Em uma segunda à tarde, esgueirei-me sala adentro em Niterói para assistir a este “Imaginário: Brinquedo Diabólico”. Devia haver umas outras cinco pessoas espalhadas pela sala 7 do multiplex. O número diminuiria gradativamente pela próxima hora até sobrar apenas um casal, algumas fileiras atrás de mim, que, suspeito, não estavam ali necessariamente pelo filme. 

Pois bem. O primeiro sinal de que seria uma jornada turbulenta veio logo no primeiro frame: acontece que o projecionista esqueceu de ajustar corretamente a janela do quadro. A experiência foi como a de assistir a um DVD, com aquelas barras pretas sobre a tela. Verdade seja dita, isso não é um problema do filme em si. Mas a mensagem não era boa: se nem o projecionista se importa com o que está na tela, por que eu deveria? 

Se eu disser a premissa de “Imaginário: Brinquedo Diabólico” – mulher workaholic se muda com o marido e as enteadas para sua antiga casa de infância, onde a caçula da família é acossada por um amigo imaginário diabólico sob a forma de um inócuo ursinho de pelúcia –, você talvez imagine se tratar de uma empreitada com ares de camp. O horror doméstico que assume o avatar de uma coisinha fofinha é, afinal, um símbolo do gênero que geralmente se presta em algum nível à tiração de sarro (Chucky, os Gremlins etc). Não deixa de ser curioso, então, que o longa leve sua premissa tão a sério – o que, naturalmente, não significa que nós a levamos, e daí surge uma dissonância que o filme não consegue desfazer: é praticamente impossível se importar com o que acontece na tela. 

MIRA MAIS BAIXA POSSÍVEL

Alguns motivos para isso: a falta de criatividade do diretor Jeff Wardow (que, segundo o Letterboxd me diz, dirigiu, entre outras mediocridades, “Kick Ass 2”) é o primeiro. O terceiro ato da trama se passa inteiramente em uma dimensão onde o mundo imaginário se torna real. Excelente oportunidade para visuais interessantes, certo? Mas tudo que nosso simplório diretor é capaz de criar é uma luz azul escuro feiosa e um set que está entre o corredor de um hotel velho e um pastiche de baixo orçamento do Tim Burton dos últimos 20 anos. 

O elenco também não ajuda. Claro que um roteiro desses é osso duro de roer. Mas o fato da nossa protagonista, Jess, interpretada por DeWanda Wise, ser um vácuo de carisma compromete ainda mais a empreitada. Para não dizer nada das pífias tentativas de humor, cortesia da adolescente rebelde da família, que insiste em comparar a entidade demoníaca imaginária ao Bing Bong de Divertida Mente. Reli este último parágrafo e percebi que talvez tenha feito a coisa soar mais engraçada do que ela é. 

As luzes se acenderam e pude comprovar que o casal de fato não estava prestando atenção ao filme. Bom para eles. Eu, infelizmente, não tive tanta sorte. A impressão final é de que os realizadores não estavam necessariamente mirando alto: sua intenção era fazer um filme o mais passável possível, suficientemente derivado de obras mais bem conceituadas para manter o espectador por perto, e confortavelmente assentado em lugares-comuns para ir do ponto A ao B sem grandes sustos (a falta de sustos sendo, naturalmente, um problema no terror). Em termos de passabilidade, eles quase chegaram lá. Quase.