias conclusões neste sentido) e até com algumas falas problemáticas. Outro momento foi a conversa de Preta com as meninas mais jovens sobre feminismo. Até o debate sobre Monteiro Lobato soou estranho, mas, se comparadas as outras duas discussões citadas, pareceu mais natural, especialmente porque Gil conta como a literatura foi importante na sua construção particular, afinal, ele é um patrono das palavras.

“Em Casa com os Gil” mostra o mais íntimo de seu Gilberto Gil e sua melhor obra: a sua família. A intimidade com Andrucha Waddington também auxiliou nesse olhar documental introspectivo. Relembrar passagens de sua vida como o exílio, a amizade com Caetano Veloso, o abuso de entorpecentes nessa fase, o falecido filho Pedro (morto em 1990) e imagens antigas ao longo de sua carreira, nos ajuda a nos aproximar mais desse artista tão importante e necessário.

Um grande sujeito que chega aos 80 anos de vida (completará no próximo dia 26 de junho) com muita verdade, poesia e um talento genuíno para a arte e talento para comandar com toda suavidade um verdadeiro clã, sua extensão, sua verdade. Um verdadeiro palco, um cenário de união, arte e festejo para um verdadeiro mestre das palavras.

A série estreia dia 24 de junho na Amazon e já tem uma segunda temporada garantida Europa afora.