“A Mãe”, dirigido por Cristiano Burlan, “A Viagem de Pedro”, de Laís Bodanzky, “Carvão”, de Carolina Markowicz, “Marte Um”, de Gabriel Martins, “Pacificado”, de Paxton Winters, e “Paloma”, do Marcelo Gomes. 

Estes são os seis filmes anunciados pela Academia Brasileira de Cinema a continuar na disputa pela vaga do país rumo ao Oscar 2023. Ao todo, 28 produções se inscreveram e foram habilitadas. 

A seleção foi definida por uma comissão formada por 18 importantes nomes ligados ao cinema no Brasil, entre eles, Jeferson De, Marcelo Serrado, Patrícia Pillar, Petra Costa, Waldemar Dalenogare e Zelito Viana. O grupo era presidido pela Bárbara Cariry. 

Com o anúncio do escolhido programado para o próximo dia 5 de setembro, hora de falar sobre os pontos fortes e fracos de cada um dos candidatos para saber quem são os favoritos e azarões pela vaga brasileira rumo ao Oscar. 

A MÃE 

“A Mãe” é o novo filme do diretor Cristiano Burlan. A produção mostra a história de uma mãe que inicia uma busca pelo paradeiro do filho, sumido após uma operação policial em uma comunidade na cidade de São Paulo. 

A violência urbana e, em especial, da polícia paulistana permeia a vida e a obra do Cristiano. Ele comandou os excelentes documentários “Mataram Meu Irmão” e “Elegia de um Crime”, abordando o impacto da perda do próprio irmão. 

O novo filme tem dois fatores como pontos fortes para a disputa da vaga no Oscar: o primeiro é a Marcélia Cartaxo como protagonista e que vive uma grande fase na carreira; ela venceu o prêmio de Melhor Atriz em Gramado novamente três anos após a consagração por “Pacarrete”. Cartaxo, para quem não lembra, ganhou o prêmio de Melhor Atriz no Festival de Berlim com “A Hora da Estrela” nos anos 1980. 

O segundo é a universalidade da história de uma mãe em busca do filho trazendo o público para conhecer a triste realidade da violência brasileira e o jogo de poder nas comunidades periféricas. 

Por outro lado, “A Mãe” não circulou tanto ao redor do planeta – a maior conquista foi no Festival de Málaga ao ganhar Atriz Coadjuvante com Débora Maria da Silva, em março. Esta ausência em grandes eventos da temporada de premiações como Veneza e Toronto pode prejudicar as chances do filme de ir mais longe no Oscar. 

CHANCES: Azarão

PALOMA 

Dirigido por Marcelo Gomes, “Paloma” acompanha a história da personagem-título vivido por Kika Sena. Ela, uma mulher trans agricultora, deseja se casar com o namorado na igreja. Porém, a sociedade conservadora e o próprio padre do local irão se opor aos planos. 

“Paloma” pode ser beneficiar pela temática LGBTQIA+ sempre forte no cinema mundial ancorada pela atuação bastante elogiada de Kika Sena. Neste aspecto, dá para fazer um paralelo com o chileno e oscarizado “Uma Mulher Fantástica” estrelado por Daniela Vega. A produção já tem distribuição internacional com a Memento Films, empresa que trabalhou com obras como “Me Chame Pelo Seu Nome”, “A Separação” e “Sono de Inverno”. 

Porém, igual “A Mãe”, “Paloma” ainda tem, até o momento, uma repercussão tímida fora do Brasil – o lançamento aconteceu no Festival de Munique e já está confirmado nos festivais de Huelva e Londres, muito pouco para disputar contra pesos-pesados da categoria.  

Também há o fator histórico de ser raro repetições de diretores nos escolhidos pelo Brasil: a última vez aconteceu com Fábio Barreto com “Lula – O Filho do Brasil” e que já havia disputado por “O Quatrilho”. De lá para cá, sempre houve rotatividade; Marcelo Gomes foi o representante do país com “Cinema, Aspirinas e Urubus”. 

CHANCES: Azarão

PACIFICADO 

Rodado no Morro dos Prazeres, no Rio de Janeiro, “Pacificado” mostra a relação conturbada entre uma garota de 13 anos com o pai, ex-traficante que acaba de sair da cadeia e se vê tentado a voltar ao crime. As Olimpíadas de 2016 são o pano de fundo da trama. 

Inevitável olhar para “Pacificado” e não pensar naquela série de filmes sobre violência urbana que o Brasil mandou para o Oscar nos anos 2000 após o fenômeno “Cidade de Deus”. A saturação deste tipo de produção pode jogar contra as chances do filme ir mais longe na Academia. 

Pode atrapalhar também o fato do diretor Paxton Winters não ser brasileiro: o paralelo mais próximo seria do Hector Babenco que nasceu na Argentina, mas, se naturalizou nos anos 1970. Difícil saber se seria bem aceito a escolha de um filme dirigido por um norte-americano como representante do Brasil. Este fator pode pesar. 

“Pacificado”, porém, teve grande circulação em festivais nacionais e internacionais – ganhou San Sebástian nas categorias de Melhor Filme, Ator e Fotografia, além do júri popular da Mostra de São Paulo. Passou também pela Espanha, Cuba, Polônia no Camerimage e em Miami. 

O padrinho do filme nos EUA também é forte: diretor de “Cisne Negro” e “mãe!”, Darren Aronofsky é produtor-executivo de “Pacificado”. O apoio dele pode ser ideal para abrir portas no mercado norte-americano.  

CHANCES: Pequenas

A VIAGEM DE PEDRO 

Estrelado pelo Cauã Reymond, “A Viagem de Pedro” acompanha os dilemas de Dom Pedro I no retorno a Portugal em 1831. A desconstrução da figura histórica é o foco do drama de época. 

Perto dos demais candidatos, “A Viagem de Pedro” é a superprodução entre os concorrentes. Tem o maior orçamento, o astro mais conhecido entre os protagonistas, além de produtoras de peso como a Globo Filmes, Biônica e Som e Fúria, de Portugal.  

Tem ainda a favor a proximidade da data de 200 anos da independência do Brasil e ser comandado pela Laís Bodanzky, diretora que já bateu na trave na busca por esta vaga no Oscar com “Bicho de Sete Cabeças” e “Como Nossos Pais”. Por fim, traz o tradicionalismo dos dramas de época tocando em aspectos atuais. 

Por outro lado, sejamos honestos: é uma história que Hollywood dificilmente compraria diante de candidatos mais pops e universais. Isso fica claro quando notamos como “A Viagem de Pedro” passou longe de explodir nos principais festivais ao redor do planeta. Nem mesmo no Brasil a crítica morreu de amores pelo longa desde as exibições na Mostra de SP e no Festival do Rio em 2021.  

Pode até ser o escolhido, mas, não vejo indo muito longe no Oscar. 

CHANCES: Médias

CARVÃO 

Longa de estreia de Carolina Markowicz, “Carvão” mostra uma família que recebe a proposta rentável de hospedar um desconhecido. A situação, porém, se complica com o passar do tempo e coloca todos em risco. 

Dos seis filmes, “Carvão” é, talvez, o mais desconhecido, aquele que até então pouco se ouvira falar. Mas, isso não significa que a produção estava parada: o longa conseguiu ser selecionado para os festivais de Toronto e San Sebástian, além de já ter a Urban Sales como representante internacional, empresa que promoveu filmes brasileiros como “As Boas Maneiras” e “Três Verões”. 

Para completar, a Carolina Markowicz também pode aproveitar o bom relacionamento dentro da Academia, afinal, ela é integrante da entidade desde 2021.   

Resta saber se a Carolina conseguirá no filme de estreia ser a representante brasileira. Daniel Rezende com “Bingo” e a Bárbara Paz com “Babenco” conseguiram este feito recentemente, porém, o primeiro já havia sido indicado ao Oscar como montador por “Cidade de Deus” e a segunda, além de abordar um dos mestres do cinema brasileiro, tinha conquistado o prêmio de Melhor Documentário em Veneza. 

De qualquer modo, chega com boas chances, mas, o favoritismo não tem. 

CHANCES: Altas

MARTE UM 

“Marte Um” acompanha a história de uma família mineira com seus sonhos e desilusões. Temos uma mãe assombrada pelo temor da morte, o pai porteiro de um prédio com o desejo de ver o filho caçula se tornar craque do Cruzeiro. Porém, o sonho do garoto é ir para Marte, enquanto a irmã começa se envolver com uma mulher. 

O filme tem uma história universal familiar com uma criança de protagonista e uma pitada de realismo mágico tão conhecido da América Latina, capaz de encantar plateias do mundo inteiro. Não à toa foi muito bem recebido em Sundance, onde foi lançado, e obteve prêmios em San Francisco e Los Angeles, além de quatro Kikitos em Gramado neste ano.  

“Marte Um” já tem representação nos EUA da Magnólia Pictures, algo fundamental para ter uma campanha minimamente digna rumo ao Oscar. E a escolha do filme pode ser uma forma de prestigiar o excelente cinema mineiro a partir da Filmes de Plástico. 

CHANCES: Favorito