O cinema amazonense comemora um marco histórico em 2022 com o centenário de lançamento de “No Paiz das Amazonas”, obra-prima de Silvino Santos, português pioneiro no audiovisual na região. Para celebrar esta data, o Cine Set em parceria promove uma roda de conversa sobre a produção dentro da programação do quarto Festival Olhar do Norte.

Marcado para este sábado, dia 22 de janeiro, a partir das 11h (horário de Brasília), o encontro será mediado pelo professor e produtor Gustavo Soranz com as presenças do pesquisador Sávio Stoco e do diretor Aurélio Michiles. Você poderá assistir de participar do debate no canal do Cine Set no YouTube (clique aqui).

O FILME

No Paiz das Amazonas foi lançado originalmente em 1922, e ganhou destaque mundial depois de sua sessão de estreia no Rio de Janeiro, durante a Exposição do Centenário da Independência. O longa documenta as belezas naturais da região amazônica, e é considerado hoje um dos mais importantes documentos históricos da Amazônia.

O filme é uma das obras mais conhecidas de Silvino Santos que, embora nascido em Portugal, passou boa parte da vida no Amazonas, onde consolidou sua produção cinematográfica. Em 2014, “No Paiz das Amazonas” passou por um processo de restauração, resultado do trabalho de pesquisa de Sávio Stoco, então integrante do Núcleo de Antropologia Visual da Universidade Federal do Amazonas (Navi/Ufam).

OS PARTICIPANTES

Mediador do encontro, Gustavo Soranz é doutor em multimeios pela Unicamp e professor visitante no Pograma de Pós-Graduação em Artes da Universidade Federal do Pará. Graduado em Rádio e TV e mestre em Sociedade e Cultura na Amazônia, publicou artigos sobre cinema na Amazônia, documentário e o verbete Brazil, na Encyclopedia of Documentary Film, editada em 2006. É membro do Núcleo de Antropologia Visual da Universidade Federal do Amazonas (NAVI/UFAM) e do Grupo de Pesquisa Documentação e Experimentação em Sistemas Audiovisuais, da Unicamp. Soranz já dirigiu os documentários “A Amazônia segundo Evangelista” (2012) e “Cine Metro” (2015). 

“No Paiz das Amazonas” é um importante documento histórico sobre a riqueza natural e social da Amazônia, um filme monumental sobre uma região que ainda desperta muita curiosidade e interesse no imaginário mundial. Acho que representa uma bússola para o cinema amazonense, a indicar que é no interior da floresta, nos seus caminhos de rios e trilhas pela mata que estão os personagens e as histórias autênticas que essa região reúne e que aguardam o momento de serem registradas e interpretadas pelos meios do cinema, revelando as relações complexas entre natureza e cultura, entre cidade e floresta, entre tradição e modernidade ali existentes.

Gustavo Soranz

co-fundador da Rizoma Audiovisual

Aurélio Michiles, diretor de

Já Aurélio Michiles é cineasta e documentarista. Iniciada nos anos 1980, sua obra em filme e televisão tem como foco a região e os povos amazônicos. Cursou o Instituto de Artes e Arquitetura da UnB, em 1973; e Artes Cênicas na Escola de Artes Visuais, Parque Lage, no Rio de Janeiro, entre 1977 e 1978. Dirigiu filmes premiados, como O cineasta da selva (1997), Que viva Glauber (1991), Teatro Amazonas (2002) e Lina Bo Bardi (1993), e A agonia do mogno (1992), Tudo por amor ao cinema (2014) e o recente “Os Segredos de Putumayo” (2021).

O que chama a atenção no trabalho de Silvino Santos em seu monumental registro documental na Amazônia, é o desprendimento que não limita a sua vontade em registrar, mesmo com as adversidades natural das locações e das limitações do seu equipamento. Dito isso basta assistir às imagens captadas por ele para se constatar o esmero nos enquadramentos e na qualidade da fotografia. Silvino Santos é um cineasta épico.

Aurélio Michiles

diretor de "O Cineasta da Selva" e "Os Segredos do Putumayo"

Sávio Stoco é professor do curso de Artes Visuais da Universidade Federal do Pará (UFPA). Doutor em Meios e Processos Audiovisuais pela Escola de Comunicações e Artes (ECA/USP) com a tese “O Cinema de Silvino Santos (1918 – 1922) e a representação amazônica: história, arte e sociedade”. Mestre em Artes Visuais pelo Instituto de Artes da UNICAMP. Direciona sua pesquisa no campo da História da Arte, se atendo atualmente ao repertório de produções artísticas/visuais amazônicas na interface com a ecologia. Autor do livro “Cine AM”, coletânea de matérias e reportagens sobre audiovisual feita durante a passagem dele por jornais amazonenses.

Sinto que No Paiz das Amazonas encanta hoje, primeiramente, pela narrativa cinematográfica moderna. Não era comum para a época um filme documental brasileiro do início da década de 1920 com sequências tão estruturadas, ágeis e além disso, algumas, envolventes, com humor, como o presente na cena da comparação das funcionárias de uma fábrica que descascam castanhas com um macaco abrindo esse fruto com uma pedra. Além dessa parte, vemos diversos outros recursos de envolvimento do público, tais como as cenas de animais ameaçadores (jacarés, cobras etc.) e a da “sensualidade” das indígenas peruanas, com seus ornamentos de pintura corporal durante uma cerimônia. Certamente, hoje, nós não recebemos todos esses recursos narrativos da mesma maneira (é o caso das indígenas), por outros lado, muitos deles tiram o filme de um discurso muito rígido, informativo – coisa que também a narrativa não se furta. Então, essa mistura entre informação e diversão perfaz muito o efeito geral do filme para as audiências da época e hoje e, entendo, que assim nos pegamos muito admirados e envolvidos com No Paiz das Amazonas!

Além disso, para os amazonenses/amazônidas, ou pessoas conhecedoras da identidade de Manaus/Amazônia, notamos ou sentimos, no filme, o quanto Silvino Santos de modo muito hábil se vinculou a tradições discursivas/visuais sobre esses territórios. A sequência inicial que focaliza os principais edifícios da cidade, chama atenção nas audiências de hoje. Identificar lugares, construções, ver as ruas por onde passamos, tudo isso aflora uma curiosidade grande. Fazemos intuitivamente comparações entre os tempos. Muitas das quais podem nos possibilitar refletir sobre os destinos da cidade, da sua relação com o patrimônio e a natureza.

Sávio Stoco

professor do curso de Artes Visuais da Universidade Federal do Pará

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