Caio Pimenta analisa as indicações ao Spirit Awards e como impacta na corrida rumo ao Oscar 2023.

MELHOR FILME DE ESTREIA 

A categoria para diretores estreantes chega com um queridinho do momento. 

“Aftersun”, da Charlotte Wells, está ao lado do elogiado “Emily the Criminal”, do John Patton Ford, “The Inspection”, dirigido pelo Elegance Bratton, “Palm Trees and Power Lines”, do Jamie Dack, e “Murina”, da Antoneta Alamat Kusijanović com produção do brasileiro Rodrigo Teixeira. 

É chover no molhado apontar o favoritismo de “Aftersun” aqui na categoria – aliás, aqui, talvez seja a maior chance de vitória de longe da produção no Spirit. Mais importante, entretanto, é notar como o filme está em uma curva ascendente.  

Há quem diga, inclusive, que ele possa ser uma ameaça a “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo” na preferência da A24, o que considero um exagero. Mas, o hype pode levar a nomeações até então inesperadas para “Aftersun”. 

MELHOR ROTEIRO

O prêmio de roteiro estreante surpreende ao trazer o terror “Morte, Morte, Morte” entre os finalistas. Os demais são esperados: “Emergência”, “Palm Trees and Power Lines”, “Emily the Criminal” e “Fire Island”. 

Já em roteiro, temos “TÁR”, “Women Talking”, “Catherine Called Birdy”, “After Yang” e “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo”. 

Para os estreantes, vejo “Emily the Criminal” ligeiramente na frente por ser o mais elogiado dos cinco finalistas, mas, é uma categoria sem grandes favoritos. Quanto à disputa principal, eis um equilíbrio que não é tão raro em temporada de premiações, pois, são três candidatos fortíssimos. 

“Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo” traz uma história completamente pirada, com referências à cultura pop, tudo bem encaixado dentro de uma trama familiar. É aquela originalidade tão cobrada e escassa em Hollywood. Já “TÁR” e “Women Talking” trazem nomes consagrados e queridos da indústria em grandes trabalhos como são os casos do Todd Field e Sarah Polley. 

Caso o Spirit deseje dar uma compensada, os Daniels podem sair premiados aqui e abrir espaço em Melhor Filme e Direção para os rivais. Por outro lado, “Women Talking” já irá receber o prestigiado prêmio Robert Altman, voltado para o elenco, logo, a Sarah Polley pode já estar prestigiada. Minha aposta fica para o longa da A24 aqui. 

MELHOR ATUAÇÃO REVELAÇÃO

O domínio da A24 segue forte no prêmio de Melhor Atuação Revelação. 

O estúdio aparece com Frankie Corio, de “Aftersun”, Stephanie Hsu, por “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo”, e Daniel Zolghardi, de “Funny Pages”. Os intrusos ficam por conta da croata Gracija Filipovic, de “Murina”, e da Lily McInery, de “Palm Trees and Power Lines”. 

A lógica aponta que a Stephanie Hsu seja a favorita até por conta da importância do papel dela em “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo” e da parceria com a Michelle Yeoh. O duelo mãe e filha convence pela total química das duas.  

Agora, a Corio é uma tentação para os votantes com toda a fofura e ter uma sintonia fina com o Paul Mescal. Se ela vencer, demonstra definitivamente como “Aftersun” está em alta. 

ATUAÇÃO COADJUVANTE 

Igual o Gotham Awards, os prêmios de atuação eliminaram a questão de gênero, colocando todo mundo na mesma categoria. Com isso, temos 10 indicados ao prêmio de coadjuvante do ano. 

Concorrem a Jamie Lee Curtis e Ke Huy Quan, de “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo”, Brian Tyree Henry, por “Causeway”, Nina Hoss, por “TÁR”, Brian D´Arcy James, de “The Cathedral”, Trevante Rhodes, por “Bruiser”, Theo Rossi, de “Emily the Criminal”, Mark Rylance, por “Bones and All”, Jonathan Tuckler, de “Palm Trees and Power Lines”, e Gabrielle Union, por “The Inspection”. 

A lista se assemelha demais ao Gotham: para você ter uma ideia, metade da lista se repete. Desta turma, garantidos no Oscar, vejo o Ke Huy Quan e a Nina Hoss. Gabrielle Union e Brian Tyree Henry são nomes cada vez mais lembrados mesmo em filmes de segundo pelotão na temporada. E o Mark Rylance é aquele ator que todo mundo ama e não o esquece. 

A grande novidade fica por conta da Jamie Lee Curtis: surpreendeu ter ficado de fora do Gotham, logo, é bom tê-la de volta aqui. Se o parceiro dela em “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo” sai na frente para levar a estatueta do Spirit, a eterna rainha do grito retorna para chegar forte ao Oscar.  

MELHOR ATUAÇÃO PRINCIPAL 

O prêmio de atuação principal contou com uma das grandes surpresas do Spirit: a ausência do Brendan Fraser, por “The Whale”. O drama do Darren Aronofsky, aliás, ficou de fora de todas as categorias. Vide o histórico em relação aos homens, esta ausência pouco deve afetar as chances do astro que segue como favorito ao Oscar de Melhor Ator. 

A Danielle Deadwyler também foi esnobada e, diferente do Fraser, a ausência pode atrapalhar, afinal, qualquer conquista na acirrada categoria de Melhor Atriz é fundamental. Isso fica ainda mais necessário pelo fato de “Till” não estar tão cotado para as demais categorias do Oscar. Sinal amarelo para ela. 

Já entre os indicados, a disputa deve ser concentrada entre as mulheres. 

Cate Blanchett, por “Tár”, Michelle Yeoh, de “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo”, são as favoritas, enquanto o Paul Mescal, por “Aftersun”, e a Taylor Russell, de “Até os Ossos”, corre por fora. Completam o time Dale Dickey, de “A Love Song”, Regina Hall, por “Honk for Jesus. Save Your Soul”, Mia Goth, por “Pearl”, Aubrey Plaza, de “Emily the Criminal”, Jeremy Pope, por “The Inspection”, Andrea Riseborough, de “To Leslie”. 

Para além do óbvio do duelo Blanchett e Yeoh, vale ficar atento ao Paul Mescal: vejo o astro de “Aftersun” em um momento tão bom que, hoje, o considero à frente do Hugh Jackman e Tom Cruise.  

Já a Taylor Russell pode ser a surpresa de Melhor Atriz; a questão é superar tantas rivais pesos-pesados para chegar nas finalistas.  Por fim, muito bom ver a Mia Goth e a Aubrey Plaza com dois ótimos trabalhos sendo lembradas aqui. Merecem demais. 

MELHOR DIREÇÃO 

O Spirit Awards de Melhor Direção traz o Todd Field, por “TÁR”, Kogonada, de “After Yang”, os Daniels, por “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo”, Sarah Polley, de “Women Talking”, e Halina Reijn, de “Morte, Morte, Morte”. 

Definitivamente, a Halina é a grande surpresa da lista. Totalmente inesperado e, por isso mesmo, sem a menor chance de vitória. 

Já os demais indicados eram para lá de esperados ainda que o Luca Guadagnino pudesse ter entrado também. Caso o Spirit queira contemporizar, aqui, o prêmio pode ficar com o Todd Field se os Daniels levarem Roteiro. Agora, também pode acontecer de uma consagração retumbante a “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo” e a A24 ter mais uma vitória aqui também.  

Outra possibilidade é o Spirit seguir prestigiando as mulheres vide os dois últimos anos quando a Chloé Zhao e a Maggie Gyllenhaal foram as vencedoras. A Sarah Polley pode se juntar a elas.  

MELHOR FILME 

O prêmio máximo do Spirit Awards está aberto para quatro possibilidades. 

Correndo bem por fora aparece “Até os Ossos”: o road movie de terror da MGM/United Artists chega credenciado com dois prêmios em Veneza e o hype da dobradinha Chamalet e Guadagnino. A estranheza do longa, entretanto, pode criar resistências.  

Já “Women Talking” vai ter que desafiar o histórico da premiação: somente “Spotlight” e “Moonlight” conseguiram vencer o prêmio Robert Altman e Melhor Filme. A tendência é a o Spirit prestigiar outra produção na categoria. Porém, se o drama com a Claire Foy for vencedor, pode chegar favorito ao Oscar 2023. 

“TÁR” é o longa mais elogiado entre os cinco e se torna unanimidade por onde passa, pelo menos, dentro da indústria e da crítica. Seria uma forma de prestigiar a dupla Todd Field e Cate Blanchett. 

Porém, se o Spirit resolver cair nas graças do público, não há outra opção que não seja “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo”. Também seria uma forma de prestigiar a representatividade asiática na indústria e uma demonstração de que novas ideias a uma indústria tão desgastada por sequências e repetições de fórmulas batidas é mais do que bem-vinda. 

Se tivesse que apostar hoje, acredito na vitória de “TÁR”. Para o Oscar 2023, vejo estes três últimos como nomes certos a Melhor Filme, enquanto “Até os Ossos” lutará pela última das 10 vagas.  

O intruso da lista do Spirit dando o ar da graça entre os finalistas de Melhor Filme é “Our Father, the Devil”.