De Sergio Leone a Agnés Varda, Caio Pimenta apresenta uma lista de cineastas nunca indicados ao Oscar de Melhor Direção.

DE BUÑUEL A Peckinpah

O estilo convencional da Academia pouco bate com diretores mais ousados, inovadores e contestadores. Por isso mesmo, não surpreende em nada ver estes nomes dois nomes que abrem a lista terem sido esnobados sucessivas vezes. 

Se a forte inspiração surrealista de “Um Cão Andaluz” e “A Idade do Ouro” surgiram justo nos primórdios da premiação, o Oscar poderia ter sido mais generoso com o Luis Buñuel em “Os Esquecidos”, “Viridiana” e “O Anjo Exterminador”.

Se o clássico “A Bela da Tarde” foi totalmente ignorado, pelo menos, “O Discreto Charme da Burguesia” e “Esse Obscuro Objeto do Desejo” renderam indicações em roteiro adaptado. Pouco para um dos cineastas mais marcantes de todos os tempos. 

Provocador ao extremo, o italiano Pier Paolo Pasolini pode ser visto quase como uma antítese do modelo do Oscar.

Por mais brilhantes que sejam, “Édipo Rei”, “O Decameron”, e, especialmente, “Saló ou os 120 Dias de Sodoma” são obras longe de qualquer jogo ou estratégia para chegar ao consenso ou aclamação geral procuradas pela festa.

Se conseguissem, teriam fracasso em sua essência e proposta.   

Neste caso, o Pasolini ser esnobado pelo Oscar é uma conquista.  

Gênero fundamental para a história do cinema americano, o western nem sempre foi tão aceito pela Academia a partir de um determinado momento. Dois diretores históricos sofreram demais com isso. 

Nome maior do western spaghetti, o Sergio Leone firmou uma parceria histórica com o Clint Eastwood e o Ennio Morricone na trilogia dos dólares.

Os três clássicos foram solenemente ignorados assim como “Era uma vez no Oeste” e “Quando Explode a Vingança”.

Nem mesmo o épico sobre a máfia, “Era uma vez na América”, convenceu o Oscar em uma época de ouro para os filmes do gênero. 

Antes de Quentin Tarantino, o Sam Peckinpah colocou o sangue para jorrar em “Meu Ódio Será Sua Herança”, algo raro no western.

Diferente dos filmes do Sergio Leone, o clássico até beliscou nomeações na edição de 1970 em Roteiro Original e Trilha Sonora.

“Sob o Domínio do Medo” foi outro grande filme do diretor que quase não teve vez no Oscar. 

 ROMERO A Fassbinder

Os dois próximos diretores fizeram filmes queridos que estão na mente do grande público até hoje. 

O George A. Romero, por exemplo, já começou chutando a porta ao estrear nos cinemas em 1968 com “A Noite dos Mortos-Vivos”.

Depois, vieram outros sucessos como “Despertar dos Mortos” e “Creepshow” – isso só para ficar nos mais populares. Igual ocorre hoje, o terror nunca despertou muito interesse na Academia e Romero foi esnobado em todas as ocasiões. 

O John Hughes realizou clássicos do cinema adolescente nos anos 1980, entre eles, “O Clube dos Cinco”, “Curtindo a Vida Adoidado” e “Antes Só que Mal Acompanhado”.

Todos os três foram ignorados pela Academia não obtendo nenhuma nomeação. 

Como sempre digo, o Oscar nos anos 1980 foi tenebroso e até mesmo desconectado com o que melhor Hollywood produzia na época que eram justamente estas obras mais populares.

Mas, quem dera, esta falta de visão ficasse apenas para estas obras: grandes diretores europeus também penaram na festa. 

Que o diga o Andrei Tarkovsky: o cineasta soviético de “Solaris”, “Stalker” e “Nostalgia” nunca passou perto do radar do Oscar, algo natural se comparado ao que a Academia prestigiava e ele produzia de perfis completamente antagônicos.

Em situação bastante parecida estava o Rainer Werner Fassbinder: nem mesmo a fase espetacular do diretor alemão com clássicos mais populares como “O Casamento de Maria Braun” teve chances de aparecer na corrida pelo prêmio. 

LANG E VARDA

Para encerrar este especial, reservei dois nomes históricos que fizeram o cinema ser esta arte tão amada. 

O primeiro deles é o Fritz Lang.

Se o Oscar pode usar como justificativa não ter sido criado antes do lançamento de “Metrópolis”, a mesma desculpa não dá utilizar nas esnobadas a “M – O Vampiro de Dusseldorf” e, já com o diretor austríaco em Hollywood, nos clássicos “Almas Perversas”, “Um Retrato de Mulher” e “No Silêncio de uma Cidade”. 

E, claro, que não poderia falar Agnès Varda: o maior nome feminino da Nouvelle Vague deveria ter sido indicada em 1963 pela obra-prima “Cléo das 5 às 7”.

Se derrotar o David Lean por “Lawrence da Arábia” seria praticamente impossível, o título de ser a primeira mulher nomeada em Direção no Oscar era mais do que justo.  

A oportunidade de chegar à festa da Academia somente veio mais de meio século depois quando concorreu entre os documentários por “Visages Villages”, perdendo para “Icarus” em mais uma pisada de bola do evento.