“A Felicidade das Pequenas Coisas” concorre ao Oscar de melhor filme estrangeiro representando o Butão. O enredo traz o professor Ugyen Dorji (Sherhab Dorji), um jovem na casa dos vinte anos, não muito animado com a profissão e desejando se mudar para a Austrália. No entanto, ele precisa cumprir seu último ano de contrato com o governo do país, que o envia para lecionar em Lunana, uma vila muito afastada e de difícil acesso.

A obra caminha em um lugar seguro ao explorar as relações e transformações de Ugyen, tornando-se previsível em certos momentos. Embora aposte nas belas imagens proporcionadas pela natureza do local, o filme segue um ritmo bem confortável, abraçando uma estrutura de roteiro já familiar.

O jovem professor embarca em uma aventura que, de início, não lhe é agradável, encontra pelo caminho outros personagens encarregados de proporcioná-lo uma transformação, retornando ao seu ponto inicial com os conhecimentos adquiridos. Uma estrutura de jornada do herói.

EFEITOS INÓCUOS

“A Felicidade das Pequenas Coisas” busca sua singularidade a partir do retrato daquela sociedade e do choque entre o professor e a pequena vila. Vindo de uma capital populosa, apressada e hiperconectada, Ugyen é apresentado a um local extremamente isolado (a caminhada para chegar a Lunana leva 8 dias), cuja estrutura econômica se desenvolve a partir da criação de Iaques, um animal que lembra búfalos, possuindo mais pelos no corpo.

Sua interação com as crianças para quem dá aula funciona como ponto forte da obra, principalmente, a partir do carisma da pequena Pem Zam (a jovem interpreta a si mesma na obra). A direção de Pawo Choyning Dorji se aproveita dessa relação para construir uma suavidade no filme, combinada aos anseios dos pequenos alunos. Há algumas passagens belíssimas utilizando a beleza das montanhas e florestas do interior do Butão, mas o ritmo ansioso impede um olhar mais abstraído.

Essa escolha torna o outro lado da obra, mais voltada à reflexão do professor vindo da zona urbana, o choque com um estilo de vida bem diferente do seu, os valores das pessoas que moram em Lunana, inócuos. O filme trilha sua trajetória por uma segurança que o impede de atingir um lugar mais marcante.

SINGULARIDADE LONGE DE SER ALCANÇADA

A história de “redenção” do jovem professor ganha até um ar moralista, colocando-o em um lugar de puro egocentrismo e deixando de lado qualquer contradição que possa ter formado sua personalidade e seu desejo de deixar o país. Se a busca por um comentário social relacionado a forma como a vida nos grandes centros urbanos não nos permite uma conexão maior com a natureza, por qual motivo não nos permitir contemplá-la durante o filme?

As imagens, apesar de belas, compõem um quadro inexpressivo. Falta peso para “A felicidade das pequenas coisas” deixar de ser um filme bonito e se tornar um filme memorável, além de transmitir uma sensação de que a história poderia ser contada em qualquer outro contexto ou lugar.

A singularidade na forma de vida encontrada pelo professor ao chegar em Lunana não é passada ao espectador. Assim, encontramos um filme que, na ânsia de passar sua mensagem, pouco emociona.

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