Cord Jefferson levou o Oscar de Melhor Roteiro Adaptado por “Ficção Americana”. Apesar de ter superado o todo-poderoso “Oppenheimer”, não chega a ser um resultado surpreendente.

Neste post, eu apresento os cinco motivos para esta conquista.

1. PAUSA À AVALANCHE DE ‘OPPENHEIMER’

Dois fatores menores somam 5% cada um para esta vitória de “Ficção Americana”. 

Roteiro Adaptado foi visto pela Academia como a categoria de alívio em meio a avalanche promovida por “Oppenheimer” neste Oscar 2024.

No cálculo dos votantes, pode ter pesado o fato de que Christopher Nolan já venceria em Filme e Direção, logo, era possível abrir uma brecha para premiar outro candidato.

Nesta linha de raciocínio, o Cord Jefferson se deu melhor. 

2. ÚNICA POSSIBILIDADE DE VITÓRIA – 5%

Aliás, aqui era a única possiblidade de conquista de “Ficção Americana”.

A produção lançada no Prime Video não tem chances nas outras quatro categorias em que disputa.

Desta maneira, a vitória aqui seria prestigiar uma produção que caiu nas graças da indústria, vide a inesperada indicação ao SAG de Melhor Elenco. 

3. HOLLYWOOD FALANDO DE SI MESMA – 20%

Subindo um pouquinho mais de relevância, 20% desta vitória está na conta de Hollywood adorar falar de si mesma.

De “A Malvada” e “Crepúsculo dos Deuses” até chegar em “Birdman”, La La Land e “Era uma vez em Hollywood”, a indústria adora expiar seus pecados em público – dentro, claro, de uma zona de segurança que fique tudo certo.

“Ficção Americana” faz um pouco desta autocrítica a ponto de colocar o termo ‘Oscar bait’ pela primeira vez entre as produções indicadas a Melhor Filme.

Em um meio tão vaidoso como é o cinema norte-americano, o texto do Cord Jefferson cai como uma luva. 

4. PAUTA RACIAL – 20%

Também considero na casa dos 20% para este resultado o fato do roteiro abordar os estereótipos com que os negros são retratados nos showbusiness norte-americano.

Um assunto caro para uma parcela significativa dos votantes e que se casa com a busca por uma maior diversidade dentro da Academia.

Cord Jefferson, aliás, marca o retorno da vitória de roteiristas negros na categoria: a última vez foi com o Spike Lee por “Infiltrado na Klan” em 2019. 

5. QUALIDADE DO ROTEIRO – 50%

A qualidade do roteiro de “Ficção Americana” fica com os demais 50% da vitória. Apesar de não ser muito fã do filme e do próprio roteiro, reconheço que o Cord Jefferson, a partir do Percival Everett, traz momentos inspirados, principalmente, quando é extremamente ácido e crítico na forma como a indústria aborda os negros, inclusive, com cenas de filmes premiados no próprio Oscar.

Ainda vejo uma bonita intenção de tentar colocar os personagens negros do filme vivendo dramas reais e humanos, deixando, claro, a possibilidade de que existe sim espaço para retratos mais honestos da comunidade nos EUA. 

Por outro lado, sinto que este mesmo roteiro parece atenuar muita das críticas e fica longe de explorar muito bem o drama da família do personagem do Jeffrey Wright.

No fim, “Ficção Americana” me soa como um tapinha nas costas de quem deseja fazer parte da mesma indústria do que ser realmente transgressor.