Pode-se dizer sem pestanejar que Martin Scorsese seja o maior diretor vivo do cinema dos EUA. Na história, está ao lado de D.W Griffith e John Ford como os maiores de todos os tempos.
As obras de Scorsese são fundamentais para entender a criação, formação e as identidades da maior potência mundial do século XX.
No Oscar, foram nove indicações, mas, somente uma vitória: aconteceu em 2007 com “Os Infiltrados”.
Chegou a hora de ranquear estas indicações e, claro, citar a maior esnobada da Academia.
9. OS INFILTRADOS
Cruel dizer que a indicação mais fraca do Scorsese ao Oscar veio justamente pela produção que ele ganhou a estatueta, mas, foi justamente o que aconteceu.
Em “Os Infiltrados”, o diretor conta com um superelenco na melhor forma – especialmente, Mark Wahlberg e Leonardo DiCaprio – em um policial de gato e rato com reviravoltas para todos os lados e muito rock n´roll.
Ainda assim, perto daquilo que já produziu ao longa da carreira, trata-se um Scorsese de patamar inferior.
8. GANGUES DE NOVA YORK
Em 2003, o Scorsese chegou cotado para vencer o prêmio por “Gangues de Nova York”, porém, o drama épico sucumbiu à força de “Chicago” e “O Pianista”.
Apesar de faltar ritmo no meio da trama e do foco difuso do roteiro, o Scorsese traz um espetáculo visual deslumbrante na recriação da Nova York do século XIX.
Além disso, diferente de “Os Infiltrados”, “Gangues” oferece duas sequências primorosas – as batalhas do início e do final do filme.
O Oscar de Direção ficou nas mãos do Roman Polanski, de “O Pianista”, uma das maiores obras-primas do polêmico polonês.
7. O AVIADOR
Muito do que elogiei da direção do Scorsese em “Gangues de Nova York” dá para replicar aqui.
“O Aviador” é o longa mais exuberante da extensa filmografia do diretor; um espetáculo da direção de arte aos figurinos até a condução de grandes momentos.
Por ser uma obra mais bem definida que “Gangues”, fica nesta sétima posição.
6. A INVENÇÃO DE HUGO CABRET
O 3D virou um recurso caça-níquel na década passada nos cinemas mundiais: quantos filmes não fizeram conversões de quinta categoria para faturarem um pouco mais nas bilheterias?
Raras foram as produções que conseguiram usar este recurso e a melhor delas foi “A Invenção de Hugo Cabret”.
Nada é gratuito no 3D da aventura ao explorar as potencialidades deste recurso na profundidade de campo e a serviço da história.
Para completar, realiza uma homenagem que só ele poderia fazer a outro mestre do cinema, o mago George Méliès.
A Academia, infelizmente, ficou com o Michel Hazanavicius e seu bonitinho trabalho em “O Artista”, mas, longe do brilhantismo do Scorsese.
5. A ÚLTIMA TENTAÇÃO DE CRISTO
Se hoje em dia mexer com religião já dá uma confusão, imagina isso nos anos 1980? Para piorar, abordando a delicada morte e ressurreição de Jesus Cristo?
Católico de origem italiana, o Scorsese mexeu neste vespeiro e foi indicado ao Oscar em 1989.
O diretor no excelente “A Última Tentação de Cristo” cria um filme intimista e reflexivo em uma experiência nova sobre os dilemas e dramas da figura bíblica.
A reta final traz um dos momentos mais corajosos da carreira do diretor.
A indicação no Oscar de 1989 foi a única de “A Última Tentação de Cristo” naquela edição. Perdeu para o Barry Levinson, de “Rain Man”, sintetizando bem o que foi os anos 80 na Academia.
4. O IRLANDÊS
A mais recente indicação do diretor veio na edição de 2020.
“O Irlandês” é um Scorsese reflexivo sobre a violência da máfia e as marcas dela em seus participantes.
Para tanto, o diretor vai na contramão da rapidez da era do Twitter para abordar uma história transcorrendo sobre pontos fundamentais da história recente dos EUA ao longo de cinco décadas.
Obra-prima.
Só não dá para ficar chateado por ter sido mais uma derrota porque o vitorioso foi o Bong Joon-Ho, de “Parasita”.
3. O LOBO DE WALL STREET
Saindo de uma produção mais cadenciada para outra de ritmo completamente diferente. “O Lobo de Wall Street” abre o pódio.
Para tratar dos desvarios dos executivos milionários dos EUA, o Martin Scorsese engata uma quinta marcha com uma montagem dinâmica em sequências insanas repleto de cinismo e ironia.
Com um Leonardo DiCaprio em um de seus grandes trabalhos, o diretor cria uma comédia inesquecível.
Em 2014, ele perdeu o Oscar para o Alfonso Cuáron, de “Gravidade”.
Por um lado, é inegável a excelência técnica do mexicano com seus planos-sequências de tirar o fôlego, porém, a ousadia e força jovial do Scorsese em “Wall Street” fazia por merecer a estatueta.
2. TOURO INDOMÁVEL
Em 1981, o Martin Scorsese foi indicado a Melhor Direção por “Touro Indomável”.
A fúria da Nova Hollywood encontra o cinema clássico norte-americano nesta impactante história sobre o auge e a decadência do campeão do boxe, Jake La Motta.
Com uma direção de fotografia soberba do Michael Chapman e um elenco no seu melhor, o Scorsese realiza uma cinebiografia definitiva repleta de personalidade, potência e melancolia.
Aqui, a Academia bobeou e foi conservadora demais ao premiar o Robert Redford, por “Gente como a Gente”, em vez do Scorsese.
Um erro histórico.
1. OS BONS COMPANHEIROS
O melhor trabalho do Scorsese indicado ao Oscar veio na cerimônia de 1991.
“Os Bons Companheiros” é o filme máximo do diretor em seus dramas, suspenses sobre o universo dos gângsters.
A condução elegante da história aliada a uma montagem brilhante e um olhar ácido sobre o tema fazem do longa uma obra que influenciou por décadas diversos realizadores de filmes do gênero.
Mais uma derrota inexplicável para outro astro de Hollywood: no caso para Kevin Costner, de “Dança com Lobos”.
A MAIOR ESNOBADA
Apesar das nove indicações, o Scorsese também sofreu esnobadas feias da Academia. Foi assim com “Caminhos Perigosos”, “A Época da Inocência” e “Silêncio”.
Mas, claro, nenhuma superou o que houve em 1977.
O mestre ficou de fora de Melhor Direção pelo clássico “Taxi Driver”.
Sujo, violento e desesperançoso, o longa é um retrato do estado de espírito perturbado de uma nação em crise após a saída fracassada da Guerra do Vietnã simbolizada por um taxista mergulhado em uma espiral de violência e paranoia.
Em 1977, tivemos a primeira mulher indicada a Direção, no caso a Lina Wertmuller por “Pasqualino Sete Belezas”.
Também teve o Ingmar Bergman, de “Face a Face”, além do Alan J. Pakula, de “Todos os Homens do Presidente”, Sidney Lumet, por “Rede de Intrigas”, e o vencedor John G Avildsen, de “Rocky”.
Nenhum deles, entretanto, com um trabalho mais marcante do que o Scorsese.