Os capuzes, os robes e as tochas assustam quem vê de fora. Ku Klux Klan? Sul dos EUA? Não; estamos em Goiás e esta é a Procissão do Fogaréu, tradição litúrgica do interior do país. Mas o brilho das chamas que ilumina o rosto de Bárbara Colen dá um quê de folk horror à história: a forasteira que se depara com uma comunidade sinistra, da qual não consegue escapar. 

Fica claro, então, que se trata de uma incursão às raízes do Brasil – neste caso, um Brasil latifundiário, racista, colonial. Fernanda, a mochileira de Colen, reencontra a família no interior. As marcas desse passado ela vislumbra em cada construção, como na arquitetura que concebe “o quarto de moças”, escondido no interior da casa, longe da visada dos homens e, importante, sem janelas, para que as moças não fujam. 

E esse é só um dos exemplos do que compõe o mal-estar desse lugar. O clima, apropriadamente, é opressor. O problema é que as maneiras de dramatizar esse conflito vão se esvaindo ao longo de “Fogaréu”; as situações se tornam repetitivas. Toda a família conservadora de Fernanda se torna rapidamente irritante não só por serem odiáveis, mas porque não há muito o que fazer com eles. 

Nem as guinadas ao fantástico parecem animar a experiência, que acaba sem mostrar ao que veio. Em outras palavras: não há uma imagem forte sequer, uma representação que tire o filme dessa mesmice apenas correta. 

Mais interessante é a noviça rebelde interpretada por Kelly Crifer, uma presença que salta aos olhos em meio a uma homogeneidade morna. Nem mesmo Bárbara Colen tem muito o que fazer, já que seu papel se resume a reiterar o quão detestável é todo mundo ao seu redor. 

No final das contas, temo que nenhuma imagem deste “Fogaréu” irá permanecer comigo por muito tempo.