De “O Poderoso Chefão” a “Cartas de Iwo Jima”, Caio Pimenta analisa da pior a melhor indicação de Clint Eastwood e Francis Ford Coppola ao Oscar.

4. SOBRE MENINOS E LOBOS 

A primeira de uma série de três indicações consecutivas do Clint Eastwood aconteceu em 2004. 

Em “Sobre Meninos e Lobos”, o diretor tem ao seu lado um elenco formidável liderado por Sean Penn em uma história de amargura e vingança dolorida.

Com sua forma condução elegante, Clint extrai toda a potência de uma trama até comum a elevando a um patamar altíssimo.

A sequência da tragédia que se abate ao protagonista é uma das maiores da carreira do astro. 

O Clint teria tudo para vencer o Oscar daquele ano não fosse o Peter Jackson dominar a cerimônia completamente com “O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei”. 

3. CARTAS DE IWO JIMA 

Ícone norte-americano, o Clint Eastwood poderia retratar uma das maiores batalhas sobre a Segunda Guerra Mundial apenas da já manjada ótica do país.

Porém, em “Cartas de Iwo Jima”, ele correu um risco tremendo e se deu muito bem. 

Além de ser falado em japonês, a produção capta com excelência o estado de espírito de soldados prestes a serem derrotados, absorvendo o espírito oriental mais reflexivo e contemplativo sem tentar adaptá-lo a um ritmo ocidental.

Isso para não falar do som e direção de fotografia realmente primorosos. 

O Clint poderia ter vencido, porém, o Martin Scorsese não tinha como sair perdedor novamente e levou o Oscar por “Os Infiltrados”. 

2. MENINA DE OURO 

A segunda estatueta da carreira do Clint Eastwood veio na edição de 2005. 

“Menina de Ouro” é o auge de como o Clint Eastwood amplia uma história aparentemente simples para algo complexo dentro de uma estrutura narrativa tradicional.

Desde a construção dos personagens até a condução executada de forma precisa da trama, tudo se encaixa à perfeição, incluindo, um desfecho corajoso para um diretor muitas vezes taxado de conservador. 

Tem vídeo aqui no canal contando a sobre a virada de “Menina de Ouro” para cima de “O Aviador” no Oscar 2005. 

1. OS IMPERDOÁVEIS 

Há quem considere o último grande faroeste da história do cinema – eu não vou tão longe por conta de “Jesse James” com Brad Pitt e até mesmo “O Regresso” com o Leonardo DiCaprio. Mas, “Os Imperdoáveis”, sem dúvida, é uma obra-prima do gênero. 

O Clint Eastwood realiza bem-vindas transgressões de marcas sagradas do western ao trazer o herói envelhecido e cansado, o xerife corrupto, o homem negro como fiel escudeiro do mocinho e personagens femininas se opondo ao domínio masculino predatório.

Com isso, “Os Imperdoáveis” atualiza o gênero para os tempos modernos com momentos de tirar o fôlego e figuras inesquecíveis. 

4. O PODEROSO CHEFÃO 3 

A conclusão da saga da família Corleone foi a indicação mais fraca da carreira do Francis Ford Coppola. 

E não, “O Poderoso Chefão – Parte 3” passa longe de ser um filme ruim ou até dispensável, como muita gente insiste por aí.

O longa consegue transmitir a sensação de tragédia que acompanha a velhice de Michael como resultado de uma trajetória sombria e marcada por muita violência. A sequência final no teatro é fabulosa. 

Se não fosse o desfecho da trilogia que teve duas primeiras partes irretocáveis, “O Poderoso Chefão 3” seria considerado obra-prima facilmente.

No Oscar 1991, o Coppola perdeu para o Kevin Costner, de “Dança com Lobos”, resultado para lá de contestável por conta da presença do Martin Scorsese, de “Os Bons Companheiros”. 

3. O PODEROSO CHEFÃO 

O primeiro longa da saga abre o pódio com a medalha de bronze. 

Quantos momentos icônicos da história do cinema o Francis Ford Coppola cria em “O Poderoso Chefão”?

A abertura paralela ao casamento, o atentado a Don Corleone, pai e filho conversando, Michael no restaurante, o destino de Sonny, o cavalo na cama e muitos outros.

Coppola ainda constrói todo um universo repleto de personagens com subtramas desenvolvidas à perfeição com a história principal e liderando um elenco brilhante. 

“O Poderoso Chefão” foi a consolidação da Nova Hollywood, faturou oito Oscars, mas, o Coppola inexplicavelmente perdeu a estatueta de Direção para o Bob Fosse, de “Cabaret”.  

2. O PODEROSO CHEFÃO 2 

Al Pacino em O Poderoso Chefão - Parte 2

Superar um filme perfeito, amado por todos sem a presença do personagem e ator mais conhecido do original era a missão de Coppola ao fazer “O Poderoso Chefão 2”. 

Para complicar o que já era quase impossível, o cineasta tinha uma trama dividida entre o passado e o presente com contextos políticos ainda mais amplos e polêmicos para a época em um projeto com 30 minutos a mais.

Seria a desgraça de qualquer cineasta, menos para Coppola, maestro deste épico que pode ser considerado melhor do que o original.  

Em 1975, a Academia não resolveu inventar e deu a estatueta para o Francis Ford Coppola, que aproveitou a oportunidade e deu uma cutucada por não ter vencido a categoria dois anos antes. 

1. APOCALYPSE NOW 

“Sem Novidade no Front”, “Nascido Para Matar”, “Platoon”, “O Franco-Atirador”, “O Resgate do Soldado Ryan” até tentam, mas, é impossível fugir desta unanimidade: “Apocalypse Now” é o maior e melhor filme de guerra já feito na história do cinema. 

O grande culpado disso é o Francis Ford Coppola com toda a escala épica para dar dimensão do horror da guerra. A enorme estrutura com helicópteros, tanques, explosões reais, gravações in loco, centenas e centenas de figurantes são impressionantes não importa quantas vezes você assistir ao filme. Mas, o diretor vai além ao fazer um manifesto antibélico ao mostrar a degradação mental gradual de jovens soldados perdidos em uma guerra sem sentido, deixando apenas um rastro de violência e napalm. Genial é pouco, muito pouco. 

Não entro nem na questão da vitória do Robert Benton, de “Kramer Vs Kramer”, no Oscar 1980, pois, não discussão: é ridículo e ponto.

A questão que deixo para vocês é bem mais complicada: qual das obras-primas é melhor – “Apocalypse Now” ou “O Poderoso Chefão 1 ou 2”? 

Meu favorito é o primeiro Chefão ainda que a direção do Coppola em “Apocalypse” seja mais marcante. 

AS MAIORES ESNOBADAS – “COTTON CLUB” E “AS PONTES DE MADISON”

Em filmografias tão fartas, é complexo eleger as maiores esnobadas. O Coppola seria fácil se não fosse uma norma equivocada da Academia, já o Clint é mais complicado. 

Em 1975, o Coppola merecia uma dupla indicação por “A Conversação”, porém, uma regra da Academia impedia que isso ocorresse e ele só pode disputar por “O Poderoso Chefão – Parte 2”.

Sendo assim, fico com “Cotton Club”, elegante drama musical sobre a tradicional casa noturna novaiorquina dos anos 1930.

Quanto ao Clint, fico com “As Pontes de Madison”, incursão do diretor no romance, desenvolvendo uma história madura e inteligente onde atua muito bem ao lado da Meryl Streep. 

Para colocar o Coppola por “Cotton Club”, eu sacaria o Robert Benton de “Um Lugar no Coração” e tiraria o Chris Noonan, de “Babe”, para a entrada do Clint.

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