Riz Ahmed vem se consolidando como um dos melhores e mais interessantes atores de Hollywood no momento. O cara até agora não deu uma bola fora e, em alguns casos, até elevou algumas produções. Foi merecidamente indicado ao Oscar de Melhor Ator por O Som do Silêncio (2020), ótima produção do Amazon Studios, e a parceria entre o ator e o streaming retorna com este Encontros, drama com (leves) toques de ficção-cientifica do diretor Michael Pearce. Ahmed está ótimo nele, mas o filme passa longe do nível do ganhador de 2 Oscars.

Na história, ele interpreta Malik Khan, um ex-fuzileiro que acorda de manhã, vai para o banheiro e se borrifa dos pés à cabeça com repelente de insetos… Pouco depois, ele invade a casa onde os filhos pequenos moram com a ex-esposa e seu novo parceiro, sequestrando os garotos para uma viagem de carro. Khan diz aos filhos que os está levando para um lugar seguro porque o mundo está sendo invadido por parasitas alienígenas e ele precisa protegê-los. Não demora muito, a polícia se envolve e começa a procurar por Khan antes que ele possa fazer mal aos meninos.

PERSONAGENS INTERESSANTES…

São nas cenas iniciais entre Khan e seus filhos que Encontros brilha mais. As interações entre os personagens são bem construídas e emotivas, e os atores mirins Lucian-River Chauhan e Aditya Geddada foram muito bem escalados. As atuações deles alternam entre inocência e maturidade com precisão e força, e os momentos entre eles e seu pai são muito bem conduzidos por Pearce.

E claro, Ahmed carrega “Encontros” com seu carisma e sua atuação focada e sensível. Seu retrato de um homem perturbado, sofrendo após um trauma, é intenso e cheio de nuances. Nas mãos do ator, Malik Khan é uma figura bastante interessante, tridimensional, que impõe medo, mas também ama os filhos, e Ahmed se equilibra nessa corda bamba de maneira admirável.

…HISTÓRIA NEM TANTO

Pena que o roteiro, de autoria de Pearce e Joe Barton, não faça o personagem evoluir de fato. O foco a certa altura vai para Jay, o filho mais velho, que começa a ver o pai como ele é, uma figura com problemas. Até então, a condução do filme parecia querer colocar o espectador na posição de dúvida: afinal, Khan está certo ou não sobre a existência dos tais aliens? Uma sequência de planos logo na abertura, mostrando meteoros caindo na Terra e formas de vida microscópicas, sugere que veríamos de fato uma ficção-científica, e vários desenvolvimentos do meio para o fim do filme sabotam essa expectativa. É quase um caso de propaganda enganosa…

A segunda metade de “Encontros” também é culpada de desperdiçar Octavia Spencer, que aparece como a única aliada do ex-soldado, a pessoa que compreende pelo que ele está passando. No entanto, essa personagem não tem função real na história – todas as cenas com a atriz podiam ser cortadas e o desfecho seria o mesmo. Tomara que ao menos o cachê dela tenha sido alto…

SEM MILAGRES

Encontros é uma produção bem-intencionada. Percebe-se que o filme trabalha com subtextos envolvendo os traumas que veteranos norte-americanos sofrem e sobre tratamento de problemas mentais e emocionais. Mas como história, como narrativa, é um filme que começa bem, mas perde o gás com o tempo.

Quando aparecem uns caipiras armados enfrentando o Khan, em um tiroteio que parece ter sido inserido no longa apenas para aumentar a quantidade de ação, nota-se que o diretor já perdeu de mão a experiência e ela se arrasta até um clímax frio e decepcionante.

Riz Ahmed, no entanto, ainda sai dele com a reputação intacta. O filme, no entanto, comprova uma antiga verdade no cinema: por melhores que sejam, nenhum ator ou atriz faz milagre sozinho.

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