Admito, leitor: faço parte do fã-clube da atriz inglesa Emma Thompson. Para mim, ela faz até uns filmes porcarias ficarem mais toleráveis simplesmente por aparecer neles. Ela melhora qualquer filme. Felizmente, seu novo trabalho, Good Luck to You, Leo Grande, é muito bom. E nele temos mais uma vez um instrumento para medir a grande atriz que ela é, coisa que Thompson não tem tido muita oportunidade de mostrar ultimamente.

O filme da diretora Sophie Hyde e roteirizado pela comediante Katy Brand, exibido em Sundance 2022, é um filme falado – no sentido de que é um daqueles onde os personagens só conversam e depois conversam um pouco mais. Algo no estilo das obras do mestre francês Éric Rohmer ou da trilogia Antes do Amanhecer, do diretor Richard Linklater.

Nele, acompanhamos dois personagens: Nancy (Thompson), uma professora aposentada e viúva que, segundo suas próprias palavras, nunca teve um orgasmo na vida; e o Leo Grande do título (Daryl McCormack), o jovem garoto de programa que Nancy contratou pelos serviços. Eles se conhecem, se aproximam, brigam e transam ao longo dos quatro encontros que compõem a história e, ao mesmo tempo, vão se revelando para nós, espectadores. Aos poucos, as camadas vão sendo retiradas e passamos a ver Nancy e Leo por quem são, com todas as suas inseguranças e neuras.

É também um filme charmoso – ainda bem que a química entre Thompson e McCormack é divertida e interessante desde o começo, senão o projeto como um todo naufragaria.  Hyde faz um belo trabalho de condução e aliada a uma montagem ágil e inteligente, nunca deixa o filme ficar enfadonho. Há humor, drama, tristeza e alegria para manter o público interessado na história, que só tem esses dois personagens por quase toda a sua duração. E pelo elenco reduzido e poucas locações, tornou-se um projeto ideal para ser produzido durante os tempos pandêmicos, como de fato foi.

O roteiro e os atores exploram bem o tema da diferença de idade entre os personagens, e o fato deles aos poucos encontrarem características em comum. Quando descobrimos o sobrenome real de Nancy – uma citação ao clássico A Primeira Noite de um Homem (1967) que o filme faz questão de deixar clara – temos uma brincadeira cinéfila que adiciona à personagem de Thompson.

McCormack está muito bem no filme: charmoso, interessante e capaz de sustentar as viradas dramáticas do seu personagem. Mas mesmo ele fica pequeno diante de Thompson, que aproveita a chance e entrega aqui uma das suas melhores atuações. Sua Nancy é engraçadíssima – e também triste – com seus complexos e inseguranças. E a atriz se desnuda em cena, corajosamente e em mais de um sentido, nessa atuação que é delicada e destemida.

Claro, pela proposta e pelo seu escopo pequeno, Good Luck to You, Leo Grande talvez não agrade a todo mundo. Mas é um biscoito fino em forma de filme, uma pequena obra sobre algumas grandes verdades do ser humano e das mulheres em especial. E tem no seu centro uma atriz que parecia estar com fome por um papel substancial, e conseguiu saciá-la aqui.

 Você pode até não compartilhar inteiramente meu fascínio por Emma Thompson – que começou quando assisti a Vestígios do Dia (1993), pelo qual ela foi indicada ao Oscar. Mas se você der uma chance para Good Luck to You, Leo Grande, talvez ele vá ficar claro…

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