Um casal de ex-amantes discute o passado e futuro de sua relação. A amizade e companheirismo que restaram sustentam os incômodos e ciúmes que surgiram? Um diretor em crise com seu novo filme discute com seus atores quais rumos a obra deve tomar. Eles serão capazes de absorver os delírios do chefe?

Em “O Trio em Mi Bemol”, a cineasta portuguesa Rita Azevedo Gomes adapta a peça homônima de Éric Rohmer construindo um filme dentro de um filme. Temos a narrativa em torno do casal, que logo descobrimos se tratar de uma obra sendo filmada. Assim, os protagonistas Rita Durão e Pierre León interpretam, cada um, dois personagens.

A diretora preza por um ritmo cadenciado e uma abordagem minimalista. Acompanhamos grandes diálogos sobre o finado relacionamento, em longos planos-sequência. O apreço da diretora é por uma câmera estática, e que nos leva a sensação de acompanhar uma pintura que fala.

Esse aparato estético visa uma imersão no cotidiano daquelas pessoas, estamos em casa juntos com eles, podemos olhar para onde quisermos, reparar em diferentes detalhes no ambiente e fluir junto aos personagens.

Ainda assim, o uso da repetição como dispositivo para alavancar o filme não funciona. O intuito de extrair da rotina e da monotonia uma sublimidade, perde-se durante as conversas sejam entre o casal ou as interrupções do diretor. O mecanismo no qual a obra se baseia, então, parece traí-la, e de onde se esperaria contemplação surge o tédio.

O filme assim se torna um exercício de linguagem que não consegue exprimir seu universo interior, para quem o assiste. Os bons diálogos, e a dinâmica sensível entre os atores combinam apenas para belos momentos isolados, o que se transforma na tônica de “O trio em Mi Bemol”.

Texto publicado na cobertura do Festival Olhar de Cinema 2022.