Parte da safra recente de filmes sobre true crime, “Ted Bundy: A Confissão Final” tem uma tarefa árdua em mãos: justificar a própria existência frente à miríade de títulos que ostentam o nome do serial killer como uma grife (“Ted Bundy: As Sobreviventes”, “Ted Bundy: A Irresistível Face do Mal”, “Ted Bundy: A Mente de um Monstro” e por aí afora).

É um labor que a diretora Amber Sealey tentou alardear o máximo possível na imprensa. Por exemplo, ela argumentou que seu filme se diferencia dos outros por utilizar esta ou aquela personagem secundária para representar as “vítimas silenciadas de Bundy”. Até trocar farpas publicamente com o diretor de “A Irresistível Face do Mal” ela trocou.

Assistindo ao produto final, no entanto, é preciso aceitar a dura verdade: toda essa labuta resultou em um filme que é tão esquecível quanto os outros supracitados.

E lá vamos nós…

Aqui, acompanhamos o agente do FBI, Bill Hagmaier (Elijah Wood), novato ambicioso e com uma carreira promissora pela frente, que é incumbido de conduzir entrevistas com Bundy (Luke Kirby) para delinear seu perfil psicológico. Missão aparentemente impossível, porque Bundy é notoriamente um sabichão, conhecido por rechaçar as investidas dos federais.

Partindo daí, o longa se desenvolve praticamente como um filme de câmera, com longas conversas não muito interessantes ambientadas em saletas cinza-escuro. Se isso não soa como algo particularmente emocionante, é porque não é – e suspeito que Sealey tenha plena consciência do fato.

Isso porque ver este “A Confissão Final” é assistir a uma diretora tentando injetar seu longa com alguma coisa, o que quer que seja. Daí surgem tiques como a câmera que gira em torno dos atores durante as conversas (leia-se: precisamos de dinamismo), ou a já mencionada tentativa de refletir a perspectiva das vítimas através de uma ou outra personagem feminina orbitando Bundy (que, francamente, é uma grande bobeira pueril que não oferece nenhum insight significativo sobre nada).

Mas talvez o pior crime de Sealey seja o uso de montagens com imagens de arquivo, todas filtradas pela mídia de alguma forma, da vida cotidiana no século XX. Não é difícil ver que Sealey está tentando algo. Mas, talvez por uma estratégia oblíqua ou por não ter realmente nada a dizer, a diretora faz questão de ser, a um só tempo, demasiadamente vaga e irritantemente repetitiva: a banalidade do mal, a midiatização da violência, o voyeurismo do assassino (e, implicitamente, do espectador) – tudo parece ser abarcado enquanto tema, mas nada é realmente articulado (sem falar na estúpida metáfora visual das “águas profundas” em que Bill precisa mergulhar).

Esforço ineficaz

Diante desse quadro, resta ao elenco carregar o fardo. Wood e Kirby, nos papéis centrais, até tentam, mas não conseguem sustentar a empreitada. Kirby, por exemplo, tem todos os tiques e maneirismos de quem não só estudou para um papel, como quer mostrar que estudou. Seu Bundy, perpetuamente com um sorriso azedo na cara, não transparece nenhum perigo ou inteligência, mas tem todos os trejeitos de uma boa imitação.

Virando-se com o que tem num papel bem menos espalhafatoso, Elijah Wood não deixa nenhuma grande marca no espectador. Nunca construímos uma ideia concreta de quem é esse homem quando não está batendo um papo com assassinos, mesmo que ouçamos menções à sua família. Como consequência, quando precisamos comprar que Bill está verdadeiramente perturbado, que Bundy finalmente entrou em sua cabeça, nossa resposta é a indiferença.

O que não deixa de ser apropriado para o filme como um todo. Longe de ser criminalmente ruim, é mais uma daquelas obras que parecem ter sido produzidas apenas para serem prontamente esquecidas.