Vem à mente neste momento Machado de Assis: no prólogo de seu “Várias Histórias”, o Bruxo do Cosme Velho escreveu, em tom apologético, que, ao menos, seus contos tinham uma virtude: são curtos. 

Em se tratando de um média-metragem, poderíamos pensar que a máxima machadiana se aplica “A Estratégia da Fome”. Mas, mesmo com pouco menos de 40 minutos de duração, o filme parece longo, arrastado. É que, incapaz de criar uma imagem original, a obra descamba para o pastiche – mesmo que não pareça ter muita ideia de para onde apontar seu deboche. 

Ciclo da reciclagem

Pois bem: começamos o filme num lixão. Um garoto acha um teco-teco, aquele brinquedo de bater, em meio à carniça e aos urubus. Ouvimos, de fora do quadro, o choro de uma mulher, sua mãe. Um whip pan (ou chicote) na direção da mulher, e vemos que ela leva uma arma à cabeça. Whip pan de volta ao garoto, e ouvimos o som de um tiro. O garoto continua com o teco-teco e dispara, em inglês macarrônico: “Don’t worry, baby, it’s gonna be alright”. E a trilha sonora alterna entre o pop ensolarado e a dissonância à la Penderecki. 

Fica clara, então, a estratégia deste “A Estratégia da Fome”: uma aposta no histrionismo, com um toque de afetações formais requentadas – como os chicotes à moda Scorsese, PTA etc. Ou seja: receita pronta para a irritação do espectador. 

“A Estratégia da Fome” tenta emular o tom anárquico de um Sganzerla, um Julinho Bressane ou Neville D’Almeida. Há aqui, por exemplo, um flerte com um certo grotesco, uma estrutura quase que de esquetes independentes e o diálogo debochado com o mundo pop – como na cena excruciantemente tola e sem graça em que uma mulher canta “Meu País” desafinada. 

De barriga vazia

Em um filme que toma a fome como (suposto) ponto de partida estético, a opção por uma abordagem antropofágica faz sentido, até. Só que o diretor Walter Fernandes Jr. não sabe o que fazer com todo esse arsenal. Há um ar de Belair a Candeias e afins, mas sempre de uma distância segura. Todo o ataque estético dos assim chamados marginais do nosso cinema se transforma em mera afetação formal. 

O resultado é menos um filme e mais um demo reel. Na melhor das hipóteses, as imagens que ele cria são óbvias e, na pior, presunçosas.