John Wayne e Clint Eastwood criaram icônicos heróis do western norte-americano. Cheios de coragem, honra, imbatíveis e viris ao extremo, eles se tornaram uma imagem da persona masculina idealizada mundo afora. As duas obras mais importantes da filmografia de ambos, entretanto, foram justamente quando questionaram este padrão trazendo bem-vindas complexidades nas obras-primas “Rastros de Ódio” (1956) e “Os Imperdoáveis” (1992). 

Joel não precisou esperar tanto tempo para ter esta imagem de herói indestrutível colocada em xeque. “Parentesco”, sexto episódio de “The Last of Us”, explora o cansaço e o medo do protagonista em uma grande atuação de Pedro Pascal. A história inicia três meses após os acontecimentos em Kansas City e traz o esperado reencontro dele com o irmão Tommy (Gabriel Luna). 

Diretora do excelente “Quo Vadis, Aida?”, Jasmila Zbanic remete ao western para abordar estes fantasmas de Joel, lembrando a desconstrução do gênero trazida por Chloé Zhao no excelente “Domando o Destino“. Durante grande parte do episódio, acompanhamos a dupla caminhando ou a cavalo por longas estradas e campos, demonstrando como, mesmo após três meses, a jornada nunca termina nem o destino final parece ficar próximo. Este esforço para uma adolescente cheia de vida pode até incomodar, mas, não tem o mesmo desafio físico como exigido para um homem na casa dos 50 anos. Em “Parentesco”, nota-se o visível cansaço no rosto de Pascal tanto ao aparecer ofegante como ao dormir durante uma vigília – algo impensável para um herói tempos atrás. 

PROVOCAÇÕES BEM-VINDAS 

O desgaste físico não é o único e, talvez, seja o menor dos problemas: na divertida sequência inicial com um estranhamente divertido casal isolado, Joel demonstra grande preocupação ao saber do perigoso caminho, repleto de corpos, pelo qual precisa ir. E como poderia ser diferente? Afinal, a única certeza no mundo de “The Last of Us” é não saber se estará vivo no dia seguinte – vide tantos importantes personagens mortos em apenas um ou dois capítulos.  

O roteirista Craig Mazin coloca tamanha pressão psicológica de forma absolutamente tensa ao trazer Pascal simplesmente paralisado ao ver o cão se aproximar de Ellie (Bella Ramsey), quebrando mais um elemento tradicional do herói – a coragem capaz de tirar um coelho da cartola para resolver um problema impossível de se resolver. 

Somente a solidão do western permanece sendo companheira das angústias do herói: apesar da companhia da falante Ellie, Joel carrega as dores do passado com a perda da filha e das mortes executadas ao lado do irmão. Seguir em frente para dar a única esperança à humanidade acaba sendo também uma forma de compensar os sacrifícios e erros cometidos neste fim de mundo.  

Desta forma, o novo episódio segue a marca da adaptação de “The Last of Us” em propor ao público uma história para muito além de uma correria desenfreada de ação, trazendo provocações aos arquétipos da ficção e mundo real dos mais diversos tipos, incluindo, ainda um aceno curioso ao comunismo como proposta de uma nova sociedade mais generosa do que a atual.