Sempre vi o vampiro como o aristocrata dentre os monstros dos filmes de terror. Enquanto o Lobisomem é o proletário e os zumbis, a plebe, o vampiro é aquele sujeito cheio de si e vaidoso, ciente de pertencer a uma casta superior graças às suas características. O vampiro é versátil, pois há tipos diferentes, como sabores de sorvete: o monstruoso, o galã, o que brilha ao sol, o que se esconde no escuro… Tanto homens quanto mulheres experimentam o seu apelo sexual – que pessoa, independente do sexo, não sente um arrepiozinho diferente, e não se identifica com qualquer uma das partes, quando o sanguessuga entra no quarto da vítima desconhecida? E claro, tem o apelo da vida eterna. Não deve ser legal passar a vida como um lobisomem ou como zumbi, mas como vampiro…

LEIA TAMBÉM: Especial Cinema de Terror – Editorial

Mas a parte da sedução acabou saindo um pouco do controle nos últimos anos. O vampiro é um monstro, e para mim os melhores filmes com ele não deixam o público se esquecer disso. Ele é um agente do caos, feito para perturbar as vidas tranquilas dos personagens das histórias. E os vampiros dos cinco filmes escolhidos nesta lista com certeza causaram muito caos e chamaram a atenção do público.

Nosferatu (1922)

Ao fazer essas listas tentamos sair do óbvio, mas às vezes não dá. Ainda são pouquíssimos os vampiros capazes de se equiparar ao terrível Conde Orlok no clássico alemão do cinema mudo do diretor F. W. Murnau. Como um rato humano, Orlok vem de barco trazendo a peste até a cidade de Wisbourg, em cenas ainda hoje estranhas e inesquecíveis. Max Schrek tem a atuação de uma vida no papel do vampiro, mesmo que apareça pouco. Momentos como a sombra dele aparecendo na parede, com seus dedos enormes esticados na direção da porta, e o seu ataque à mocinha Ellen (Greta Schröeder), se eternizaram na consciência coletiva de espectadores de cinema no mundo todo. Não se intimide pelo fato do filme ser muito velho ou mudo: Nosferatu ainda representa a essência do cinema de terror.

O Vampiro da Noite (1958)

Este ano Christopher Lee morreu. Mesmo. Tristemente, não foi preciso uma estaca no coração ou a luz do sol, e as mortes de atores famosos por interpretar personagens imortais são sempre acompanhadas de ironia. Ninguém ainda chegou a um consenso definitivo sobre quem foi o melhor Drácula, ele ou Bela Lugosi. Gosto de ambos, mas o primeiro filme de Lee como o maior dos vampiros é indiscutivelmente melhor que o de Lugosi. Imponente, altão e com aquela voz, Lee é a encarnação de algo diferente e sedutor, que por sua própria natureza perturba o status quo da sociedade. Tão sedutor que a Inglaterra vitoriana precisou combatê-lo, nascendo assim também o seu antagonista, o melhor Van Helsing das telas, o não menos inesquecível Peter Cushing. Emblemática é a cena em que Drácula ataca a heroína Mina (Melissa Stribling). Ela tem medo dele, mas não o afasta… E essa cena simboliza a relação do público com o mito do vampiro desde que o cinema nasceu.

Os Vampiros Amantes (1970)

Aqui, o contraponto. Quase sempre, em filmes de vampiro, vemos sanguessugas homens seduzindo vítimas mulheres. Neste filme, que deu origem a uma trilogia, a principal ameaça à moral inglesa é a vampira Carmilla (Ou seria Mircalla? Um dos prazeres do filme é acompanhar a troca de nomes da personagem), que chega trazendo a morte e eventos estranhos a uma aldeia. O maior interesse dela são mesmo os pescoços femininos, num filme ousado que chamou a atenção na época pelas cenas de teor lésbico. Peter Cushing retorna como outro matador de vampiros, mas mesmo ele é eclipsado por Ingrid Pitt no papel de Carmilla Karnstein. Ela realmente é a vampira mais sensual e irresistível do cinema.

Força Sinistra (1985)

Poucos vampiros trouxeram mais caos ao mundo do que aqueles encontrados dentro do cometa Halley (?) nesta produção deliciosamente trash do diretor Tobe Hooper, o mesmo de O Massacre da Serra Elétrica (1974) e Poltergeist (1982). Com o maior orçamento da carreira, Hopper trouxe para as telas uma visão apocalíptica de invasores que acabam atacando o mundo, vampiros que não sugam sangue, mas a força vital de suas vítimas. É um filme bizarro, estranho, com momentos de humor involuntário e um inegável aspecto cult, e por isso mesmo merece ser visto. Ah, e a vampira do espaço é a inesquecível Mathilda May, nua por quase todo o filme. A sedução vampiresca nunca foi menos sutil, e mais efetiva, do que em Força Sinistra.

Deixe Ela Entrar (2008)

Poucos filmes expõem o apelo do vampiro de forma tão crua e básica como o sueco Deixe Ela Entrar, do diretor Tomas Alfredson. No contexto em que vive, com o pai ausente e sofrendo bullying constante, o solitário garoto Oskar realmente precisa de uma amizade. E ela surge na figura da misteriosa Eli, uma menina com cheiro estranho, capaz de andar descalça na neve e que só conversa com ele à noite. Eli precisa de sangue para viver e, com o tempo, a relação entre ela e Oskar se torna ao mesmo tempo terna e aterrorizante. Não se pode escapar do apelo vampiresco aqui: Eli é outro agente do caos, mas é uma companhia eterna, uma amizade (e talvez algo mais) que nunca morrerá. É melhor do que viver sozinho num mundo frio, certo? Oskar só vai precisar tomar conta dela, trazendo-lhe um pouco de sangue de vez em quando.

MENÇÕES HONROSAS:

Drácula (1931) – Vale por Lugosi, mas só ele vale muito!

Fome de Viver (1983) – O vampirismo dos anos 1980 nunca foi mais chic.

Enraivecida na Fúria do Sexo (1977) – A interpretação de David Cronenberg para o mito do vampiro. Só ele poderia pensar num apêndice que sai da axila da protagonista e transforma os mordidos em infectados loucos.

Mortos de Fome (1999) – De novo, sem vampiros no sentido estrito do termo, mas a sede de sangue é clara e no personagem de Robert Carlyle só faltam mesmo os caninos afiados.