Guilherme (Fábio Porchat) é um contador frustrado que perdeu o tesão na vida. Seu chefe é um babaca, a esposa o humilha e o sujeito simplesmente desliza pelos dias no piloto automático. Isto até ser confundido com um palestrante motivacional e se apaixonar por Denise (Dani Calabresa), que conta com o rapaz para levantar a moral dos funcionários de sua empresa durante um fim de semana. 

Dada a premissa, o que primeiro chama a atenção neste fraco “O Palestrante” é a incapacidade de explorar o próprio potencial. Poderíamos, talvez, pensar estar diante de uma sátira ácida ao tal do mindset empreendedor. Antes, o filme opta por caminhos mais fáceis: preparem-se para piadas do tipo “ele é perigoso nível goleiro Bruno” ou a tirada recorrente envolvendo a possibilidade de Denise ser ou não intersexo (recebida surdamente pelo público da minha sessão). 

Prato requentado

O mínimo denominador comum parece ser mesmo a escolha do time criativo, que transparece tanto na escolha do elenco, recheado dos mesmos rostos de sempre (o pessoal do Porta dos Fundos, Miá Mello, Otávio Müller…), como no tratamento que o diretor Marcelo Antunez dá à empreitada. 

Por exemplo: você não vai encontrar um mísero plano neste longa que denote alguma inventividade visual. Diante das praticidades (por vezes nocivas) do cinema digital, o espírito da coisa parece ser: “liga as luzes e dá o rec que tá tudo certo”

A gente até fica pensando, no início do filme, que esse (não-) estilo, essa maçaroca flat na nossa frente, talvez seja uma opção: uma forma de refletir a mesmice da vida do nosso protagonista. Logo fica claro, no entanto, que são só as limitações do diretor Marcelo Antunez dando as caras mesmo. 

E quando o longa se assenta de vez nas dependências do hotel, onde a maior parte da trama se desenrola, fica claro que o espectador está diante do equivalente fílmico ao piloto de uma sitcom meia-boca do Multishow. Cabe ao elenco sustentar (ou não) a comédia e “O Palestrante” e cresce e decresce de acordo com o talento dos atores. 

Nas costas do elenco

Se Dani Calabresa, em modo centrado e contido, pouco tem o que fazer com sua personagem, Otávio Müller, por sua vez, tira leite de pedra com Sandoval. Da mesma forma, Rodrigo Pandolfo faz todas as escolhas certas como Flávio – e a cena em que o playboy tem um ataque de pelancas quase salva o filme por si só. 

Já Antonio Tabet, desempenhando seu mesmo número de machão suburbano de sempre, deve ser um dos humoristas menos carismáticos da história nacional recente. Tabet, claro, é da patota do Porta dos Fundos, que mais ou menos tem ditado a produção cômica no país. Pois por aqui, Fábio Porchat, além de protagonizar o longa, assina também o roteiro da produção. 

Diante disso, a gente se pergunta quando que Porchat vai nos entregar a sua grande obra. Eu, particularmente, acredito que ele tem um enorme talento – com a fala embolada e a sua cara de pug perpetuamente em pânico, o sujeito me faz rir com certa frequência. Mas quando o mais perto que você chegou de fazer um filme com alguma personalidade foi em “Entre Abelhas”, do Ian SBF, então, meu amigo, você está com um problema. 

Em “O Palestrante”, Porchat aposta no seguro desde o roteiro. O resultado: algumas risadas comportadas ecoando pelo cinema ocasionalmente, entrecortadas por longos períodos de um silêncio morno.

MAIS CRÍTICAS NO CINE SET: