Junho é comemorado o mês do Orgulho LGBTQIA+, essa sigla que a cada ano que passa cresce mais. Pode parecer confuso em um primeiro momento, mas é fundamental na construção e ressignificação de identidades. Fazer parte dessa comunidade não é um processo fácil e, sendo cis e negro, há outras violências que meu (nosso) corpo sofreu e sofrerá. Junho já passou, mas o respeito às diferenças e aos corpos diversos dentro dessa sigla é vitalício.

Afinal, ninguém escolhe sofrer exclusão social, bullying, viver com medo, apanhar nas ruas, ser expulso de casa e viver de subempregos. Essa é uma problemática assintomática para com esses corpos em específico. O Brasil, um país declaradamente racista, homofóbico, machista e elitista, dentro desse pensamento hegemônico da branquitude que ainda acha estar vivendo no século XIX, é um país que mais mata travestis no mundo, mas, a título de curiosidade, sexo com travestis é o mais pesquisado no país nos sites pornôs. Negros e negras ainda são sexualizados como máquinas sexuais para a disposição dos brancos, herança do sistema colonial que estuprava os corpos dos escravizados. Mulheres e homens trans, diariamente, têm suas vidas negadas e sexualidades como motivo de chacota. Isto é, tudo que vai contra ao padrão hétero, branco vai ser recriminado, oprimido.

No contexto do audiovisual, corpos LGBTQIA+ em suas diversidades nunca foram realmente representados. Você que está lendo isso agora, pense rapidamente, na história do cinema, quantas vezes filmes com esta temática foram realmente felizes? Com uma história leve, divertida, como aquelas comédias românticas com muita gente branca envolvida?

Agora pense quantas narrativas queer com atores negros você lembra? Recentemente tivemos “Tangerina” (2015), “Moonlight” (2016) e o brasileiro “Sócrates” (2018), ainda assim, muito pouco. E isso se intensifica quando pensamos em corpos trans.

A verdade é que o cinema também faz parte do problema e reafirmou ao longo dos anos os estereótipos. Negros e negras, gordos, a população LGBTQIA+ como um todo, nunca foram de fato representados, a não ser como escapismo do humor ou para sofrer. Como se nossas vidas sempre fossem atreladas ao sofrimento. Sofridos? Sim! Mas não queremos falar/ver só isso, há pluralidade em todas estas vivências e narrativas.

Hoje em dia, a diversidade está em voga. Há diversas produções voltadas ao gênero LGBTQIA+ mas, mais uma vez, mais da metade são protagonizados por atores brancos, cis e héteros. Como se identificar assim? Eu não posso ser representado? Eu não tenho direito de me ver nas telas? Eu não posso amar, ser amado, ser disputado e ter um final feliz? E quando eu falo eu é no sentido coletivo. O eu, aqui, somos nós.

Sexo é muito mais que o biológico e um órgão reprodutor. Gêneros existem, em plural. O momento de conscientização já passou há tempos. Existimos, resistimos e estamos aqui para contar nossas histórias, reafirmar nossos corpos, mostrar que somos sim, dignos que ter nossas histórias contadas, nos ver, nos reconhecer e nos amar. Respeito é bom e eu gosto, sabe? Nos respeitemos.