Com 11 indicações, “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo” se tornou o grande favorito ao Oscar 2023.

Agora, quais os fatores que fazem a ficção científica dos Daniels ocupar este posto?

FORÇA NAS PRINCIPAIS CATEGORIAS 

De todas as indicações de “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo”, sete delas estão nas categorias principais de filme, direção, atuações e roteiro. E em todas, surge com grandes chances de vitória. 

O favoritismo em Ator Coadjuvante com o Ke Kuy Quan é total. Não bastasse a excelente atuação, ele vive um verdadeiro conto de fadas ao ressurgir depois de um longo período de apagamento. Os discursos feitos no Globo de Ouro e Critics Choice Awards reforçaram esta narrativa. Qualquer outro resultado que não seja a vitória dele será surpreendente. 

Já em Atriz Coadjuvante, a situação é mais difícil: Angela Bassett, de “Wakanda Forever”, assumiu a dianteira da corrida, porém, Jamie Lee Curtis é uma atriz querida na indústria e está em uma inédita indicação ao Oscar. Pensar em uma vitória de Stephanie Hsu também não é impossível visto que a Academia gostar de prestigiar novos talentos como ocorreu com a Ariana DeBose em 2022, Alicia Vikander em 2016 e Lupita Nyong’o em 2013. 

A Michelle Yeoh trava um duelo pesado com a Cate Blanchett. Se a estrela de “TÁR” carrega a força de ser uma das maiores de sua geração, a malasiana está em busca do primeiro Oscar e possui um imenso prestígio na indústria. 

Se ganhar duas das três possibilidades em atuação, dá um passo decisivo para dominar a festa e encaminhar Melhor Filme. Agora, isso pode ser garantido mesmo caso vença Roteiro Original, afinal, “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo” encara os principais rivais da categoria máxima: “Os Fabelmans e “Os Banshees de Inisherin. 

Vale lembrar que, nos últimos anos, os vencedores de Melhor Filme ganharam os prêmios de roteiro quase sempre: foi assim com “12 Anos de Escravidão”, “Spotlight”,“Birdman”, “Moonlight”, “Green Book”, “Parasita” e “Coda”. 

DOMÍNIO NA TEMPORADA 

“Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo” está presente em todos os eventos pré-Oscar. E as chances de levar a maioria deles é enorme. 

Levando em consideração os prêmios principais, o começo da temporada pode ser difícil para a produção da A24. No fim de semana de carnaval, os Daniels terão um desafio e tanto: superar o Steven Spielberg no Sindicato dos Diretores.  

O cineasta de “Os Fabelmans” tem a narrativa ao seu lado para conquistar o DGA, mas, caso vença aqui, a dupla de “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo” praticamente garante a categoria no Oscar. Já o Bafta tende a consagrar a prata da casa em “Os Banshees de Inisherin”, repetindo o que ocorreu com “Três Anúncios Para um Crime”. 

A semana seguinte, entretanto, promete iniciar o sprint: “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo” é o favorito para levar o PGA e o SAG. Junto aos produtores, a maior ameaça é “Top Gun: Maverick” pela predileção por grandes sucessos de bilheteria, mas, a ficção científica também não fez feio neste quesito. Já entre os atores, há clima semelhante ao que ocorreu com “Parasita” e “Coda”, ou seja, obras que foram abraçadas por esta ala da Academia de forma entusiasmada. 

E no último fim de semana pré-Oscar, o Sindicato dos Roteiristas deve premiar os Daniels entre os originais. Aqui, vai contar com a ausência de “Os Banshees de Inisherin” para levar a categoria. Caso tudo isso se confirme, “Tudo em Todo Lugar” chegará no dia 12 de março em uma onda avassaladora para garantir o Oscar. 

APELO POPULAR 

Não é de hoje que a maior premiação do cinema está desesperada por audiência e recuperar a credibilidade perante o público, especialmente, as gerações mais jovens. Premiar “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo” seria uma saída ideal. 

Como ficou provado logo após as indicações, a ficção científica reúne uma legião de fãs nas redes sociais dispostos a tudo para apoiá-la – às vezes, diga-se, de maneira exagerada. As avaliações no Rotten Tomatoes, Meta Critic e Letterboxd são altamente positivas. Ainda que a bilheteria não seja estrondosa – US$ 105 milhões ao redor do planeta – essa paixão toda pode até inibir campanhas negativas mais fortes como já ocorreu com outros favoritos em edições anteriores. 

Claro que o apelo popular não bastaria para vencer – se fosse somente isso, “Avatar: O Caminho da Água” e “Top Gun: Maverick” seriam os vencedores. “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo” conseguiu também a aprovação da crítica, fazendo um equilíbrio perfeito entre prestígio do público, imprensa e indústria.  

Resumindo: exatamente o que o Oscar deseja. 

ORIGINALIDADE EM HOLLYWOOD 

Este carinho imenso se deve em grande parte a uma suposta originalidade que o filme traz para uma indústria como Hollywood, cada vez mais dependente de continuações. 

Enquanto a Marvel explora multiversos de uma forma cada vez mais padronizada com os filmes se repetindo, os Daniels oferecem uma verdadeira loucura que mistura ficção científica, comédia, drama familiar, grandes cenas de ação e luta em uma única obra. 

Isso se soma a uma montagem dinâmica e rápida com um acontecimento atrás do outro de forma vertiginosa. Há quem considere “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo”, aliás, como uma produção moldada no ritmo de TIkTok. Para completar, as referências ao mundo do cinema que vão de Wong Kar-Wai a “Ratatouille” também estão lá. 

Dentro deste panorama, “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo” pode trazer a modernidade (ou aceno de) que a Academia busca para falar com uma geração mais jovem sem esquecer os mais antigos. 

REPRESENTATIVIDADE ASIÁTICA E FEMININA 

Vencer o Oscar não é apenas sobre ser melhor filme ou não. Há narrativas, mensagens políticas, questões representativas presentes nas escolhas da Academia. 

A vitória de “Coda” pode ser vista tanto sobre o prisma da esperança de um mundo que começava a se recuperar da pandemia como da inclusão de pessoas que sempre foram relegadas a segundo plano no cinema.  

Já “Parasita” foi o aceno definitivo da Academia para a abertura internacional da entidade, enquanto “Green Book” marcou uma tentativa torta de olhar para questão racial tentada com mais êxito por “Moonlight”. 

Tais aspectos sempre estiveram presentes no Oscar e, caso “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo” ganhe, não será diferente. 

Sem mulheres em Melhor Direção, a Academia pode enxergar a possibilidade de se redimir ao premiar um filme com um elenco de protagonistas predominantemente feminino.

Também não dá para esquecer da representatividade asiática representado por Yeoh, Quan, Hsu e o diretor/roteirista Daniel Kwan. 

De quebra, serve para o Oscar demonstrar não ter preconceito com gêneros queridos do público como a ficção científica.