“Infinity Pool”, o novo filme do diretor Brandon Cronenberg, acaba surgindo em meio a uma leva de filmes e séries focados na observação satírica e ácida sobre o “1%”. Mas uma coisa se pode dizer: dentre essa leva, que inclui séries como The White Lotus” e “Succession” ou filmes como “Triângulo da Tristeza” (2022) e “O Menu” (2022), Infinity Pool com certeza deverá ser o mais esquisito.

O filme de Cronenberg, seu terceiro depois de “Antiviral” (2012) e “Possessor” (2020), é uma fantasia sombria que trabalha vários temas dentro da sua narrativa e o mais claro deles é a visão nada positiva de um segmento privilegiado da sociedade e o que acontece quando essas pessoas alcançam basicamente o maior dos privilégios, uma estranha forma de imortalidade. E aliás, para quem não sabe, Brandon é filho do cientista louco do cinema, David Cronenberg, e quem já viu seus trabalhos anteriores sabe que “filho de peixe, peixinho é”.

A atmosfera esquisita já fica clara desde os primeiros momentos. Começamos “Infinity Pool” acompanhando o casal James (Alexander Skarsgård) e Em (Cleopatra Coleman): ela uma herdeira bilionária, ele um aspirante a escritor que só publicou um livro há vários anos. O casal está em um resort levemente bizarro, no qual alguns dos garçons usam máscaras horrendas. No local, eles conhecem outros ricaços, incluindo Gabi (Mia Goth) e o marido bem mais velho (Jalil Lespert). O resort se situa em um país fictício chamado La Tolqa e, quando James acidentalmente provoca uma morte, ele conhece o incomum método de punição do lugar: James acaba sendo clonado e o clone é condenado à morte ao invés dele.

A ESQUISITICE ALIENÍGENA DE GOTH

É o primeiro passo de uma jornada que começa a parecer cada vez mais com um pesadelo filmado e esse aspecto é ressaltado por Cronenberg a cada passo. “Infinity Pool” usa ângulos estranhos, sequências alucinatórias e psicodélicas, e um trabalho sonoro que visa o incômodo do espectador.

Skarsgård está bem no filme e se mostra capaz de conduzir a experiência mesmo vivendo uma figura opaca e que não desperta realmente a empatia do espectador. Mas é Goth quem rouba a cena, de novo mostrando outra grande atuação: sua Gabi é interessante e vai ficando cada vez mais sinistra ao longo da história. A personagem é inicialmente sedutora e Infinity Pool capitaliza na aparência meio alienígena da atriz, mas, com o tempo, Gabi se torna mais tóxica, exalando uma energia estranha e Goth consegue retratar essas facetas de forma poderosa.

A alegoria com uma piscina de borda infinita, como o título original sugere, é precisa: a aparência plácida e sem fim é uma metáfora para o vazio existencial dos personagens, que não parece abandoná-los mesmo após orgias sexuais e episódios de violência que ficarão impunes, porque os personagens podem literalmente morrer e nada realmente vai acontecer com eles.

Pesa contra o filme uma certa previsibilidade: uma vez que o componente fantástico da história é revelado, ela se desenvolve sem muitas surpresas, o que leva Infinity Pool a terminar em uma espécie de anticlímax. Cronenberg, escolado em narrativas de ficção-científica, introduz logo de cara o componente existencialista no filme, mas pouco depois o abandona, porque no fim das contas, se o James que acompanhamos é o verdadeiro ou o clone, isso não faz muita diferença, em se tratando de pessoas como ele. O verdadeiro terror em Infinity Pool é saber que se pode fazer de tudo, atender a cada impulso destrutivo humano e, mesmo assim, a vida não acaba.