“O Próprio Enterro” é o tradicional drama de tribunal, dirigido por Maggie Betts, que se baseia no julgamento real do empresário Jeremiah Joseph O’Keefe contra uma das maiores empresas funerárias da América do Norte. O filme adota uma abordagem menos densa para um filme do gênero com Jamie Foxx roubando todos os holofotes com o advogado Willie E. Gary.

Em contraste com exemplos clássicos como “12 Homens e uma Sentença” em que prevalece a tensão dramática e inquietação para o espectador, “O Próprio Enterro” oferece uma perspectiva mais leve. Isso não significa que os temas principais sejam menosprezados, mas sim que se adota uma abordagem menos sobrecarregada em relação aos aspectos jurídicos e legais de um caso de tribunal.

A amizade entre os dois protagonistas e o racismo são dois pontos importantes de “O Próprio Enterro”. O racismo é mostrado mais como relatos dos personagens durante boa parte do filme, sendo um ponto crucial para o próprio julgamento. Já a amizade entre O´Keefe e Gary se constrói com o desenrolar do caso; eles são diferentes, mas começam a criar uma empatia um pelo outro, que vai além do tribunal.

Mas, é importante ressaltar que o personagem de Lee Jones não se encaixa naquele estereótipo do “white savior”, como vemos em “Green Book: O Guia“. “O Próprio Enterro” também não tem interesse em passar a imagem de que somos todos iguais, mas sim em denunciar e mostrar a realidade do racismo nos Estados Unidos.

FOXX DOMINA A CENA

E é impossível falar desse filme sem mencionar o trabalho de Jamie Foxx como o advogado Willie E. Gary: trazendo comédia e emoções à flor da pele, não é exagero dizer que o filme gira em torno dele. Claro que a grande atuação e destaque de Foxx acabam ofuscando os demais trabalhos no filme. O próprio Tommy Lee Jones fica em segundo plano: o personagem do veterano não se desenvolve e muitas vezes parece apenas ler suas falas do roteiro sem nenhuma emoção. Não que isso seja um problema, mas ao comparar com Foxx, que parece dar tudo de si, isso torna o personagem menos interessante. Outros casos, como Jurnee Smollett e Mamoudou Athie, fazem o que propõem como coadjuvantes, mas ainda assim parecem ter seu potencial desperdiçado.

Em resumo, “O Próprio Enterro” certamente não é perfeito, mas oferece uma atmosfera única para aqueles que estão cansados dos filmes de tribunal ou nunca foram fãs desse gênero. Em muitos aspectos, é uma excelente opção para passar o tempo, se entreter e se divertir. Evidente que Jamie Foxx desempenha um papel fundamental nessa experiência, e sua presença é indispensável. Sem ele, a dinâmica de “O Próprio Enterro” seria completamente diferente, e muitos atores simplesmente não conseguiriam preencher o vazio que ele deixa.