Em “Os Imperdoáveis”, Clint Eastwood propõe uma ressignificação de mitos do faroeste hollywoodiano. Aqui, o lendário e aposentado assassino de aluguel William Munny, interpretado pelo próprio diretor, embarca em uma tarefa para executar dois homens, mais de 10 anos após seu último contrato.

O diretor e o roteirista David Webb Peoples preenchem o filme com uma série de “desilusões” perante ao ideal de grande pistoleiro que Munny carrega. A primeira aparição do protagonista o coloca como um desajeitado criador de porcos, tendo que cuidar dos dois filhos pequenos. O homem cai na lama enquanto os bichos conseguem facilmente escapar de suas mãos.

Quando uma prostitua é desfigurada em algum lugar do Missouri, suas companheiras de bordel resolvem colocar uma recompensa pela cabeça dos dois responsáveis. Munny é procurado pelo inexperiente Schofield Kid (Jaimz Woolvett) para fazer o serviço.

ARQUÉTIPOS EM DESCONFORTO

A decupagem da obra permite que histórias paralelas sejam amarradas de forma muito concisa. Conforme os personagens aparecem em cena, a história parece meio dispersa em seu destino e a montagem trabalha para que o ritmo não se perca, e as escolhas de roteiro façam sentido. Afinal, o trabalho para a construção do clímax de “Os Imperdoáveis” está justamente na dispersão, em criar um universo onde nenhum dos personagens pareça totalmente confortável.

Munny não possui as mesmas habilidades dos grandes tempos, Schofield Kid é pouco preparado para o trabalho, o fiel escudeiro do protagonista, Ned Logan (Morgan Freeman) reclama com bastante frequência da falta que faz sua cama. Até mesmo o xerife Little Bill (Gene Hackman) que possui grandes feitos durante o filme, é um homem mais interessado em construir sua casa e viver em paz.

“Os Imperdoáveis” quer utilizar desses arquétipos para colocá-los em uma posição desfavorável, como vítimas de um mundo feito por eles, mas que não os preenche mais.

Entretanto, talvez o grande propósito de Eastwood seja não abrir mão totalmente dos valores que constituem o faroeste americano e o cinema estadunidense de uma forma geral.

Para cada “falha” dos personagens em se manterem como esses homens vorazes do Velho Oeste, o diretor introduz um apreço emocional para a família, a lealdade à esposa, o cuidado com os filhos, a presença da lei e até mesmo exaltações patrióticas. Um conservadorismo muito caro ao diretor, e do qual Clint sempre busca utilizar da melhor maneira, extraindo de momentos tradicionalistas grandes emoções.