Dirigido por Luiz Villaça, “45 do Segundo Tempo” apresenta a história de três amigos de infância que se reencontram após décadas separados. Cada um seguiu caminhos bem distintos, mas, em comum, passam por momentos de dificuldade. Pedro (Tony Ramos) luta contra a falência financeira que ameaça seu restaurante, herança da família de descendência italiana. Ivan (Cássio Gabus Mendes) se tornou um advogado de sucesso, mas um pai e marido ausente. Já Mariano (Ary França) virou padre e passa por um momento de crise reflexiva.

A obra explora as formas de lidar com a passagem do tempo e o caminho bifurcado entre seguir em frente ou buscar no passado um refúgio sadio às intempéries do presente. A boa dinâmica do elenco permite criar momentos cômicos mesmo relacionados a cenas mais dramáticas.

Há uma carga sentimental e até pessimista bem forte em “45 do Segundo Tempo”. A proximidade com a morte é um dos temas recorrentes, tratado com bastante firmeza. A direção de Villaça busca não se afugentar do tema em detrimento ao humor, e sim sempre apostar no bom balanço entre as duas coisas.

 FLUIDEZ GRAÇAS AO ELENCO

O personagem de Tony Ramos, sem dúvidas, assume o protagonismo. Sempre elétrico, seu ítalo paulista busca sentido em um mundo que já não lhe é familiar. Sem cônjuge ou filhos, tem em sua cadela Calabresa e no restaurante as únicas fontes de afeto. É na construção desse universo de cuidado de cada personagem que o roteiro se desdobra. A obra foi escrita por Luna Grimberg, Leonardo Moreira, Rafael Gomes e Luiz Villaça.

Cada um dos três personagens possui sua rede de apoio e encontra-se em conflito com ela. A dinâmica entre o elenco permite que cada arco se desenvolva com fluidez, invadindo de forma bem-vinda as histórias particulares e que no fim se interligam.

A fotografia de Alexandre Ermel constrói diferentes tons para os cenários das obras a fim de estabelecer a conexão dos personagens com aqueles ambientes. O restaurante de Pedro, por exemplo, é bem mais caloroso, convidativo, mesmo que o homem esteja à beira da falência. Esse mesmo tom está na pequena cidade de Areado, onde os protagonistas buscam se exilar. Já os outros ambientes de São Paulo, onde a maior parte da obra se passa, são construídos de forma mais fria, quase melancólica.

Embora a história caminhe por certas obviedades, a composição é feita de forma bem segura, apostando naquilo que possui de melhor, seus atores, e permitindo aos mesmos guiem a narrativa. Mesmo que não possua a força suficiente para bancar reflexões mais complexas sobre o envelhecer, “45 do Segundo Tempo” satisfaz ao abarcar seus neuróticos personagens de forma singela em meio ao humor.