A excelente primeira temporada de “The Last of Us” termina de forma ambígua: os impactos de tudo que passaram Joel e Ellie (Pedro Pascal e Bella Ramsey) está presente a cada momento refletindo nas duras decisões que cada um toma; por outro lado, nota-se uma certa pressa provocada pela curta duração do episódio – 43 minutos – e um impacto diluído do principal momento pelo que já vimos no domingo retrasado em “When We Are in Need”. 

O título derradeiro episódio da temporada – “Look for the Light” (Olhe para a Luz) – remete ao primeiro capítulo – “When You’re Lost in the Darkness” (Quando Estiver Perdido na Escuridão). Não é para menos: se Joel foi jogado na escuridão completa ao ter a filha morta em seus braços, agora, ele encontra a possibilidade de voltar a encontrar uma razão de viver em Ellie. Por outro lado, a perspectiva não chega a ser mesma para a jovem: aquela garota cheia de energia, falante e vibrante do começo da jornada surge mais fechada e traumatizada após a experiência com o Hannibal Lecter do apocalipse, fora todas as demais perdas e momentos desesperadores vividos ao longo da viagem. 

Toda esta mudança construída de forma gradativa por Craig Mazin e Neil Druckmann ao longo da primeira temporada apresenta um novo componente em “Look for the Light” ao colocar em questionamento a própria base da jornada. Joel e Ellie encaravam a viagem como uma missão a ser cumprida, o que se tornou um compromisso de honra, especialmente, após a morte de Tess (Anna Torv) no segundo episódio. Claro que, em certos momentos, houve possibilidades de simplesmente ficarem onde estavam como no grupo comunista, mas, sempre passava pelo medo de não se conseguir chegar ao destino final. 

RECONFIGURAÇÃO NA RELAÇÃO? 

Desta vez, o jogo muda de configuração: Joel não quer arriscar perder Ellie igual ocorrera com a filha. Se em um contexto normal faria todo o sentido do ponto de vista pessoal, no cenário de um apocalipse zumbi residindo a única esperança da humanidade justamente na garota, abre-se um verdadeiro conflito ético e moral. Figura tão fundamental na vida da heroína como fica claro no flashback de abertura do episódio, Marlene (Merle Dandridge) retorna justamente como este contraponto às motivações do personagem de Pedro Pascal, pois, ainda que nutra um carinho por Ellie, sabe dos sacrifícios necessários diante das circunstâncias. 

Pena os 43 minutos de “Look for the Light” serem curtos demais para explorar todos estes caminhos possíveis. A preferência é para a sequência do hospital, aguardada pelos fãs do game desde o início de “The Last of Us”. Curiosamente, o momento perde impacto pela rapidez com que tudo ocorre e filmado sem a mesma intensidade de outros trechos chaves de ação e terror da série.  

Nem mesmo a crueldade de Joel se mostra surpreendente – lembra de como ele trucidou sem piedade todo o bando de David (Scott Shepard) em “When We Are in Need”? A mensagem da carnificina, pelo menos, fica nítida na desconfortável cena final: a confiança inabalável de Ellie em Joel se quebrou de alguma maneira. A extensão dela seguirá em suspenso até o início da segunda temporada de “The Last of Us”.