Era 23 de outubro de 2017 quando Leandra Leal esteve no Casarão de Ideias para lançar o documentário “Divinas Divas” na primeira sessão do então novo cinema de rua de Manaus. Passados quase seis anos, a sala do centro cultural localizado na Rua Barroso se tornou um grande parceiro do cinema brasileiro, exibindo praticamente todos os lançamentos do circuito comercial do país.

Para efeito de comparação, o drama gaúcho “O Acidente”, de Bruno Carboni, teve apenas uma sessão diária, às 13h, em toda São Paulo na semana de estreia, enquanto o Casarão reservou exibições em horários de bom acesso ao público – 17h40 (sábado) e 19h30 (domingo)

Agora, esta dedicação à produção nacional será reconhecida em grande estilo: a Expocine, maior convenção do mercado cinematográfico da América Latina, escolheu o Cine Casarão como o homenageado na categoria de exibidor do ano. A premiação será entregue em São Paulo entre os dias 3 e 6 de outubro, data em que o evento acontece. Além do Casarão de Ideias, as distribuidoras Diamond Filmes, H2O Filmes e a O2 Play e a Casa de Cinema de Porto Alegre também vão receber a honraria.

PÚBLICO FIEL

Em entrevista exclusiva ao Cine Set, João Fernandes, diretor do Casarão de Ideias, revelou que o CEO da TONKS e idealizador da Expocine, Marcelo J. L. Lima, entrou em contato informando que o Casarão de Ideias seria homenageado como exibidor do ano.

“Para a gente, é muito importante, pois, dá notoriedade em um evento feito por quem faz cinema. Mesmo com uma única sala, batemos de frente com complexos maiores na exibição de filmes brasileiros. Hoje, todas as distribuidoras nos conhecem e nos procuram para lançar suas obras – isso mesmo sem ter DCP (Digital Cinema Package – tecnologia de padronização dos formatos digitais para a distribuição e a exibição de filmes em todo o mundo) e com horários limitados. Fazemos questões de exibir todo mundo mesmo que em uma, duas sessões”, declarou.

Desde a inauguração, o Cine Casarão já exibiu mais de 500 filmes, sendo 340 somente brasileiros. “Bacurau“, “Noites Alienígenas“, “O Rio do Desejo“, “Medida Provisória” e “Ex-Pajé” são os maiores sucessos nacionais, enquanto o sul-coreano e vencedor do Oscar 2020, “Parasita” rendeu o maior público entre os internacionais.

“No cinema, há muitas variantes: há quem goste do diretor, da atriz, da histórias. Há casos em que apostamos e não rende, enquanto há filmes que não imaginávamos e vira uma surpresa. De qualquer modo, temos um público fiel: muita gente está aqui de 15 em 15 dias, sempre que trocam os filmes”, destacou João, salientando ainda as exibições gratuitas, sempre lotadas, com curadoria de Evie Mota, colaboradora do centro cultural.

“A Expocine tem dado premiação para os exibidores, produtores e distribuidores desde 2017, e nós tentamos fazer sempre uma alternância entre as regiões. Os prêmios já foram entregues para regiões do Nordeste, como a Paraíba, do Sul, com Curitiba, aqui no Sudeste, no eixo RJ-SP, mas não havíamos ainda explorado o Norte para mostrar toda a força do mercado exibição que há na região, que enfrenta vários desafios, desde logística até mesmo a questão de formação de público. Isso se destaca ainda mais sendo um cinema de rua, como é o caso do Cine Casarão, que tenta levar cinema de arte para todos”, declarou Marcelo J. L. Lima.

ACESSIBILIDADE E NOVA SALA: O FUTURO DO CINEMA DO CASARÃO

Todo este grande desempenho nos últimos seis anos deve ganhar impulso maior em um futuro breve. Com o festival de cinema de rua marcado para outubro, o Casarão de Ideias se prepara para os editais da Lei Paulo Gustavo mirando transformar o espaço em um local ainda mais acessível e com uma programação mais robusta.

De acordo com João, o Cine Casarão irá inicialmente focar na questão da acessibilidade. “Já pedimos orçamento para adaptação das nossas escadas para acesso de cadeirantes. Também vamos pensar na audiodescrição dentro da própria sala com fones”, declarou, salientando que os banheiros serão reformados visando justamente estas mudanças. A modernização da sala está no horizonte com a instalação do DCP, o que facilitaria a chegada de mais filmes, incluindo, produções do Oscar e festivais como o Varilux e o 8 1/2 Festa do Cinema Italiano, além de fazer a acústica da sala e a digitalização dos letreiros com os trailers e informações dos filmes

A mais ambiciosa das propostas, porém, inclui uma nova sala de cinema no prédio ao lado do atual centro cultural. “A ideia é que ela seja altamente tecnológica com tudo o que as salas de shoppings possuem em termos de qualidade de áudio e vídeo, além do conforto. Isso possibilitaria trabalharmos com os blockbusters simultanemante com as produções que já fazemos hoje. Teremos condições de exibir até 24 sessões por semana, o dobro do que fazemos hoje de quarta a domingo. Acredito que este investimento irá gerar uma fruição grande capaz de se retroalimentar para viver sem verba pública. A lei não é para resolver a vida, mas, sim ajudando a construir caminhos sólidos”, declarou João.