Em 2017, Marcelo Caetano lançava “Corpo Elétrico”, filme sobre um grupo de jovens trabalhadores da região do Brás, em São Paulo, encontrando alívio no sexo e no companheirismo entre eles um alívio para a pesada jornada em uma fábrica de roupas e a pouco grana. A produção tornou-se um cult sobre a resistência daquelas pessoas – uma parte significativa de LGBTQIA+ – em meio aos avanços das reformas liberais econômicas do Brasil. 

Quatro anos depois e muitos decibéis a menos, “Nome Sujo” transita por caminhos semelhantes ao focar na realidade de Lucas (Jaidan Salles), jovem gay da cidade de Boa Vista. Funcionário de um supermercado, ele tem o sonho de comprar uma máquina fotográfica em promoção, porém, não encontra ninguém com cartão de crédito disponível. Todos estão endividados. Enquanto isso, precisa lidar, assim como a amiga trans e a outra deficiente auditiva, os preconceitos e as pequenas violências do dia a dia.  

“Nome Sujo” coloca-se como uma crônica do que é crescer e chegar ao mercado de trabalho desalentador e ver um país de portas fechadas para estes jovens adultos e seus sonhos, especialmente, se você é LGBTQIA+. O grande achado do diretor, roteirista e montador Artur Roraimana, porém, está em fazer esta história da resistência sob uma perspectiva marcada pelo afeto e esperançosa, mas, sem romantizar, minimizar ou glamourizar os problemas de seus personagens. 

Da casa com paredes e lençóis do sofá em cor de rosa ao sol que reluz sobre Lucas ao andar de bicicleta, as escolhas da direção de fotografia de Adriana Duarte e da diretora de arte Evelly Paat realçam essa luminosidade simbólica de seguir adiante mantendo os sonhos. Os desenhos coloridos, colocando os personagens quase como super-heróis, a partir das fotos tiradas por Lucas potencializa esta visão empoderadora de resistência e permanência contra tudo e todos complementada com uma provocação política dupla através da plaquinha do banheiro.

Pena que o curta não atinja mais força pela falta de fluidez e na condução engessada das sequências. Nota-se uma rigidez excessiva na mise-en-scene com os atores claramente presos às marcações, tirando a espontaneidade das cenas. A montagem também poderia contribuir com cortes mais ágeis para dar dinamismo e velocidade aos diálogos em certos momentos até para dialogar com a rapidez de uma geração marcada pelo instantâneo. Problemas naturais de uma cena cinematográfica ainda em processo de desenvolvimento como a roraimense e somente mais e mais filmes são capazes de aprimorar os seus realizadores. 

Isso, entretanto, só não compromete totalmente “Nome Sujo” por conta do carisma do trio de protagonistas Gabriela Ferraz, Jaidan Salles e da ótima revelação Lilith Cairú, além da habilidade de Artur Roraimana em capturar esta resistência cansativa, mas, necessária. Um filme importante como registro solar de tempos sombrios.