Uma noite qualquer para dezenas de pessoas em uma mesa de bar. Mais uma cerveja, mais uma cadeira, mais alguém chegando, mais vozes ao redor, mais conversa para jogar fora, mais uma marchinha de carnaval na caixa de som. O mais banal dos cenários para a mais comum das histórias de terror na vida de uma mulher.

Dirigido por Sarah Margarido, “Prazer, Ana” parte do corriqueiro para envolver o espectador sem muita cerimônia em um bar que poderia ser o da esquina, rodeado de amigos e amigos em comum – os famosos “agregados” -, em uma noite que esconde centenas de traumas como os da personagem de Thayná Liartes.

Em poucas palavras, já se sente a futura culpabilização da sociedade pela violência que lhe aguarda em uma simples ida ao banheiro. “Bebeu demais”, vão dizer, provavelmente. “O que estava fazendo sozinha à noite?”, outra pessoa vai indagar, com o tom de julgamento reservado às mulheres.

Realmente, as dezenas de pessoas ali pouco importam, porque o que sobra para a personagem é a solidão. E, em seus breves cinco minutos, o curta parte da agonia de uma multidão tão bem representada em uma câmera inquieta, que roda e roda, à medida que as pessoas ali vão virando vultos.

Tudo isso para, no fim, resumir com tanta firmeza o abandono da mulher que é vítima de abuso sexual, que perde o simples direito de se divertir e que talvez nem vire estatística, porque denunciar talvez seja viver uma violência a mais.