Garra de Ferro, o novo filme do diretor Sean Durkin, o mesmo dos bons Martha Marcy May Marlene (2011) e O Refúgio (2020), é decepcionante. Mas tinha ingredientes para ser marcante: um ótimo elenco e a base de uma história real e bastante dramática. No fim das contas, o resultado acaba sendo superficial e algumas decisões de roteiro enfraquecem o que poderia ser uma narrativa poderosa a abordar temas como masculinidade tóxica e depressão.

O filme é baseado na história real da família Von Erich, que fez sucesso no wrestling, a luta livre dos Estados Unidos, nos anos 1970 e 1980. Fritz, o patriarca, foi um lutador de destaque no esporte, e fez com que seus filhos Kevin, David, Kerry e Mike seguissem o mesmo caminho. O título Garra de Ferro se refere ao golpe pelo qual os Von Erich ficaram conhecidos quando finalizavam os oponentes. Porém, com o passar dos anos, tragédias começaram a acometer a família, em boa parte causadas pela pressão do pai sobre os filhos. Entre lutas, casamentos e mortes, muita coisa acontece com a família em pouco mais de duas horas de filme.

SUPERFICIALIDADE EXCESSIVA

E esse é o principal problema de Garra de Ferro: o roteiro, de autoria de Durkin, passa voando por alguns desenvolvimentos importantes, com alguns até acontecendo fora da tela – não vemos a primeira morte da história, nem quando um dos irmãos se torna campeão. Esses e mais alguns eventos importantes não são mostrados; são contados por diálogos expositivos.

Também falta conflito na história com os personagens praticamente não evoluindo. Kevin é passivo e gente boa o filme todo, David é o irmão com vocação para showman, Kerry é o atormentado que tem apenas poucas cenas para ter o seu drama retratado. E Fritz, o pai, é uma figura maior que a vida que diz a sério coisas como “nossa grandeza será medida pela nossa resposta à adversidade”. Até ele permanece no mesmo nível, unidimensional, depois de várias tragédias. A respeito disso, inclusive, na história real, havia até mais um irmão, Chris, mas ele foi cortado do roteiro de Durkin, e embora isso até faça um pouco de sentido do ponto de vista dramático, não deixa também de acrescentar ao aspecto de superficialidade do filme.

POTENCIAL NÃO APROVEITADO NA TOTALIDADE

O que Garra de Ferro tem a seu favor é o elenco: Zac Efron, Jeremy Allen White, Maura Tierney, Lily James e Holt McCallany elevam bastante o filme e, por isso mesmo, é uma pena que tenham ficado resignados a interpretar esses personagens de uma nota só. Efron, como o protagonista Kevin, impressiona não só pela atuação física, mas por conseguir progressivamente retratar a frustração cada vez maior de um homem sob pressão. É realmente um belo trabalho dele, contido e tocante, assim como os de White e McCallany – o primeiro, sensível, e o segundo, bastante intenso.

Por todo o filme, acompanhamos essa tensão masculina de homens que subiam no ringue para aquelas lutas esquisitas do wrestling americano, e também sofriam pressão em casa. Os filhos Von Erich parecem constantemente tensos, e essa sensação é amplificada pelos aspectos visuais da produção. O diretor de fotografia Mátyás Erdély capricha no visual esfumaçado das lutas, enquanto a casa da família vai ficando progressivamente mais claustrofóbica e escura. E, claro, as perucas e os figurinos trazem de volta a breguice da época e do esporte com eficiência.

Ainda assim… Essa tensão nunca explode. Garra de Ferro permanece bem contido durante quase toda a sua duração e isso também ajuda na sensação de que faltou algo a mais para que se tornasse de fato um ótimo filme. Ora, esse é o tipo de filme que mostra, em um momento, um personagem aparecendo com um revólver e o espectador saca na hora o que vai acontecer alguns minutos à frente. Falta mais sutileza em alguns momentos e mais força em outros para abordar de maneira realmente efetiva o drama daqueles personagens, sufocados pelo ambiente tóxico de sua família e pela necessidade, tão americana, de ser o melhor, o número 1 em tudo.

Garra de Ferro não é ruim, mas podia ser melhor. A história da família Von Erich tinha força para reduzir espectadores às lágrimas, e alguns até devem chegar lá principalmente pelo bom trabalho dos atores. E o filme foi feito por profissionais que claramente se importavam com a história. No entanto, certas decisões de roteiro e de direção acabam por prejudicar um projeto com bastante potencial.