De “Pinóquio” a “Red”, Caio Pimenta analisa quais os favoritos e os azarões rumo ao Oscar 2023 de Melhor Animação.

DISNEY/PIXAR

Ganhador de 15 das 20 edições de Melhor Animação até o momento, a dobradinha Disney/Pixar terá dificuldades de manter a hegemonia para a temporada 2023. Faltam sucessos arrebatadores capazes de virar o jogo. 

Dos longas já lançados até agora, sem dúvida, “Red: Crescer é uma Fera” é quem tem mais chances. A animação dirigida pela Domee Shi obteve ótima recepção de público e crítica com uma história de transição da infância para a adolescência da protagonista em choque com a mãe. Adaptar a metáfora oriental para uma realidade ocidental através de conflitos universais tornam a produção um verdadeiro achado de um ano não tão inspirado do estúdio. 

Esta crise, aliás, veio de onde menos se esperava: “Lightyear” não conseguiu aproveitar todo o carisma do inesquecível personagem de “Toy Story” e foi um dos maiores fracassos de 2022. Uma história nada inspirada, personagens secundários sem graça e um protagonista apagado. 

A maior esperança da Disney reside em “Mundo Estranho”. Dirigido pelo ganhador do Oscar com “Operação Big Hero”, Don Hall, a animação tentará o embalo de última hora que ocorreu em 2021 com “Encanto”. O trailer mostrando a história da família com conflitos explorando novos mundos, entretanto, passa longe de ser das mais empolgantes com uma carinha de mais do mesmo.  

Neste cenário, acredito que “Red” seja a mais forte chance da Disney/Pixar na corrida. “Lightyear” ser indicado será um tapa na cara dos demais estúdios e produções: o longa corre o risco de ser o pior indicado da categoria em muito tempo. Quanto a “Mundo Estranho”, minhas expectativas estão baixas, mas, tomara que eu me engane. O filme estreia no dia 24 de novembro nos cinemas brasileiros. 

NETFLIX

Com este vácuo aberto pela Disney e Pixar, a Netflix pode se aproveitar bastante. Para isso, contará com um mexicano em alta dentro da Academia. 

Se “O Labirinto do Fauno” iniciou o romance do Oscar com o Guillermo del Toro, “A Forma da Água” deu o match definitivo, reforçado pela indicação até inesperada de “O Beco do Pesadelo” neste ano. Agora, o cineasta chega com “Pinóquio”. A nova versão do clássico estreou no American Film Institute Fest e foi extremamente bem-recebido: até agora, possui 100% de aprovação no Rotten Tomatoes com 24 críticas já publicadas.  

Há quem considere na imprensa americana uma vitória certa de “Pinóquio” em Melhor Animação, sendo especulado sobre a possibilidade para Melhor Filme. Ainda que considere cedo para tal afirmação, ao mesmo tempo, não posso negar como isso é um cenário bem factível.  

Acredito que a Academia possa ver no longa do Del Toro a possibilidade de prestigiar um player da indústria que vem investindo no setor há algum tempo, mas, ainda sem Oscar. Para Melhor Filme, a briga é mais pesada, mas, como a Netflix anda mal com seus escolhidos, “Pinóquio” pode ser o candidato inesperado que dá certo. 

A animação do Del Toro, entretanto, não será a única opção do streaming para a categoria. 

Lançada em outubro, “Wendell & Wild” pode ser o segundo filme da Netflix em Melhor Animação. Com direção do Henry Selick, do clássico “O Estranho Mundo de Jack”, a produção mostra dois irmãos enfrentando uma freira e um casal de adolescentes góticos. O filme teve boa recepção junto à crítica – 81% de aprovação no Rotten Tomatoes – e com uma categoria sem grande concorrência, tende a ter boas chances de nomeação. 

Quem também pode chegar é “Apollo 10 ½”, do Richard Linklater. Após ter sido considerado inelegível pelo uso de muitas filmagens em live-action transformadas em animação pela técnica do rotoscópio, a produção conseguiu dobrar a Academia e voltou para o jogo. Mesmo não tendo sido muito aclamado, há um carinho da indústria com o diretor de “Boyhood” e da trilogia “Antes do Amanhecer” capaz de fazê-lo chegar ao Oscar. 

Completam o time netflixiano “O Dragão do Meu Pai”, “A Fera do Mar” e o japonês “Drifting Home”. Todos eles correndo por fora neste momento. Da turma dos streamings, a Apple aposta em “Luck”, mas, nem mesmo o John Lasseter será capaz de ajudar este filme preguiçoso. 

SUCESSOS DE PÚBLICO COM POUCAS CHANCES

Alguns personagens queridos do grande público tentarão aparecer entre os cinco finalistas. 

O Gato de Botas da franquia Shrek terá que abusar da fofura para convencer a Academia a indicá-lo. Porém, se o esquecível primeiro filme obteve a proeza da nomeação em 2011, por que duvidar do felino na continuação mais de uma década depois? 

“Minions: A Origem de Gru” pode até ser a quarta maior bilheteria do ano e o apoio da Universal Pictures, porém, a franquia, até hoje, só conseguiu uma nomeação com o segundo “Meu Malvado Favorito”. Não há fofura dos seres amarelinhos que faça a Academia se dobrar a eles, pelo visto.

Versão para o cinema da sitcom com 13 temporadas, “The Bob’s Burgers Movie é azarão mesmo com a força da 20th Century Studios. E “DC Liga dos Superpets” não foi abraçado por crítica e público, logo, parece impensável entre os finalistas. 

OS CULTS

Há também aqueles candidatos mais undergrounds lutando no meio de gigantes por uma indicaçãozinha.  

Igual “Apollo 10 ½”, o canadense “Marcel the Shell with Shoes On”, da A24, superou a inegibilidade imposta inicialmente pela Academia. A produção é uma versão em longa do curta de 2010 e traz a história da realização de um documentário de sucesso sobre uma concha e sua família, tornando-os sucessos mundiais. O filme é um dos mais elogiados do ano – 99% de aprovação no Rotten Tomatoes perante a crítica e 91% junto ao público. Pode ser o candidato cult da temporada. 

A ópera rock japonesa “Inu-Oh” corre por fora nesta disputa. A produção do Masaaki Yuasa estreou dentro da Mostra Horizontes do Festival de Veneza, sendo bastante elogiada pelo visual extravagante. E, por fim, há “Eternal Spring” sobre a repressão na China contra minorias étnicas e grupos religiosos e “Ainbo: A Guerreira da Amazônia” sem maiores chances. 

Diante disso, acredito que os finalistas serão: 

  • Red (Disney/Pixar) 
  • Mundo Estranho (Disney) 
  • Pinóquio (Netflix) 
  • Apollo 10 ½ (Netflix) 
  • Marcel the Shell with Shoes On (A24)