Ada Harris (Lesley Manville) é uma senhora viúva, doméstica em uma Londres de 1950. Passa seus dias entre faxinas, fuxicos com sua melhor amiga Vi (Ellen Thomas) e um certo flerte com Archie (Jason Isaacs). Mrs. Harris, porém, é peculiar: ela vê positividade em tudo, quase nada lhe abala e todo dia, para ela, é um dia de sorte. Mesmo que há mais de dez anos espere notícias do seu marido desaparecido na guerra, ela espera esperançosa por notícias. Uma senhora divertida e agradável.

Até que em uma das suas faxinas ela vê uma das coisas mais lindas de sua vida: um vestido Dior. Seu encanto por aquela peça exclusiva transforma aquela senhora. E ela decide investir todos os seus recursos para também ter o seu vestido Dior. Nem que para isso tenha que redobrar as faxinas, investir na sorte e ganhar um dinheirinho inesperado. E ela parte rumo à cidade das luzes.

Claro, nada são flores ao chegar em território francês. E sua jornada rumo ao seu sonho se entrelaça na Maison Dior, com a modelo Natasha (Alba Baptista), o contador Andre (Lucas Bravo), o Marquês de Chassagne (Lambert Wilson) e a toda poderosa gerente Madame Colbert (Isabelle Huppert, expect em bad bitches).

LESLEY MANVILLE IRRESÍSTIVEL

O filme é uma adaptação homônima de Paul Gallico publicada em 1958 que teve uma única versão em 1992 intitulado “Um Sonho em Paris”, protagonizado por Angela Lansbury. Nesta nova roupagem, Anthony Fabian (“Mais de Mil Palavras”, 2013) dá um toque de fantasia. Sra. Harris é uma cinderela de meia idade cheia de sonhos e que também merece viver este sonho.

Ao enveredar por esse lado da fantasia Fabian cria uma narrativa simplória, algo que em outros tempos o filme daria recordes de audiência na Sessão da Tarde. Mas ainda assim, como certas camadas. Sra. Harris é uma senhora ainda com muitos sonhos e desejos e Fabian trata disso muito bem, pois os sonhos, em qualquer classe social e racial, são importantes na construção da pessoa. Sonhos não morrem e não deveriam morrer por suas condições sociais e até etárias. A busca de Harris para o seu vestido é muito mais do que a peça exclusiva em si, mas sobre si mesma e de como a esperança, sorte e disposição para viver são ferramentas importantes para sobreviver quando se pode ser uma pessoa invisível.

E o elenco é um primor. Lesley Manville é uma atriz sagaz e transforma a sua açucarada Mrs. Harris em uma personagem crível e interessante. Huppert não consegue ir além das caras de bocas de uma “vilã” que preza pela elegância dos ricos e famosos e tradições. E o restante do elenco exala química com a protagonista.

“Sra. Harris Vai à Paris” é um conto de fadas da terceira idade, nunca é tarde para seguir os sonhos e fantasiar uma vida melhor, ocupar espaços até então delimitados por elitismo e que os sonhos nunca e nem deveriam morrer.

Uma ressalva: os acontecimentos em Paris, como a greve que ela encabeça ou a forma que ela conquista a todos muito rápido torna a obra engessada e caricatural. Porém, no conjunto final, o saldo é positivo.