A classe artística do Amazonas sofreu mais um duro golpe nesta quinta-feira (13): a morte do artista plástico e diretor de arte Óscar Ramos. Aos 80 anos, ele não resistiu a um acidente vascular cerebral (AVC) e faleceu no Hospital Beneficente Portuguesa.
O Cine Set homenageia Óscar Ramos com cinco fatos importantes e curiosos ligados ao audiovisual de um dos maiores artistas da história do Amazonas:
1. Juventude no Cine Éden
Nascido em Itacoatiara em 1938, Óscar Ramos veio para Manaus aos oito anos de idade, após o fim da Segunda Guerra Mundial. O pai dele, Oscar Antunes Ramos, junto com Aníbal Augusto Ramos, abriram o Cine Éden, cinema de rua localizado na rua Jonatas Pedrosa, no Centro da cidade.
A sala tinha capacidade para mil lugares e, nela, Óscar Ramos assistiu aos primeiros filmes. Dois deles chamaram a atenção do garoto: a aventura “Ladrão de Bagdá”, dirigida pelo trio Ludwig Berger, Michael Powell e Tim Whelan, e o drama de guerra “Beau Geste”, protagonizado por Gary Cooper. Porém, segundo Óscar, foi “Tensão em Shangai” o primeiro filme que, de fato, assistiu com outros olhares. “Era um mundo estranho e fascinante que eu nunca vira e me deixava muito consciente desse fato”, declarou.
O Éden, porém, era longe dos principais cinemas – Avenida, Polytheama, Odeon, Guarany – e o baixo público fez a família de Óscar passar por momentos difíceis. Em 1948, o espaço acabou sendo vendido para a empresa J. Fontenelle & Cia, mas, isso não impediu o futuro artista a se encantar com o mundo do cinema.
2. O curioso encontro com Silvino Santos
Silvino Santos entrou para a história como o pioneiro do audiovisual na Amazônia. Com o suporte financeiro do comendador J.G Araújo, o português realizou obras fundamentais como “Amazonas, o Maior Rio do Mundo” (1920), “No Paiz das Amazonas” (1922) e “No Rastro do Eldorado”. O fim do ciclo da Borracha e a decadência econômica do Estado levaram ao fim das produções e Silvino caiu no ostracismo.
Nestes encontros da vida, o Cine Éden ficava ao lado da casa de Silvino Santos. Óscar Ramos tinha amizade com o neto do português, Hindemburgo. E quis o destino que o encontro entre Silvino e Óscar acontecesse como relatado na biografia “Maya”:
Tempos depois, em 1969 no I Festival Norte de Cinema Brasileiro, Silvino Santos seria resgatado historicamente pela geração cineclubista formada por nomes como Joaquim Marinho, Cosme Alves Neto, Ivens Lima, José Gaspar, entre outros.
3. Do Experimental ao Blockbuster de Hollywood
Poderia falar dos trabalhos de Óscar Ramos em parceria com nomes fundamentais da MPB como Caetano Veloso, Maria Bethânia, João Bosco, Gilberto Gil e da literatura nacional como Anne Rice e Mário Faustino.
Também poderia citar a importância dele para as artes plásticas e o diálogo com importantes figuras – Manuel Hernandez Mompó, José Jardiel, entre outros – nas viagens pela Europa. Seria suficiente para salientar a importância artística dele, sem dúvida.
Agora, a carreira de Óscar Ramos nos cinemas é impressionante: ao todo, foram 17 longas-metragens. Trabalhou com diretores do porte de Júlio Bressane, Ivan Cardoso, Antonio Calmon, Marcos Vinícius César, Mauro Lima, Tânia Lamarca, Thierry Ragobert e Lucho Llosa. Foi do cinema experimental brasileiro ao blockbuster de Hollywood sempre com o talento e a sensibilidade que carregava.
Nos últimos anos, Óscar Ramos chegou a trabalhar em produções amazonenses, entre elas, “Perdido”, de Zeudi Souza. Em entrevista ao jornal Em Tempo, em agosto de 2018, o realizador audiovisual local destacou a importância do diretor de arte:
Confira abaixo a filmografia de longas:
“O Gigante da América” (1978)
“A Mulher Sensual” (1981)
“O Segredo da Múmia” (1982)
“Menino do Rio” (1982)
“Além da Paixão” (1985)
“Os Bons Tempos Voltaram: Vamos Gozar Outra Vez” (1985)
“As Sete Vampiras” (1987)
“A História d´o” (1988)
“Prisioneiro do Rio” (1989)
“O Escorpião Escarlate” (1990)
“Anaconda” (1997)
“Tainá” (2001)
“Tainá 2” (2004)
“Espelho d´água – Uma Viagem no Rio São Francisco” (2004)
“O Ensaio” (2010-2011)
“Amazônia – O Planeta Verde” (2012)
“Antes o Tempo Não Acabava” (2017)
4. Prêmios e Reconhecimento Nacional
Óscar Ramos é, sem dúvida, um dos profissionais mais premiados da cultura amazonense. No audiovisual, o artista plástico faturou prêmios em dois dos maiores festivais de cinema do Brasil: Gramado e Brasília.
Por “O Segredo da Múmia”, mistura de suspense com comédia dirigido por Ivan Cardoso, Óscar Ramos ganhou o primeiro Candango em Brasília e recebeu o prêmio da conceituada Associação de Críticos de São Paulo, em 1982.
Cinco anos depois, com “As Sete Vampiras”, nova parceria com Ivan Cardoso, veio o segundo Candango e o primeiro Kikito em Gramado. Em 1990, pelo trabalho em “O Escorpião Escarlate”, ele repetiu a dose, sendo ainda premiado no Festival de Natal.
5. ‘Não Sou Amante do Cinema, Sou Amante do Filme’
Por fim, deixo trechos do próprio Óscar falando sobre sua paixão pelo cinema expostos na biografia “Maya”: